quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Maternidade de Deus? - Crônica do livro "A espiritualidade da Bíblia"



Existe a mesma autoridade para chamar Deus de PAI como de MÃE
Durante o período histórico coberto pela Bíblia, a presença da mulher em lugares de destaque é muito rara. A sociedade ainda reservava à mulher o dever de cuidar da família e esta era sua vida. Na sociedade hebraica quando uma mulher ficava viúva sem ter filho homem que ajudasse no sustento da família, ela ficava fadada a viver de favores ou esmolas, posto que não lhe era facultado trabalhar para ter o sustento. O Mestre Jesus sabia dessa dura realidade social, tanto que ao chegar certa feita à cidade de Naim encontrou, na saída, um cortejo de sepultamento de um jovem que era filho único de uma viúva. Socialmente, essa mulher estava condenada pois perdera seu filho que era o arrimo da família. Sabendo dessa situação, percebeu que havia ali uma necessidade humana e foi movido pela compaixão a satisfazer essa necessidade ressuscitando o jovem (Ver Lucas 7: 11).
Por essa condição histórica e cultural a questão ‘mãe’ não aparece seguidamente no Antigo Testamento, pelo menos com destaque. Aliás, segundo o Novo Testamento, não havia nenhuma mulher entre os doze apóstolos. Foi por discriminação de Jesus? Não. O Mestre sabia o que seus discípulos iriam passar para levarem a mensagem do Cristianismo aos estrangeiros, em terras onde o preconceito feminino era muito forte, como ainda hoje se vê. Além disso, a novidade de sua mensagem (AMOR) seria, provavelmente, melhor aceita se levada por homens, homens simples da comunidade.
Nosso Mestre ensinou muitas coisas sobre Deus como PAI, sendo que a oração mais significativa de seu ministério é chamada de ‘PAI NOSSO’. Por que será que ele não menciona Deus como MÃE? Seus ouvintes ainda não eram muito ilustrados e muitas coisas lhes ensinou por parábolas, analogias. Uma ideia tão radical lançada a ouvidos destreinados poderia causar um impacto desconcertante.
Os “ouvintes de hoje”, com certeza, saberiam―ou sabem―elaborar a ideia da maternidade de Deus. Pode-se buscar no Antigo Testamento duas instâncias que corroboram a ideia proposta. Uma das instâncias está no relato da criação no primeiro capítulo do Gênesis. Diz ali: “Criou Deus, pois, o homem à Sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (1: 27). Vê-se claramente que a mulher participa da expressão das qualidades divinas, tal como o homem. Não se cometa o descalabro de uma emissora de TV que, há algum tempo, saiu às ruas para entrevistar pessoas e saber de sua opinião a respeito de ‘Deus ser mulher’. Deus não é mulher como também não é homem. Deus é Espírito!
A outra instância referida encontra-se no livro do profeta Isaías onde consta: “Como alguém a quem sua mãe consola, assim eu vos consolarei” (Isa 66: 13). Aqui o amor materno―feminino―é associado ao de Deus. Deus nos ama como nossa mãe nos ama. Constata-se, assim, que chamar Deus de PAI é tão correto como chamá-lO de MÃE. Na literatura da Ciência Cristã é muito usada a expressão PAI-MÃE-DEUS mostrando que reconhecemos na Divindade a origem das qualidades inatas de paternidade e maternidade conscientes. Eu costumo usar a conotação de Deus como Pai, sem desprezar o conceito de Deus-Mãe. Conheço senhoras que usam costumeiramente para Deus a expressão Mãe, e soa muito natural quando as ouço falar dessa maneira. Devemos nos abster, com certeza, do conceito de gênero masculino ou feminino quando nos referimos a Deus como PAI-MÃE.
O uso dessa expressão, Deus-Mãe, será cada vez mais acentuado daqui para diante como evidência da progressiva espiritualidade na consciência da humanidade e da capacidade de expressá-la em palavras.

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