sábado, 29 de novembro de 2014

Mostre o que você é

No nosso jardim cresceu certa vez uma pequena plantinha por entre os ladrilhos do piso, numa pequena fenda onde se alojara uma semente.  Quando a planta atingiu uns 10cm, deu uma florzinha que permitiu identificar claramente a espécie do vegetal.  Era uma pervinca maior (se  não me falha a memória).  Num canteiro esta espécie alcança uns 50cm, e produz em abundância belas flores coloridas de rosa forte e lilás.

Essa plantinha humilde ensinou-me uma lição de vida.  Ela, nas condições adversas em que se desenvolvera, era quase desprezível se comparada a outras de sua espécie.  Mas ela simplesmente fez o que suas irmãs fizeram: desenvolveu suas qualidades, em vez de ficar resmungando que não recebera condições adequadas para seu crescimento.  Cada plantinha tem a finalidade de ajudar a demonstrar a beleza da criação divina.  Neste universo de criaturas grandes e pequenas, cada uma tem seu nicho e preenche seu propósito.

O homem da criação divina também tem um propósito; existe para revelar a perfeição e permanência da criação de Deus.  Uma pergunta se impõe quando se lê o relato da criação no Gênesis.  Diz no capítulo primeiro (versículo 26) que Deus criou o homem à Sua “imagem e semelhança”- homem e mulher.  Aceitando o que a Bíblia nos ensina sobre Deus, de que Ele é Amor, Verdade, Vida, Espírito, infinito, eterno, todopoderoso, perfeito e bom, como devemos entender a natureza do homem criado à Sua imagem e semelhança?  Com certeza não pode ter características opostas às qualidades divinas; ou seja, não é material, físico, mau, mentiroso, mortal, rancoroso, e assim por diante.

O que aprendi na Bíblia sobre a natureza do homem me faz encarar humildemente os afazeres humanos como quem não tem qualidades próprias derivadas do corpo físico, mas sim derivadas da fonte eterna e criadora – Deus.  Com tal ênfase de vida, não fico a resmungar contra circunstâncias adversas, mas me aplico a expressar do melhor modo possível o propósito que Deus tem para mim, por mais humilde que seja; assim como tem para cada indivíduo.  A regra é universal e vale para todos os seres humanos – homens, mulheres e crianças.

O livro do Gênesis mostra um dos propósitos da existência do homem: Deus lhe deu domínio sobre plantas e animais.  Domínio com inteligência e amor é o que o homem deve exercer.  Isto revelará suas características, como fez a flor entre as pedras.


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quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Cabo-de-guerra: material x espiritual

                        Opostos na consciência humana:
Pendor da carne (matéria)          X            Pendor do espírito (Espírito)
Medicina                                    X            Fé no espírito, C. Cristã
Desagrada ao Pai                        X            Agrada ao Pai
Crime                                         X            Ação do bem
Agitação                                     X             Temperança
Desobediência                             X             Obediência aos Mandamentos
Vaidade                                     X                    Humildade
Ódio                                        X                      Bondade
Inimizade                                X                      Amizade  

O pensamento humano é um palco onde se desenrolam inúmeros papéis teatrais.  O jogo do cabo-de-guerra é uma exemplificação do que se passa no pensamento do homem quando tem que decidir o caminho que quer trilhar. O jogo das duas “forças” não tem empate, um ganha e outro perde. Nosso pendor e nossos interesses ditarão o rumo de nossos passos, e nesse caminho encontraremos ou problemas e sofrimento, ou paz e cura. O gênero humano tem de aprender a identificar as forças às quais se alia no seu viver diário. Esse aprendizado talvez venha através do sofrimento que o pecado, a ignorância, a superstição ou o medo impõem. Ou virá pela suavidade da inspiração/intuição celestial. O bem e o mal, o certo e o errado são opostos que reivindicam a escolha do indivíduo. A indecisão e a dúvida não cooperam para uma definição de que lado atuaremos, mas podem, isso sim, jogar-nos no fosso divisório, como no jogo citado.

É fácil de perceber que nesse embate de opostos não podemos ficar no meio termo, seja por causa da dúvida ou do medo, ou o pretexto de aproveitar-se do melhor desempenho de um ou outro lado, daquele que favoreça nosso interesse predominante. Em nosso pensamento também não podemos, ou devemos, tentar reconhecer aspectos bons e maus como equivalentes em ambos os lados. Se fizermos uma escala de valores e prioridades para a nossa vida, não podemos aí misturar coisas  que se opõem e, talvez, até se anulem mutuamente. Certamente, faremos a escolha de acordo com o que entendemos seja real e bom. Acontece que se nossos conceitos de certo/errado, bom/mau, real/irreal não estiverem bem orientados, podemos acabar atraindo para nossa vivência humana toda sorte de problemas e sofrimentos.

É o que o apóstolo Paulo procurava alertar os Romanos ao se referir ao “pendor do espírito” e “pendor da carne” (ver Rom. 8:5,6) ; um propicia felicidade e outro traz problemas; um dá alegrias o outro tristezas e aflições. O próprio apóstolo passou por experiências  de conflito mental, conforme relatou: “Não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço... No tocante ao homem interior, tenho  prazer na lei de Deus ; mas vejo nos meus membros outra lei...guerreando contra a lei da minha mente” (Rom 7:22,23).

Precisamos definir uma posição ou direção de nossos esforços pois isso definirá a harmonia—ou não—de  nossa existência humana. Sob este aspecto o e estudo cuidadoso da mensagem cristã dada na Bíblia pode ser um forte aliado, posto que as Sagradas Escrituras, do começo ao fim, apresentam exemplos da superioridade do bem sobre o mal, do Espírito sobre a matéria. Optando pela orientação do senso espiritual estaremos fazendo a melhor escolha. Aliás MBEddy faz uma colocação mais drástica. Diz ela em CeS: “Não podemos escolher como trabalhar pela nossa salvação, mas temos de trabalhar da maneira que Jesus ensinou”  (p. 30). As Escrituras contém o ensinamento dele. No Sermão do Monte (ver Mateus 7) o Mestre faz um interessante desafio. “Aquele que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. E todo aquele...que não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou sobre a areia” (Mat. 7:24-26). Precisa ser mais clara a definição de nossa escolha? O que queremos na vida?

 Um pensamento alicerçado em Deus, o bem, a Verdade, não será abalado quando confrontado com as vicissitudes da vida humana e/ou mundana. O Cristianismo e a Ciência Cristã nos dão recursos e reforços espirituais nesse afã de espiritualizar o pensamento. O processo se baseia no princípio de que um erro é corregido  pela verdade exatamente oposta. Por exemplo, na matemática um erro ligado à operação 2 + 2 = 4, (p.ex. 2 + 2 = 5) é corrigido pela expressão que afirma a verdade. No mundo das idéias dá-se algo semelhante. A sabedoria corrige a ignorância, o ódio é corrigido pelo amor, e assim por diante.

Com um exemplo será mais fácil de perceber o desenrolar do processo mental. Suponhamos que alguém esteja lutando com dores de cabeça. Sempre em tais casos conjetura-se sobre prováveis causas da moléstia. Pode-se listar algumas pretensas causas: calor, noite mal dormida, trabalho demasiado, hereditariedade, ressaca, medo, etc. Cada nome desta lista tem uma qualidade oposta que anula o mal.

Calor           <              amenidade (do Amor);
noite mal dormida     <      descanso (no conforto de Deus);
trabalho demasiado     <       força (do Espírito);
hereditariedade   <   meu pai e mãe verdadeiro é perfeito (é Deus, o bem);
medo       <       confiança (fé em Deus).
Inimizade   <   amizade

Em seguida afirmamos que as qualidades que combatem o mal, erro, dor, etc, são permanentes porque pertencem a uma das características da Divindade  superior a qualquer manifestação de mal, e que destroem as evidências do mal com Sua onipotência, onipresença re onisciência. Isso estabelece na consciência o reconhecimento da presença da perfeição vinda de Deus, reconhecimento que oblitera qualquer percepção do mal. Uma vez que a consciência chega a esse ponto, podemos passar um grande “X” ou uma borracha sobre a lista dos males e sintomas; com isto ficamos só com a lista das coisas boas, e uma gostosa sensação de bem-estar que não está ligada ao  corpo físico, mas sim ao nosso pendor do Espírito.

MBEddy diz claramente: ” Mantém o pensamento firme no que é duradouro, no que é bom e no que é verdadeiro, e os terás na tua experiência, na proporção que ocuparem teus pensamentos” (CeS, p. 261). Isso é uma regra de cura que leva vantagem sobre as pretensas forças do mal!

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domingo, 19 de outubro de 2014

Aprender com a natureza

O aprendizado com a natureza poderia ser chamado de ecologia espiritual

Hoje em dia há um esforço sincero de transmitir aos jovens e adultos conhecimentos e sentimentos a respeito da natureza. Vê-se esse esforço disseminado por todo o globo terrestre. Tecnologias modernas auxiliam a prover imagens em tempo real do que acontece no mundo, tanto o lado cruel como o construtivo. Escolas, universidades e entidades ambientais espalhadas pelos quatro cantos do mundo estão tratando de fazer jovens e pessoas  entenderem o papel benfazejo da natureza e que os desmandos que se vê acontecer podem e devem ser mantidos sob controle dos humanos. Penso que o melhor controle seja o autocontrole, cada um cuida de si.

Vendo todo esse esforço, às vezes me pergunto sobre a eficácia do ensino sobre a natureza. Deixem-me assinalar  sobre a natureza. Falar ou mostrar coisas sobre a natureza para alguém que não convive com a natureza soa como uma bela teoria. O ensino eficaz ocorre quando o instrutor ensina com e o aprendiz aprende com a natureza. O convívio  com a natureza é essencial. “Árvores, rios, pássaros, campos todos nos ensinam e em silêncio; e aprendemos melhor em silêncio”, palavras o sábio Eckart Tolle (Em harmonia com a natureza, 1948). Por que tribos nativas que vivem numa floresta sabem como e o que colher ou caçar sem agredir o ambiente (a floresta) em que vivem? Seu convívio de longa data com seu habitat as ensinou em preleções silenciosas. A natureza lhes dá o sustento e mais não necessitam.

Imaginemos que uma tribo da natureza fosse infectada com o vírus do consumismo: ter dinheiro para comprar novas armas, equipamentos, motoserras, helicópteros, etc. O que aconteceria à floresta de seu habitat? Seria aniquilada. A busca por mais bens—a ânsia do ter—poderia levar os “selvagens” a cometer os erros dos civilizados, ter cada vez mais sem medir conseqüências. Isso é apenas hipotético para uma tribo selvagem, mas é realístico para o mundo civilizado—lamentavelmente!

O melhor ensino sobre a natureza é o que consegue insuflar na consciência dos alunos ou ouvintes um amor à natureza. Esse é um aprendizado permanente. A pessoa que ama a natureza ou meio ambiente é a pessoa que protege, não agride, não desperdiça os recursos naturais, não maltrata a flora e a fauna, não promove queimadas (sejam pequenas ou grandes), não polui os rios. Quem ama protege o objeto de seu amor! Este é o ideal de todo ambientalista ou ecologista. A ecologia, como ciência, deveria permear todos os ângulos do ensino formal, pois sua definição tem um aspecto todo-abrangente: “é o ramo da biologia que estuda a relação dos seres vivos com o meio ambiente”.

A esta altura até poderíamos perguntar se a ecologia é uma ciência humana ou moral? Pessoas com índole moral, ou atentas a valores espirituais (fraternidade, fé, compaixão) geralmente são ecologistas ao natural, têm conduta adequada ao meio ambiente. Gosto de chamar essa consciência de ecologia espiritual. Alguém que demonstre um caráter cristão genuíno é uma pessoa em quem podemos confiar que terá cuidado com a natureza.

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sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O sonho da materialidade

A crença do viver material é tão fugaz como um sonho

O gênero humano, em vez de viver a realidade do divino e infinito, vive no sonho da falsa realidade—a materialidade. Nos sonhos da materialidade os homens sofrem toda sorte de percalços, sofrimentos e prazeres materiais e, não raro, esses viram pesadelos dos quais gostariam de livrar-se, se tão só soubessem como. Essa libertação, no entanto, tem um processo simples: DESPERTAR!

Se alguém está tendo um sonho ruim, outras pessoas não podem entrar no sonho para resgatar o sonhador de maus  acontecimentos pois estes, em realidade, nada mais são do que pensamentos da pessoa. Assim a única maneira de “salvar” alguém  de um pesadelo é  despertá-lo. Isso outras pessoas podem fazer, se tão só soubessem o que o sonhador está sonhando ou pensando. Às vezes pode-se perceber que uma pessoa está tendo um pesadelo, quando ela se agita ou geme (pensando que está gritando) sem nenhuma causa aparente para tal gemido.

O que se passa em um sonho é nada mais que uma visão de nosso pensamento. Se  conturbado gera sonhos pesados. Se feliz gera sonhos alegres. Muitas vezes uma pessoa abriga algum medo inexplicável de algum animal ou alguma situação tida como perigosa, caso em que seus sonhos trazem o tema de modo recorrente. É porque a situação está presente na linha de frente do pensamento. A pessoa sofre no sonho porque lhe parece real o que esteja “acontecendo” nesse seu sonho. Com uma pessoa sob transe hipnótico ocorre a mesma coisa. Se lhe dizem que está frio, ela sente frio mesmo que o termômetro indique calor e ela só se aperceberá da realidade quando despertar do sonho hipnótico. Neste exemplo é fácil perceber como o Despertar é a solução do “aparente” problema.

Nos sonhos nossa existência humana parece uma realidade. Mas o que é ela realmente? Soa como um jogo de realidade x irrealidade. O pensamento materialista afirma que essa existência está ligada—presa—à materialidade. Ainda bem que esse tipo de pensamento não é o único à nossa disposição, pois os frutos de tal consciência  estão a encher o mundo e as manchetes da mídia. Abandonar velhas crenças parece difícil, e se não houver uma grande motivação, fica mais difícil ainda.

Amigos cristãos, vejam o que nosso livro de orientação espiritual nos diz: “Já é hora de vos despertardes do sono” (Romanos 13: 11), e na epístola aos Efésios Paulo alenta: “Desperta, ó tu que dormes; levanta-te de entre os mortos...” (Efes. 5:14). Paulo tratava de motivar seus amigos a se elevarem para fora das crenças da mortalidade e isso sem demora (Já é hora...). Seguindo essa orientação encontramos no livro-texto um importante esclarecimento: “Dominas a situação se compreendes que a existência mortal é um estado de autoengano [um sonho], e não a verdade a respeito do existir” (Ciência e Saúde, p.403).  Dominar a situação é o despertar do sonho da materialidade, ou seja da mortalidade. Então deixamos de apoiar as crenças carnais. Por que é importante esse despertar? É a própria  autora do livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras que responde: “Quando despertarmos para a verdade a respeito do existir, toda a doença, a dor, a fraqueza, o cansaço, o pesar, o pecado e a morte serão desconhecidos, e o sonho mortal cessará para sempre” (p. 218).

A consciência despertada, atenta, para a verdade do existir deixa de conviver com as mazelas do senso material. Essa existência sem problemas é o que todos nós procuramos alcançar. Por que não a vemos no nosso dia-a-dia? Porque precisamos despertar do sonho de que a materialidade seja nosso meio de existência, de subsistência, de inteligência, de proficiência, etc. Estar fora do sonho da mortalidade ou materialidade é estar permanentemente consciente das verdades  e qualidades que compõem o universo da criação divina, daquela criação de que a Bíblia fala que “Viu Deus tudo quanto havia feito e eis que era muito bom” (Gen. 1:31).

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sexta-feira, 3 de outubro de 2014

A respeito do Congresso de Educação Ambiental

A propósito da realização do III Congresso Internacional sobre meio ambiente recentemente realizado  em Panambi,  me flagrei , há alguns dias atrás, perguntando: “O que será mais importante: salvar e melhorar a humanidade, ou salvar e melhorar o meio ambiente?”  Pois ouso lançar diante vós esse desafio filosófico. Pensem um pouco sobre isso.

Se obtiverem do infinito a resposta de que salvar e melhorar a humanidade é mais importante, estaremos de comum acordo. Mas um argumento muito pertinaz diria: “Mas isso é o trabalho das igrejas cristãs, não é assim?” Nós, ambientalistas ou não, gostaríamos de ver o gênero humano mais engajado na preservação ambiental, mas deixamos para as organizações religiosas a tarefa mais importante de preservar nossa humanidade. Lavamos as mãos, pois o problema não parece nosso! Estará certo esse posicionamento? Será correto ficarmos de braços cruzados quando já estamos vendo o caminho a ser trilhado?

Uma pessoa de caráter, índole e espírito cristãos é a que está melhor preparada para dar à natureza (meio ambiente) a proteção que ela merece. Cultivar esse caráter cristão é prerrogativa e decisão individual. O máximo que podemos fazer é encorajar esse alguém a elevar suas vibrações para que perceba os caminhos que levam essa pessoa -- uma porção da humanidade – a abrir sua mente para as questões da natureza pura.
Saibam os senhores leitores e senhoras leitoras que este evento de suma importância  é um farol que se acende para indicar o caminho. O que estamos fazendo é para ajudar a humanidade -- essa  porção de humanos que nos ouvem e leem – a ver que o meio ambiente precisa de atenção e respeito, precisa de nosso amor, para que a Mãe Terra possa respirar por mais tempo e não venha a responder com violência os maus tratos que lhe impusemos. Estaremos ajudando a melhorar a humanidade fazendo-a perceber como melhorar e proteger o meio ambiente? Sim,

ESTAMOS AJUDANDO A HUMANIDADE A SER MELHOR!

 Esta é a visão que devemos ter enquanto debatemos como amparar a natureza e meio ambiente, nosso e do mundo!
Ovidio Trentini


Pres ARPA FIUZA

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Qual a importância de compreender Deus?

Cabe ao homem tentar compreender Deus?

Há algum tempo participei de uma reunião com representantes de entidades sócio-assistenciais, onde compareci como representante de uma ONG ambiental. O debate sobre os problemas sociais em nossa comunidade, principalmente com a juventude e sua relação ao consumo de drogas, incluía uma busca frenética de soluções que, ao final, pareciam longínquas ou inatingíveis, ou muito distantes do horizonte visualizado pelos debatedores. O trabalho voluntário nessas organizações é digno de reconhecimento, quando se vê o desprendimento dos participantes na labuta por atendimento aos menos favorecidos. O grande problema comum nessas entidades é a escassez de recursos, sejam públicos sejam privados. Disse alguém: “a vontade de ajudar é sempre maior que o dinheiro disponível”.

Em meio à troca de idéias ocorreu-me uma frase que li em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras*: “É nossa ignorância a respeito de Deus, ...o que produz aparente desarmonia, e compreendê-Lo corretamente, restaura a harmonia” (p. 390). Pensei comigo se a regra seria aplicável aos problemas sociais coletivos. Pensando mais um pouco conclui que sim, posto que os problemas coletivos nada mais são que a somatória de muitos problemas individuais aos quais a regra é plenamente aplicável.

Por que é importante compreender Deus corretamente?  Porque a partir dessa compreensão poderemos compreender o que o homem realmente é. Aqui a designação Deus representa um conjunto de características espirituais infinitas e ilimitadas no tempo e no espaço, as quais estão em toda parte há muitos milênios, mais precisamente desde a eternidade. Essas características não são perceptíveis aos sentidos físicos, mas são cognoscíveis pelos sentidos espirituais. Este entendimento a respeito de Deus é o que devemos aplicar ao entendimento correto do homem. Por isso a visão do que o homem realmente é não pode estar baseada no testemunho dos sentidos físicos, ou o que vemos, ouvimos e sentimos. A raiz dos problemas humanos está precisamente nesse modo enganado do homem ver a si mesmo. O ser do homem real (designação genérica para homens e mulheres) é muito mais do que vemos e ouvimos. Como obra prima da criação o homem expressa―traz à luz―a perfeição da criação divina, aquela fonte infinita de luz, de inteligência, de amor e vida que é Tudo-em-tudo.

 Enquanto o homem se vê como um mortal limitado, cheio de problemas e limitações de toda ordem, é isso exatamente que ele tem em sua consciência; e tudo o que o homem, de modo geral, mantém no pensamento isso se concretiza na sua vida. Assim ele sofre de doenças, penúrias financeiras, relacionamentos alquebrados, submissão aos limitantes parâmetros de tempo, idade, hereditariedade. Por que? Porque ele primariamente mantém no pensamento essas situações negativas. As formas visíveis são apenas manifestações de formas de pensar. Ele vivencia seus pensamentos. Exemplo dessa afirmação é o que se observa em uma pessoa hipnotizada. No transe hipnótico, a pessoa sente o que o hipnotizador ordena; pode não haver nenhuma evidência física de frio, por ex, mas o hipnotizado sente frio, bate queixo, aconchega seu agasalho. É real o que a pessoa sente? Para os observadores não, mas para ela sim. A pessoa sente o que o pensamento dela acredita seja real.

Para safar-se de seus problemas o homem precisa aprender a olhar para cima; vale dizer para fora do mundo terrenal, material, onde circula o homem adâmico. O que a pessoa hipnotizada precisaria fazer para sair de sua sensação de frio? Acordar, ou seja mudar seu pensamento, sair do transe e tomar posse de seu pensamento. A Bíblia tem um versículo que vale a pena lembrar aqui: “Olhai para MIM e sede salvos” (Isa 45: 22)  Este MIM é Deus, o Espírito, aconselhando, instruindo, Seus filhos a desviarem seu olhar da  fisicalidade para a espiritualidade, para lá encontrarem a solução de seus problemas. Essa visualização do espiritual equivale ao despertar do pensamento, ou mudar a base de seu pensamento; ação que deve ser constante, mantida num nível permanente e não intermitente, pois isso deixaria o pensamento girando em altos e baixos sem fixidez.

Para compreender a Deus, o cristão tem nas Sagradas Escrituras a melhor fonte de informação e instrução. Um estudo esclarecido e detido do conteúdo desse compêndio revela que Deus não é um ser antropomorfo e limitado; mas é ilimitado, infinito, eterno, todo-poderoso, onipresente, onisciente, bom, perfeito, puro, amoroso, Vida, Verdade, Amor, Espírito, imutável, misericordioso, fiel, e assim por diante. Este conjunto de características é o que devemos ter em mente quando falamos de Deus, como também devemos saber que elas não estão distantes em um céu azul na imensidão do espaço sideral. Esse ser coletivo é o conceito por trás do texto bíblico eloísta a respeito do Gênesis. Ele é plural; por isso o texto de alguns versículos coloca Deus dizendo “façamos”: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança...” (Gen. 1: 26).

O homem é imagem e semelhança de um conjunto de características espirituais; não esqueçamos disso. Assim, é correto falarmos a nosso respeito no plural; nosso “eu” verdadeiro não é singular, é plural. Ver o homem sob este enfoque arrebata nosso (meu) pensamento a uma plataforma mais elevada e junto com ele nossa (minha) vivência humana. Nesse plano mais elevado e espiritual, vemos evidências da presença das boas qualidades pelas quais almejamos humanamente: suprimento, saúde, força, sabedoria, memória, plenitude de realizações. É a felicidade de viver sem problemas. Mas cuidado: essa vivência sadia―não confundir com boa vida nos padrões humanos―não deve ser nosso objetivo na aplicação da espiritualidade. Pois, senão, estaríamos submetendo o emprego de valores espirituais para atendimento de nossa vontade humana. Deus atende as necessidades, não as vontades, do homem. Estaríamos sobrepondo os valores materiais e humanos aos espirituais. Nossa meta é expressar as qualidades divinas e infinitas sem outra intenção do que a de obedecer ao nosso Criador. A solução dos problemas humanos ocorre natural e espontaneamente quando nossa consciência fica repleta dos valores espirituais. Quando o pensamento está elevado, ele não contempla outra coisa a não ser a manifestação do bem em todas as suas formas.

A aplicação da espiritualidade e a aplicação da materialidade diferem desde o princípio. São movimentos em direções opostas, sendo que na vida humana essa diferenciação acaba por anular reciprocamente os efeitos. Para a consciência de pendor material (ou “pendor da carne” para usar termo bíblico) é difícil contemplar os valores espirituais e sua manifestação na vida do homem. Já a consciência de inclinação espiritual (ou o “pendor do espírito”) não vê nem experimenta o caos da materialidade. A humanidade tem cometido um erro basilar ao longo dos tempos: ela deseja a vivência sem problemas (o que não é incorreto) sem recorrer às leis espirituais (o que é incorreto). Vale dizer: ela quer as benesses da espiritualidade dentro da materialidade, como se ambas cooperassem ou agissem em conjunto. A harmonia permanente é o efeito das leis espirituais que não são submissas às pseudo leis materiais; esse termo—harmonia―inclui todas as formas que já nos acostumamos a designar como boas: saúde, alegria, felicidade, suprimento, amor, etc, etc.

Uma declaração de Mary Baker Eddy* em Ciência e Saúde resume o exposto: “Admitindo [no pensamento] somente aquelas conclusões cujos resultados desejas  ver concretizados no corpo, tu te governas harmoniosamente” (p. 392).

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* Mary Baker Eddy, 1875; obra disponível na  Biblioteca Municipal.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Deus é bom, e daí?

O conceito de que Deus é bom tem profundidade e utilidade

O conceito mais difundido entre os cristãos, talvez seja que Deus é bom. Se as pessoas fossem perguntadas sobre o que pensam que Deus é, esse conceito provavelmente seria o mais citado. Ele é verdadeiro pois Deus, de fato, é bom, entre outras virtudes do tipo fiel, amável, perfeito. Mas o que as pessoas fazem com esse conceito?

Nossos conceitos sobre Deus, o que pensamos sobre Ele, têm que ter profundidade e permanência. Não podem ser ditos da “boca pra fora” sem qualquer consciência do que se diz. Nosso conceito atual poderá ser grandemente ampliado e sublimado se dermos atenção a questões como as que a seguir são apresentadas.

Deus é bom, o bem...:
Quando? O Pai eterno é bom a todo instante, ontem, hoje e amanhã.  Não há instante em que essa Verdade inexista ou não se faça valer.

Onde?  O salmista (ver Salmo 139) revela seu entendimento de que Deus está em toda parte; logo o bem está em toda parte. Na Terra e no imenso céu. O Bem é infinito.

Para quem? Deus é bom para todos; ninguém é excluído de Sua bondade.

De que me serve? Esta é uma pergunta típica do caráter humano, sempre quer saber de vantagens. Na medida em que o conceito de que Deus é bom ocupa nosso pensamento, séria e absolutamente, não estaremos pensando no oposto dessa verdade. Pensar no bem não nos deixa pensar no mal. Ter o pensamento repleto de idéias referentes à bondade de Deus põe ordem e disciplina em nossos pensamentos e afazeres. Nossa existência está repleta de boas experiências.

Quem pode ameaçar? Deus é o bem; este é um fato espiritual que não pode ser alterado por coisa alguma. Ninguém ou coisa alguma pode ameaçar nossa integridade quando nos abrigamos inteiramente na Verdade do Bem presente. As forças que agem em nosso favor são as forças do Espírito, as quais são invisíveis aos sentidos mas com resultados palpáveis.

A bondade de Deus não se iguala à bondade humana que é discriminatória, inconstante, vacilante, tendenciosa. A bondade humana tende a aceitar o oposto (a maldade) como algo equivalente em força, quando não até superior. A bondade humana inclui amigos e exclui inimigos ou indiferentes, e nesse caso deixa de ser bondade. Assim, quando afirmamos ou pensamos que Deus é bom, temos de fazê-lo de forma absoluta, reconhecendo que em Deus está a realidade, nEle a bondade não acaba nem muda, Sua bondade é real, resultando que o mal, a maldade, é irreal. Mas e o mal que vemos a todo instante? Em nosso pensamento ele (o mal) tem de ser visto como oposto ao bem que é Deus, a única realidade. Temos que ser absolutos nesse entendimento das qualidades divinas. Se Deus , o bem, é real para nós, então o mal não pode ser real ao mesmo tempo no mesmo lugar. Não cabe nenhuma dualidade mental, ou seja, reconhecer o mal e o bem como reais. Nosso Mestre Cristo Jesus deu o exemplo de pensamento absoluto. Perguntado sobre o que fazer de bom, retrucou: “Ninguém é bom, senão um só, que é  Deus” (Marcos 10:18). O Salmista já havia séculos antes dito: “Rendei graças ao Senhor, porque Ele é bom” (Salmo 116:29). Temos de cuidar para não decair à situação estampada por Mary Baker Eddy em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras : “Como são vazios nossos conceitos sobre a Deidade! Admitimos teoricamente que Deus é bom, onipotente, onipresente, infinito, e depois tentamos dar informações à essa Mente infinita” (p. 3:18-21).

Experimente abrir o conceito básico : Deus é bom/o bem, com outros atributos divinos. Se você, caro leitor, quiser exercitar-se nesse ambiente metafísico, pense num outro conceito sobre Deus, e faça em torno dele perguntas que lhe ajudem a elevar o pensamento e firmá-lo na fé cristã. Posso dar um exemplo de exercício? Deus é Amor. Trabalhe mentalmente em torno dessa idéia e verá como ela lhe ampliará horizontes mentais e morais.


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sábado, 13 de setembro de 2014

“A sorte de Jó”

A história de Jó é enigmática mas contém lições

O livro de Jó na Bíblia é para muitos leitores um tanto enigmático. Se tomado ao pé da letra até parece que Deus e o diabo às vezes se encontram para determinar a sorte dos humanos, fazendo acordos que mais parecem apostas.
O livro de Jó foi incluído no rol bíblico como uma lição ao povo israelita. Ele é um épico sem correlação com tempo ou ocasião de ocorrência. Livros desse tipo serviram para ensinar ao povo as crenças ou “verdades” em voga na época. Livros de Jó (aprox. 450 - 400AC) e Jonas (aprox. 510 – 380AC) foram escritos durante a mesma época após o retorno dos  Israelitas do exílio da Babilônia. Era época do povo reaprender as tradições vigentes de antes do exílio a respeito dos poderes de seu Deus. No entanto, junto com os ensinamentos práticos entraram no relato também ficções e crendices populares.

O relato poderia ser transformado numa peça de teatro tal força da reação dos personagens. O protagonista principal, Jó, era homem muito rico de bens e filhos; era homem temente a Deus e cumpria com os votos tradicionais entre o povo. A parte ficcional do livro começa com o encontro de satanás com Deus, o Senhor (Ver Jó, 1:6). Num certo dia em que os “servidores celestiais” vieram à presença do Senhor (parece um dia marcado no céu, mas como satanás ficou sabendo? Pura ficção) o capeta também vai e Deus não o expulsa, mas conversa com ele num tom muito amigável (“Viste meu servo Jó; cara legal!” teria dito Deus.”É só porque tu deste toda aquela riqueza a ele!. Tira o que ele tem e vais ver como ele amaldiçoará”. O diabo sempre aprontando!).
Não podemos confundir o relato com a realidade. Nele há tantos conceitos errôneos (desprezíveis até) a respeito do bom Deus a Quem todos devemos amar (e de fato amamos) tais como: que Deus e o diabo coexistam; que façam jogo sobre o comportamento de um ser humano;que  Deus dê e tire bens; faça com que o homem justo tenha perdas e danos de entes queridos, e o faça sem qualquer consideração da fidelidade do filho; que Deus concorde com proposta de satanás; este obtenha uma vitória de argumentação, etc... E há ainda a hipótese de satanás ter inteligência para argumentar com Deus; que tenha poder sobre o homem. Todas essas considerações contradizem o ensinamento trazido pelo Mestre Cristão alguns séculos após a história de Jó, ensinamentos que apresentam Deus como Pai amoroso, todo-poderoso, que não toma conhecimento do mal.

A perda de bens e filhos não foi suficiente para que Jó perdesse sua fidelidade a Deus. O diabo então obtém permissão de Deus (que sacrilégio pensar algo assim de Deus!) para afetar Jó na sua saúde com uma doença (furúnculos?) incurável na época. No auge de sua desventura Jó fica confuso e desesperado, mas continua reivindicando sua inocência, quando é aconselhado pela esposa e amigos a amaldiçoar a Deus e pedir para si morte, já que estava no fundo do poço. Amigos que vêm consolar a Jó, só põem mais “minhocas” na cabeça dele e quase o levam à perdição total.

As dúvidas de Jó são evocadas numa conversa com o Senhor a qual lhe possibilitou reconhecer o seu erro, sua condição humilde de servidor e a supremacia do Senhor. Também Jó se deteve de criticar seus amigos. Diz o relato: “Mudou Deus a sorte de Jó quando este orou por seus amigos” (Jó 42: 10). O relato se encerra com o personagem recebendo de volta mais filhos e bens do que tinha antes. Um final feliz, com intermédio doloroso!

Nesse final do livro está todo ensinamento útil para nós, no meu entender, nos dias atuais. Esse ensinamento de valor eterno e imutável nos diz que nossa sorte muda quando nos dispomos a orar por nossos amigos (e até inimigos) mesmo em meio a tempos difíceis ou dificuldades pessoais. Eles nem precisam ficar sabendo que estamos orando por eles, mas nós sabemos e isso muda nossa sorte. A disposição de orar pelos outros, de ajudá-los em seus problemas, abre nosso coração para o amor e isso abre a porta para bem em nossa experiência.

Tive oportunidade de aplicar o exemplo de Jó numa situação particular, há pouco tempo. Moro num apartamento que tem do outro lado da rua uma pequena praça que nas noites de verão é tomada de jovens até altas horas da madrugada. O resultado dessas noitadas de “papo” juvenil é um conteiner cheio de latas vazias (de cerveja?) espalhadas pela praça. Algo desagradável de ver. Bem, quando os vi naquela madrugada de pouco sono minha primeira reação foi crítica. Depois me redimi e mudei minha atitude e passei a orar pelos jovens incluindo-os num amplexo de amor que é extensivo a toda a humanidade. Ou seja não os excluí de meu amor pela humanidade. Depois disso pude dormir calmamente.


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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O material, o moral e o espiritual


Esses tópicos formam nossa experiência

O gênero humano gira na sua existência em diversos níveis de consciência. Ou está consciente da materialidade e seus apelos de toda ordem para satisfazer os sentidos físicos ou por eles sofrer; ou está consciente da espiritualidade e suas manifestações harmoniosas; há ainda um estágio intermediário, em que a consciência humana pende hora para materialidade hora para moralidade. O pensamento humano costuma admitir que seja bom conhecer ambos os lados de um assunto, para obter melhor entendimento do caso. Com isso acaba aceitando a validade de conceitos opostos que mutuamente se combatem ou destroem.

Um entendimento das facetas particulares da materialidade e da moralidade é muito fácil de alcançar; cada lado tem suas particularidades francamente perceptíveis. Já entre a moralidade e a espiritualidade não é tão fácil visualizar as diferenças. Será que existem? Digo que sim. De  modo simples poderíamos dizer que a moralidade se dirige aos nossos semelhantes, e espiritualidade dirige-se a Deus.  Para se ter certeza de compreender cada aspecto é preciso mergulhar num exercício de aprendizado espiritual.

Para melhor esclarecimento de o assunto, tomo o que diz Mary Baker Eddy no seu livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras. Na página 115 ela expõe os quadros que compõem cada nível de existência.  Na materialidade encontramos a seguinte família de situações: “Crenças más, emoções descontroladas e vícios, medo, vontade depravada, justificação do ego, orgulho, inveja, fraude, ódio, vingança, pecado, doença, enfermidade, morte”. É só abrir um jornal para vermos que esses “malfeitores” nos afrontam todo santo dia.

Dentro da moralidade encontramos esta simpática família: “Senso humanitário, honestidade, afeto, compaixão, esperança, fé, mansidão, temperança”. Encontramos diariamente componentes dessa família de qualidades. Pessoas que as expressam são reconhecidas, individual e coletivamente, como expoentes de cidadania. São queridas pela sociedade em geral.

Dentro da espiritualidade encontramos: “Sabedoria, pureza, compreensão espiritual, poder espiritual, amor, saúde, santidade.” Quando olhamos por essas qualidades, geralmente olhamos para cima; algumas nos parecem inalcançáveis. Nem sempre divisamos a natureza espiritual de algum tópico, p. ex. saúde.

Posto assim de forma clara e simples fica fácil para nós identificarmos em que reino nos movemos ou se movem nossos pensamentos e atitudes. Nosso pensamento humano costuma mover-se para cima ou para baixo dentro desses níveis de existência. Geralmente formamos dentro do segundo nível nossos padrões de coexistência para dominar o padrão da materialidade. Mas é no terceiro nível que se encontra a solução para os problemas humanos. É para esse nível que os ensinamentos de Cristo Jesus nos levam. Ele foi o mais elevado exemplo de espiritualidade demonstrada por alguém entre os homens. As obras de cura que realizou e disponibilizou para a humanidade são exemplos do que a espiritualidade pode fazer por nós. O nível espiritual demonstra domínio sobre os outros dois.

Na Bíblia temos  exemplos dos três tipos de gênero humano. Gostaria de falar apenas de dois para ilustrar uma situação da história bíblica que nem sempre é compreendida. Houve dois personagens do Novo Testamento que exemplificam bem: Jesus Cristo e João Batista.  Eram contemporâneos e parentes. João pregou o arrependimento dos gentios, batizou no Rio Jordão a quantos vieram a ele e aceitavam sua palavra. De Jesus ele dizia que esse seria o Salvador, que era superior a João, que batizaria com Espírito Santo. Na coragem moral e veemência de seus discursos atacou a vida dissoluta da rainha e sua família. Acabou preso e condenado à morte.

Sobre João Batista o Mestre disse que não havia no mundo homem melhor do que João; mas (palavra terrível!) disse também que o menor no reino dos céus é maior do que João. Palavra dura. Mas o que quer isso dizer? João Batista era um expoente de moralidade (reino dos homens) mas praticamente nulo de espiritualidade (reino dos céus). Sua fortaleza moral não lhe conferiu força espiritual.

Eddy, no mesmo livro mencionado acima,  dá um conselho prático para as pessoas que buscam elevar suas vidas e ter uma existência mais harmoniosa. Diz: “Precisamos formar modelos perfeitos no pensamento e contemplá-los continuamente, senão nunca os esculpiremos em uma vida sublime e nobre. Que o desprendimento do ego, o bem, a misericórdia, a justiça, a saúde, a santidade, o amor – o reino dos céus [espiritualidade] -- reinem em nós, e o pecado, a doença e a morte [materialidade]  diminuirão até finalmente desaparecerem” (p. 248).

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sábado, 30 de agosto de 2014

“...Eu, hoje, te gerei”

                              Compreensão de ser gerado pelo Pai divino abre novos horizontes

Certa feita tive uma experiência muito gratificante; penso que Cristãos que estudam de longa data as sagradas escrituras também já passaram por algo semelhante.

Para quem estuda há anos a Bíblia e o livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras*, de autoria de Mary Baker Eddy, parecia-me ter chegado a um platô onde não haveria mais novidade no estudo. Quando queria orar logo me surgiam na memória alguns marcos básicos: Oração do Senhor com interpretação espiritual (Ciência e Saúde, p.15,16), a exposição científica do existir (idem, p. 468), Salmo 91 ou 23, a Oração Diária (Manual da Igreja), e alguma outra passagem desses dois livros. Todos muito importantes por seu conteúdo espiritual. Mas a repetição dessas passagens parecia isso mesmo: mera repetição.

Dois fatos, mais ou menos recentes, mudaram a direção de minha inclinação. O primeiro se deu quando li uma recente biografia da Sra. Eddy: "Uma vida dedicada à cura". Aprendi que me faltava muita inspiração para chegar ao ponto em que estava essa pesquisadora  no seu trabalho de cura. Também aprendi que temos uma necessidade espiritual de elevar nosso pensamento e mantê-lo elevado, harmonizado e em permanente comunhão com Deus, buscando ouvir o que Ele tem a nos dizer. Isso traz harmonia para nossos afazeres e nosso dia-a-dia, propicia solução de problemas, inclusive, no tocante à cura de males físicos.

O segundo fato ocorreu mais recentemente. No aconchego dos cobertores, antes de dormir, pedi ao Pai-Mãe que me indicasse uma mensagem com uma nova inspiração. A resposta dirigida à minha consciência veio rápida: Eu, hoje, te gerei. O impacto foi suave mas forte, e soou como uma novidade. A frase é uma parte do versículo 7 de Salmos 2, cujo texto integral é: "Tu és meu filho, eu, hoje, te gerei." O texto eu já conhecia, mas a mensagem básica não havia sido elaborada mentalmente.

Comecei, de imediato, a desdobrar a análise e o entendimento da revelação. Cada palavra tem seu significado, importante e profundo. "Eu te gerei", indicou que era Deus que me confirmava o processo de criação. Há um só criador, uma só Mente criadora que concebeu infinitas idéias espirituais, que povoam o universo e nele se manifestam harmoniosas, perenes e úteis. As etapas de criação descritas no Gênesis, capítulo I, revelam o ato da Mente conceber as idéias ("...haja firmamento, plantas, animais, homens") e ela mesma ver que "isso era bom". A revelação que tive me disse que eu faço parte dessa criação divina, e que, portanto, devo incluir-me na perfeição, devo ver meu ser como perfeito, a "imagem e semelhança de Deus", assim como Deus me vê.

Depois desse primeiro passo, não foi difícil de incluir o próximo nessa visão da perfeição do ser, segundo a receita deixada pelo Mestre Cristão. Sua fiel discípula, Mary Baker Eddy revelou em Ciência e Saúde (página 476-7): "Jesus reconhecia na Ciência o homem perfeito... Nesse homem perfeito o Salvador via a própria semelhança de Deus, e esse modo correto de ver o homem curava os doentes." A autora do livro-texto da Ciência Cristã foi um exemplo moderno desse modo espiritual de curar.

Voltando à revelação enfocada no título desta crônica: "hoje"! Ao repetir no pensamento essa mensagem todas as manhãs, algo interessante me ficou claro: a criação divina se renova diariamente. O "hoje" também pode significar "agora", a todo momento,  sempre, sem interrupção. Que felicidade ao compreender que "a todo momento" Deus está me gerando, ou seja, que sempre estou na Mente divina, amparado, sustentado, harmonioso, perfeito! Precisa haver consolo maior? Precisa haver promessa mais inovadora, renovadora e prática? " 'Eis agora', exclamou o apóstolo, 'o tempo...oportuno, eis agora o dia da salvação'--querendo dizer, não que agora os homens tenham de se preparar para a salvação, a segurança, em um mundo futuro, mas que agora é o momento de vivenciar essa salvação em espírito e em vida" (idem, p. 39) explica a Sra. Eddy. O agora não passa, não tem tempo, nem passado nem futuro, só o presente. Cristo Jesus tinha essa visão da eternidade do ser: "Antes que Abraão existisse, EU SOU" (João 8: 58).

Toda essa experiência me ensinou que a inspiração celestial, aquela que nos aproxima de Deus, tem nEle a origem. É sempre de Deus a inspiração que eleva o pensamento acima da ameaça percebida pelo sentido material, seja ela doença, escassez, fome, moral combalida, pecado, violência, falta de teto ou de família. É isso que a inspiração faz por nós: ela nos eleva mentalmente para o reino da visão espiritual praticada por Cristo Jesus e que traz harmonia à nossa vida humana.

"Eu, hoje, te gerei", permanece comigo como palavra doada pelo Pai-Mãe.

                                                               .o0o.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

PATERNIDADE CONSCIENTE

O direito de cada criança

Quando nos nasceu o primogênito, muitos amigos vieram cumprimentar-me.  A alegria era geral.  Em meio às saudações, veio a pergunta:  “Como te sentes agora como papai?”  A resposta brotou espontânea:  “Agora entendo melhor o que é ser filho.”

O nobre sentimento de paternidade traz à tona as qualidades que o pai deve -ou deveria-  expressar em relação a um filho: atenção, carinho, orientação, ternura, respeito, etc.  O mesmo pode ser dito da maternidade.  Por isso quando esse rol de qualidades passa a subir na escala de valores morais e espirituais da consciência de alguém, diante do fato de ter gerado um ser humano, há esperanças de uma criança crescer feliz e bem-estruturada.

Aliás é isso que uma criança inconscientemente espera do gênero humano ao ser  trazida ao mundo.  As crianças que foram permitidas chegar perto de Jesus Cristo, devem ter sentido o mais nobre amor que alguém sobre a Terra será capaz de manifestar.  “Deixai vir a mim as criancinhas. . .”  E ele nem sequer era “pai”;  mas conhecia como ninguém o amor de Deus, tanto que O chamava de ABA PAI, ou simplesmente PAPAI...

Se nos detivermos um pouco a examinar as qualidades do divino Pai , dar-nos-emos conta de que somos amados, orientados, cuidados, curados,   de uma forma constante, permanente, especial, inigualável.

Se essa visão da terna paternidade/maternidade divina que nos acompanha a vida toda evocar em nós um desejo de manifestar essas qualidades aos nossos filhos, a humanidade como um todo será beneficiada, começando pelo nosso pequeno mundo ao redor de nós.

Mary Baker Eddy, notável pensadora religiosa do século XIX, escreve em seu livro  Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras,* no capítulo MATRIMONIO:  “Os descendentes de pais que tenham a mente voltada para as coisas divinas, herdam mais intelecto, mentes mais equilibradas e constituições mais sadias.”

É forte essa declaração!  Expõe nua e cruamente a raiz dos problemas infantis tão presentes na sociedade moderna.  Os pais devem, já antes de serem pais, orientar seus pensamentos para “coisas divinas”.  Há muitos modos de conseguir isso, e as opções são individuais.  A disseminação generalizada dessa prática dará ao mundo uma gloriosa promessa de melhores dias, somente comparável à mensagem  de amor ao próximo que Cristo Jesus legou ao mundo há quase 2000 anos.

Mas isso seria uma promessa para o futuro.  E quanto às crianças que já sofrem na carne os problemas de uma desorientada geração?  Precisarão receber -e estão por merecer-  o amor da comunidade.  Aqueles indivíduos que trazem à “flor da pele” o amor puro e prático pelo ser humano, sejam governantes ou não, procurarão e encontrarão soluções hábeis e adequadas.  Aliás muitas já “nasceram” e estão em franca atividade, redimindo e restituindo o valor humano que cada ser tem dentro de si.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Vida renovada

Todo ser humano tem um momento em que deseja uma renovação de vida

Na Bíblia Sagrada encontram-se muitas referências à renovação de vida, ou renovação mental, e o Novo Testamento é prolífico no assunto.  O diálogo do Mestre Cristo Jesus com Nicodemos (ver João 3: 1-15) revelou ao doutor da lei a lição espiritual do renascimento espiritual como a experiência consciente de alguém, ao deixar o "velho" pelo "novo" a fim de ver o reino de Deus, ou o reinado da harmonia divina.  Com seus discípulos foi mais direto ao admoestá-los de que era necessário tornarem-se puros como uma criança para terem audiência com o Pai, ou entrarem no reino.  O apóstolo Paulo faz uma colocação pertinente ao dizer: "... quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, ... e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem" (Efésios 4: 22-24).  Na Bíblia também encontramos relatos da transformação espiritual por que passaram diversas personagens, sendo que algumas até mudaram de nome para mostrar sua nova existência; são os exemplos de Abrão (depois Abraão), Jacó (depois Israel), Simão Barjonas (depois Pedro) e Saulo (depois Paulo).

Mas o que significa abandonar o "velho" pelo "novo"?  Certamente que não quer dizer deixar uma velha amizade ou um velho amigo.  A troca não ocorre no exterior de nosso ser, mas no mais íntimo de nossa consciência, sem interferência de qualquer agente que não nossos próprios pensamentos tocados e iluminados por Deus.  A transformação acontece, geralmente, quando ficamos saturados com alguma situação insatisfatória ou até aflitiva e buscamos uma saída.  Se essa busca de uma saída voltar-se para o céu, vale dizer, para as coisas espirituais,--melhor dito, para Deus--o resultado será reconfortante e sensível, pela paz gerada na consciência do indivíduo. Em se aprofundando a  experiência,  surge um renascer na consciência, um renascer para a condição de filho de Deus, que é o nosso verdadeiro ser.  Não é um renascer das cinzas, qual mitológica Fênix, porque nosso verdadeiro ser, íntimo e interior, sempre esteve vivo e presente.  Basta uma brecha no invólucro de mortalidade do pensamento para que nossa natureza verdadeira venha à luz.

Vi exemplificado esse processo de renovação, quando visitava  durante a primavera uma região de meu Estado onde há muitos pinheiros da espécie  Araucaria angustifolia.  Várias árvores mostravam sua casca grossa, áspera e escura se desprendendo em escamas e revelando por baixo uma superfície lisa, de coloração rosa-violeta, de belíssimo aspecto.  Somente a eliminação da velha casca deixou ver a beleza da nova superfície, que já existia por baixo da camada externa.

"Quando e como devo realizar essa transformação?  Como saber se posso alcançá-la?"  Estas perguntas não se pode responder indicando um momento exato ou uma fórmula miraculosa.  O processo se inicia e desenvolve de modo particular com cada indivíduo.  E a dúvida quanto ao resultado final nunca é levantada durante o processo que, alimentado pela esperança, não vacila e não sofre interrupção.

A Bíblia geralmente enfoca a renovação de vida associada ao abandono do pecado, sob qualquer forma que se manifeste.  Mas na vida humana há várias outras situações que podem significar renovação de vida: cura de doenças prolongadas, libertação de drogas, proteção em guerras e violências, superação da ignorância ou estagnação, e assim por diante.  Não importa a circunstância, é sempre o sofrimento que empurra a pessoa ao desejo de renovação ou melhoria da condição de vida.  As resistências à renovação ou à reforma que tendem a aparecer, podem vir na forma de medo, incertezas, influência­s externas, dúvidas.  Tudo isso pode ser vencido e superado por meio da confiança num poder superior que atua para o bem de todos -- o poder de Deus.   ­

Aqui aparece o grande valor dos ensinamentos da Christian Science (ou Ciência Cristã), pois eles nos fazem entender a natureza de Deus e, consequentemente, a natureza de Sua criação, que inclui o homem.  Conhecendo melhor a Deus é mais fácil confiar no Seu amor e terno cuidado para com Seus filhos e filhas.  Confiar no poder de Deus nos dá a força para seguir avante na reforma ou renascimento do pensamento humano, e ter certeza da presença divina nos confortando quando os passos parecem difíceis.  O salmista cantou:  "Porque a Mim se apegou com amor, Eu o livrarei" (Salmo 91:14).  A chave da ajuda divina está em apegar-se a Ele com amor.  Mary Baker Eddy, descobridora da Christian Science esclarece em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras (p. 1): "A oração que reforma o pecador e cura o doente", vale dizer que leva à renovação de vida, "é uma fé absoluta em que tudo é possível a Deus - uma compreensão espiritual acerca dEle, um amor isento de ego."

Se nossos problemas têm raízes no pecado, provavelmente buscaremos o perdão divino como premissa para os passos seguintes.  Mas a autora de Ciência e Saúde nos alerta para evitarmos de "buscar a salvação através do perdão e não através da reforma" (p.285), pois isso seria fatal para nossa esperança de alcançar uma nova vida.  Quando a reforma tem lugar no coração do indivíduo, o perdão divino vem certamente.  Foi o que Jesus ensinou com a parábola do filho pródigo.

Levar avante a renovação individual requer uma disposição inamovível de chegar ao final da caminhada.  "O novo nascimento não é obra de um momento.  Começa com momentos e continua pelos anos", diz a Sra. Eddy.  Depois segue: "O tempo pode iniciar o novo nascimento, mas não pode terminá-lo; pois progresso é a lei da infinidade" (Miscellaneous Writings, p. 15).  Vemos, assim, que a renovação de vida é um contínuo progredir e deve ser a experiência de cada pessoa, quer  esteja passando por dificuldades ou não, quer esteja começando a entender melhor a Deus ou tenha começado há mais tempo.  Em qualquer caso o caminho vai se tornando cada vez mais iluminado pela Vida eterna.  Em seu  livro Miscellaneous Writings (Escritos Diversos) a Sra. Eddy escreve:  "Esse sentido da Vida ilumina nosso caminho com o esplendor do Amor divino; cura o homem espontaneamente, tanto no moral como no físico - exalando o aroma das palavras de Jesus: 'Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei" (p.11) - vos darei vida renovada.


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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

“Repreendeu a febre...”

Cura espiritual da febre e outros males

Conta o quarto capítulo do Evangelho de Lucas que Jesus Cristo foi com o apóstolo Pedro até a casa deste. Lá encontraram a sogra de Pedro ardendo em febre. Os familiares rogaram ao Mestre por ela. Diz o relato que Jesus “inclinando-se para ela, repreendeu a febre, e esta a deixou” (Lucas 4:39). Segue o relato que ela “logo se levantou, passando a servi-los”.

Qual teria sido a repreensão de Jesus Cristo? Notei que ele “repreendeu a febre”, não a sogra de Pedro. O Mestre dirigiu-se à doença, ao problema. Será que perguntou sobre a origem, ou causa da febre? Não, ele simplesmente a repreendeu. Será que o mal podia ouvir o que ele disse? Não, mesmo assim o repreendeu. Será que o Mestre foi condescendente com o mal? Não parece que ele tenha dito algo como: “Esse problema parece sério; com quantos graus de febre ela está? Coitadinha vai suar um bocado. Vamos orar para ver como fica.”

Os evangelhos de Mateus e Marcos também registram o episódio, mas dizem que Cristo Jesus “tomou-a pela mão, e a febre a deixou” (ver Mateus 8:14 e Marcos 1:31). Quando sobrepus os dois relatos com o de Lucas percebi que a repreensão de Jesus pode ter sido silenciosa. Isto equivaleria a que ele repreendera a febre em seu pensamento. Ele não aceitou o quadro como algo da realidade, fato que é um traço comum  de suas obras curativas. Ao paralítico ele mandou andar, ao cego que abrisse os olhos, à mulher aleijada que se endireitasse (depois de 18 anos de problema), à mulher adúltera disse que não pecasse mais, e até aos mortos disse que saíssem do túmulo. A atitude dele sempre era contrária ao quadro humano e material. Em todas as situações, o que sucedeu à palavra de Jesus Cristo estava de acordo com suas ordens. Em seu pensamento ele repreendia o mal—negava-lhe realidade—e este perdia sua aparente existência também aos olhos humanos.

Mary Baker Eddy, uma pesquisadora da Bíblia Sagrada que viveu no século XIX, estudou a fundo as Escrituras até aprender o método curativo do Mestre do Cristianismo científico, e o expôs em sua obra Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras*. “Jesus via... o homem perfeito, que lhe aparecia ali mesmo onde o homem mortal e pecador aparece aos mortais. Nesse homem perfeito o Salvador via a própria semelhança de Deus, e esse modo correto de ver o homem curava os doentes” (P. 476/7), diz ela no livro-texto mencionado acima. O Mestre via do jeito que outros não podiam ver, pois ele olhava com outros olhos do que os mortais. Lembrem-se do que disse: “Se teus olhos forem bons, todo teu corpo será luminoso” (Mat. 6:22), e aí está claro que Ele não se referia ao globo ocular físico. A visão que ele tinha sempre se confirmava na prática de curas espirituais, enquanto o modo de ver dos mortais confinava os doentes ainda mais ao seu problema.

O dicionário da língua portuguesa conceitua o verbete “repreender” como “reprimir” e “admoestar energicamente”. Eu creio que Jesus reprimia energicamente em seu pensamento a doença visível, e com isso impedia de dar guarida à crença na realidade da doença. Nós fazemos o mesmo quando alguém nos faz uma proposição frontalmente contrária aos nossos princípios éticos. Sabemos ser veementes na defesa do que aceitamos ser humana e socialmente correto; nada abala nossa fortaleza ética.  Era assim que Cristo Jesus agia a favor do bem. Nas suas admoestações aos fariseus e outros adversários falava energicamente. O Mestre tinha um pensamento enérgico.

Os Cristãos têm Jesus Cristo com seu Mestre e Salvador. Fariam bem em seguir suas palavras e ações que asseguravam que poderíamos fazer as mesmas obras, desde que usando o mesmo princípio. Investigando a Bíblia podemos aprender a “repreender” a doença e os outros males e a curá-los como o Magistral Cristão fez. Somos seus seguidores e imitadores? Devemos ser, mas de nada adiantará nos achegarmos aos doentes e repetir-lhes as palavras ditas pelo Mestre. A mera enunciação das palavras não tem poder curativo, pois lhes faltariam o ingrediente cristão—o amor ao próximo. Nossas palavras têm que levar consolo e inspiração, assim como a Oração do Senhor. A promessa dele foi: “Aquele que crê em mim, fará também as obras que eu faço” (João 14:12). Sendo seus seguidores, não devemos nos demorar em obedecer sua ordem.

Quando tivermos aprendido a “repreender” a doença como Jesus o fazia, nada nos impedirá de realizar e obter curas espirituais como ele realizou. Será um aprendizado fácil? Talvez não, será antes gradual. Mas será muito inspirativo e repleto de bênçãos. Um coração puro é o requisito inicial mais importante. Com ele saberemos “repreender” o que está errado ou em desacordo  com o Bem divino.  Nossas vidas resplandecerão diante dos homens como luzeiros de uma santa e absoluta fé em Deus.


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terça-feira, 29 de julho de 2014

Os tons da harmonia

A harmonia na natureza se expressa a partir da harmonia espiritual

Ao contemplar uma bela paisagem, ouvir um clássico da música ou observar uma pintura de mestre, a gente nem sempre se dá conta de que elas, basicamente, têm algo em comum: são os sete itens que constituem a base da harmonia que se vê, ouve ou sente.

É sabido que as cores são uma mistura diversificada das sete tonalidades do espectro que forma a cor branca. A decomposição da luz no espectro solar revela sete cores básicas. Estas cores e suas nuances ou combinações estão presentes em todo objeto visível. A cor é o reflexo da luz.  Onde não há cor, não há luz, tudo é preto ou sombra. Pintores aproveitam essa variadíssima gama de cores para representar a beleza natural. Cores e traços mal combinados não são agradáveis de observar.

A música tem na escala de sete tons a base para sua manifestação. Qualquer composição, desde a mais simples toada até a mais complexa sinfonia, expressa a combinação variada desses tons, que podem soar diferentemente conforme o timbre do instrumento musical. Cordas, sopro e percussão, tocando a mesma nota musical identificam o instrumento que a emite. Cada um tem sua particularidade, sua individualidade. Os compositores, cada um no seu estilo, combinam magistralmente os tons da escala para trazer à luz a harmonia. Notas ou tons mal combinados não são harmoniosos, não são bons de ouvir.

Penetrando algo mais na questão da percepção da beleza e da harmonia de um quadro, de uma sinfonia ou de uma paisagem, pergunto se essa percepção é um exercício apenas do sentido da visão ou da audição? É compreensível que assim não seja, e isso se vê no fato de que diferentes pessoas sentem diferentemente a harmonia ou a beleza do que é observado. O que alguém gosta, outrem pode detestar. A forma diferenciada de apreciação por parte das pessoas baseia-se na individualidade delas. Há um sentido—além dos cinco sentidos corpóreos—presente na consciência de cada indivíduo que o faz perceber, a seu modo, aquelas “coisas” que transcendem o que os sentidos físicos percebem. É o sentido espiritual que engloba todos os sentidos ou sentimentos do homem; ex: alegria, felicidade, harmonia, paz, fraternidade, e também visão e audição. Dou um exemplo. Um compositor, antes de transcrever as tonalidades para a partitura, tem a música no seu “ouvido” espiritual. Ele “ouve” e percebe como os sons se mesclam e destacam entre os diversos instrumentos. Com sua experiência, põe a música no papel (traduz tons em notas) e ela, então, pode ser tocada e ouvida pelos outros. Até então só compositor a ouvia. E com que sentido? O sentido espiritual, pois ainda não havia a música tocada por algum instrumento. Em relação a Beethoven, com sua surdez, o fenômeno era patente e  nítido.

Esse contexto da criatividade na seqüência idéia-objeto está presente em cada ato criador. Primeiro o sentido espiritual vê, ouve, percebe, o objeto ou obra como idéia, que depois será percebido  pelos sentidos. A criação do mundo e do universo deu-se de igual modo. Antes de aparecer a criatura, já havia a idéia concebida na Mente divina. Sob este enfoque, o relato da criação registrada no primeiro capítulo do Gênesis, é uma sucessão de etapas de concepção pela Mente divina. “Haja” luzeiros no céu, plantas e animais, “e assim se fez”. Hoje vemos luzeiros no céu, plantas e animais porque Deus, a Mente, assim os concebeu. Inclui-se aí na criação divina o gênero humano que teve o privilégio de serem o homem e a mulher criados “à imagem e semelhança de Deus...E viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom” (Gen. 1:26,31).

Dá para perceber a harmonia nessa obra criativa? Sim, até podemos senti-la com os cinco sentidos (o canto dos pássaros, a textura das coisas, etc), podemos vê-la com os olhos, mas percebê-la isso é com o sentido espiritual. E há também aqui uma diversidade de sete características básicas do Criador, as quais permeiam toda a criação. São elas: Vida, Verdade, Amor, Espírito, Alma, Princípio e Mente, todas declaradas nas Escrituras de modo explícito ou implícito. Esse espectro variado forma a natureza completa do Ser infinito, eterno, supremo chamado Deus.

Todas as formas harmoniosas da natureza representam idéias dessa Natureza divina infinita. O homem—nome genérico―criado à imagem e semelhança de Deus, é também a imagem e semelhança do Espírito, do Amor, da Vida, da Mente (todos com letra maiúscula por serem sinônimos de Deus). É ao mesmo tempo idéia e representação, e para tanto reflete, manifesta e expressa as qualidades de sua fonte imortal. Todos esses atributos do homem (imagem, semelhança, idéia, reflexo, expressão, manifestação, representação) se desenvolvem e existem num grandioso concerto de harmonia ideal. O Mestre Cristo Jesus ponderou: “Sede vós perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celeste” (Mateus 5:48).

Os sete sinônimos de Deus, bem como os sete atributos referentes ao homem, poderíamos comparar aos sete tons da escala musical ou do espectro solar. O entrelaçamento complexo e variado de âmbito universal entre idéias e objetos gera a harmonia espiritual que inclui todos os aspectos da existência humana. A título de curiosidade, na literatura hebraica, o número “sete” representa a totalidade.

Mary Baker Eddy, (fundadora do movimento da Christian Science) em sua obra Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras*, relacionou a música com o homem do seguinte modo: “A harmonia no homem é tão bela  como na música, e a discordância é desnatural, irreal” (p. 276), e em outro trecho: “As melodias e toadas mentais da música mais suave superam  o som audível.  A música é o ritmo da cabeça e do coração” (p. 213).


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