Certa vez tive um sonho que, por seu desenrolar, me
pareceu um sonho filosófico. Esta é a única explicação que tenho para o mesmo. A
lembrança do sonho continua muito forte ainda hoje e, ao fechar os olhos, me
vejo em meio aos figurantes.
Estava eu junto a uma multidão de pessoas e todos
caminhavam na mesma direção. O caminho levava a um recinto grande à entrada do
qual havia dois portais, duas portas muito grandes. Numa havia a inscrição: Alegrias humanas e corporais, e na outra
Alegrias.... Não havia nenhuma
explicação sobre opções e o que se encontraria atrás das portas. Entrei pelo
portal Alegrias... que estava à minha
frente.
Por trás das portas havia uma diferença nítida e
marcante entre os dois caminhos, mas não havia nenhuma parede que impedisse de
pessoas passarem de um para outro lado. Havia amigos e parentes que trilhavam
caminhos de um e outro lado. Não havia inimizade entre eles, e o fato da
separação de lados não afetava seu relacionamento. Faziam as mesmas coisas. Iam
juntos a cinemas, refeições, igreja, aniversários, casamentos, e não obstante
estavam em caminhos diferentes. (Só mesmo num sonho!)
Ao entrar no recinto percebi lá no fundo dois
grandes cartazes, tipo “Outdoors” com inscrições que conseguia ler mas não me
interessei. Havia outras coisas para observar nas muitas e claras diferenças
nos dois caminhos. Num havia mais agito, no outro mais calma; num havia
atividades dia e noite, e no outro mais de dia; num havia ansiedades, no outro
felicidade; num havia temores, no outro amor. Num havia muito mais pessoas nos
cinemas, boates e cassinos, em compensação tinha também mais pessoas em
hospitais. Nele havia também muitas intrigas, rancores e ciumeiras.
Do lado em que eu caminhava havia um pouco mais de
luz, as ruas estavam limpas e menos ruidosas, os museus eram mais freqüentados,
as igrejas também, havia muito respeito mútuo, as pessoas eram corretas no seu
trabalho, não havia corrupção, as lojas lotéricas estavam quase sempre vazias,
quase todos mostravam afeição pela natureza, tanto de plantas como de animais.
Os dois caminhos continuavam, mas agora separados
como que por um véu. A toda hora via-se pessoas passando de um lado a outro,
sem qualquer constrangimento ou cobrança por parte das pessoas. Parecia-me que
as pessoas não se davam conta do véu “virtual”. Só mesmo em sonho! A vida
simplesmente continuava. Em certo ponto pude ver com mais clareza os dois
cartazes que havia visto logo na entrada. Percebi também que lá terminava a
separação virtual dos dois caminhos. A partir daquele ponto não havia mais
passagem; quem quisesse mudar de lado, teria que fazê-lo ali ou retornar até
ali, se por acaso tivesse passado do ponto.
Percebia-se que a partir do cartaz final um caminho
se tornava ascendente enquanto o outro continuava no mesmo nível. Quando parei
diante dos dois cartazes e li as inscrições ALEGRIAS COM DEUS e no outro ALEGRIAS HUMANAS E CORPORAIS,
acordei!
Não pude seguir tentando investigar as diferenças
dos dois caminhos.
Só me restava pensar. E foi o que fiz.
Os dois caminhos estavam aí para escolha livre de
qualquer pessoa. Parentes e amigos poderiam estar em qualquer dos lados,
aparentemente separados. A opção de um ou outro lado não impedia que
continuassem parentes ou amigos. Isso me fez concluir que esses caminhos se
delineavam na consciência. Na escala de valores humanos, morais e espirituais,
cada um estabelece suas prioridades. É livre a sua escolha, e não tem de
justificá-la a ninguém.
Entendi também que o ponto dos dois cartazes a
partir dos quais os caminhos se separavam, não significava a morte, mas sim o
momento da decisão do indivíduo qual caminho deseja seguir. A separação se faz
no pensamento da pessoa quando esta decide deixar de alegrias e prazeres
meramente humanos e voltados ao corpo. Não é que tenha que romper
drasticamente, mas na escala de valores as alegrias e prazeres passam para
posições de menor destaque. Deixam de ser coisa mais importante da vida.
“As Alegrias com Deus” de fato proporcionam mais
felicidade, respeito, amor, ordem, gosto pela natureza, e pelas coisas morais.
Há muito menos intrigas, ciumeiras, rancores, brigas, desconfianças, etc. Pelo
que vi, no meu sonho eu havia escolhido o caminho das Alegrias com Deus.
Pensando um pouco mais, lembrei-me de passagens
bíblicas que tão bem ilustram a parábola que sonhei. Cristo Jesus aborda a
questão com a estória do filho pródigo, e o apóstolo Paulo o clarificou na sua
epístola aos Gálatas. Vou parafrasear um pouco a palavra bíblica sobre o que
Paulo escreveu (Gal. 5:19-21): “As obras
da carne [das alegrias humanas e corporais para usar um termo do sonho] são conhecidas e são: prostituição,
impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras,
discórdias, dissenções, facções, invejas, bebedices, glutonarias e cousas
semelhantes a essas...” É uma lista grande e forte, não é mesmo? Mas se
analisarmos atentamente veremos que por trás de cada item há um quê de busca
por prazer humano e corpóreo, um quê de esperança em ganho pessoal e material.
Quem enveredar por esse caminho pode acaso voltar e afastar-se dele? Sim! É claro. Geralmente é o que acontece quando
a pessoa cansa dos “frutos da carne” e busca outra maneira de vida. Depois de
muito sofrimento a pessoa anseia pelo “fruto
do Espírito” (Gal. 5:22,23): “amor,
alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão,
domínio próprio.” Quem não aspira
por vivenciar esse paraíso?
O livro Ciência
e Saúde com a Chave das Escrituras,* escrito por Mary Baker Eddy, a descobridora
da Ciência Cristã, lança uma luz definitiva sobre o assunto e o encaminha ao
nível metafísico: “Negar a pretensões da
matéria é um grande passo rumo às alegrias do Espírito, à liberdade humana e ao triunfo final sobre o corpo”
(pag. 242).
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*Disponível na Biblioteca Pública
Municipal