domingo, 22 de dezembro de 2013

O “PAI NOSSO” -- ALGUMAS CONSIDERAÇÕES



INTRODUÇÃO

No mundo cristão é muito conhecida e repetida a oração-chave dos ensinamentos de Cristo Jesus. A Oração do Senhor, como é conhecida, está inserida no Sermão do Monte, a resenha do ministério do Mestre Cristão que aparece no Evangelho de Mateus, capítulos 5 a 7.
De muitas maneiras é usada a Oração do Senhor pelos adeptos dessa religião: em silenciosa reverência ou em voz audível, compreensivamente ou superficialmente.  Como toda palavra do Mestre, nela encontramos alimento para raciocínio metafísico e subsídio para entendimento esclarecedor.  Ela é à prova do tempo, é sempre atual, eficaz, adequada ao atendimento das necessidades humanas.  Pode ser empregada tanto no auge de uma batalha como no sacrossanto recôndito do pensamento; tanto em meio ao torvelinho da cidade como na paz de uma igreja. 

Com certeza o leitor terá lembranças do efeito sanador e benéfico da Oração do Senhor, ou lembrar-se-á de instâncias em que o uso dessa Oração não surtiu efeito algum.  Nestes casos a culpa não é da oração, mas dos fins e meios de emprego da mesma.  “Pedis e não recebeis, é porque pedis mal” (Tiago 4:3) diz a Bíblia.  A oração sincera a Deus nunca nos volta vazia.  “A oração que reforma o pecador e cura o doente, é uma fé absoluta em que tudo é possível a Deus – uma compreensão espiritual acerca dEle, um amor abnegado”, é a afirmação de abertura do capítulo A ORAÇÃO do livro  Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, escrito por Mary Baker Eddy (em 1875), a descobridora e fundadora da Christian Science , ou Ciência Cristã, que expõe modernamente o método de cura espiritual deixado por Cristo Jesus. Nesse sentido a autora dá uma preciosa dica do valor da Oração do Senhor. Diz ela no mesmo capítulo já mencionado: “Só à medida que nos elevarmos acima de toda sensitividade material e de todo o pecado, poderemos sentir a aspiração gerada no céu e a consciência espiritual que a Oração do Senhor indica—consciência que cura instantaneamente os doentes” (pg. 16). 

No desdobramento seguinte o leitor encontrará considerações sobre como entender o significado espiritual da Oração do Senhor.  A exposição é só um exemplo de como ordenar um raciocínio consistente.

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 “PAI NOSSO QUE ESTÁS NOS CÉUS”


PAI – nosso Mestre Cristo Jesus, ao falar de Deus como Pai, dava-nos a lição de entender nossa relação com o Ser Supremo: Pai e Filho! Um Pai que gera, ama, protege, ensina, acompanha de perto o homem e a mulher de Sua criação; filhos e filhas que expressam as qualidades herdadas do Pai eterno: pureza, espiritualidade, perfeição, harmonia, inteligência, eternidade, saúde, força, para citar apenas algumas. Se homens e mulheres manifestam as qualidades oriundas de Deus, então podemos falar dEle como Pai e Mãe. Nosso Pai-Mãe
 Nosso Mestre empregou no original a palavra “Aba” acompanhando a designação Pai, que dá um sentido íntimo, muito chegado e familiar: Papai. É como se ele dissesse: “Nosso Papai que está nos céus”.  
NOSSO- com esta palavra Jesus universalizou o conceito de que o homem é filho de Deus.  Todos–homem, mulher, criança―em todo o mundo participam dessa filiação espiritual, quer saibam ou não desse fato, quer sejam cristãos ou não, de qualquer raça ou condição social que sejam.  Ninguém―mas ninguém mesmo―está fora dessa filiação. Se Ele é Pai de todos, então Ele é o único, e esse conceito transparece em toda a oração. Faça esse exercício: repasse todas as seções tendo em mente que Deus é único; e bom-proveito na inspiração que obterá. 
CÉUS –significam a imensidão, ou melhor, a infinidade onde Deus está.Se pensarmos em céu como uma localidade e como morada do Pai celeste, perdemos a idéia da proximidade de Deus e talvez percamos a idéia de recorrer a Ele em caso de necessidade, pois Ele parecerá tão distante. 

A Bíblia é muito clara na palavra do Salmista de que “os céus e até os céus dos céus não O podem conter” (ver 2 Crônicas 2:6), dando com esta e outras passagens a idéia precisa da infinitude e da onipresença de Deus.  Onipresença e infinidade são correlatas: algo não pode ser infinito se não estiver em todos os lugares, e algo não pode ser onipresente se não for infinito.  Exatamente aqui onde me encontro, onde você está, nos rincões longínquos do globo ou na imensidão do espaço onde astronautas navegam, em todos os lugares está Deus.  Sem a presença de Deus que é Vida não poderiam os astronautas viver e vivenciar a extraordinária aventura de pisar em solo lunar, ou nalgum planeta de nosso sistema solar, ou futuramente em outra galáxia. 

Estar no céu” também pode significar viver em harmonia.  Deus, o bem, enche o céu, por isso no “céu” tudo é harmonia e aí não pode haver discórdia (angústia, pesar, doença, pecado, morte, fraqueza, dor).  Combina com este pensamento a idéia de Deus ser totalmente harmonioso. Se quiséssemos resumir em poucas palavras a grandiosidade espiritual da frase inicial da Oração do Senhor, poderíamos dizer:

“Nosso Pai-Mãe Deus, todo-harmonioso” (CeS, p.16)
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“SANTIFICADO SEJA O TEU NOME”

Com esta frase o Mestre reforça a idéia do parentesco próximo entre Deus e Seu(s) filho(s). Sua ordem ao dar essa oração aos seus discípulos foi: “vós orareis assim” (Mat. 6:9). Logo é do seu ensinamento e nosso aprendizado a nossa união com Deus. Essa comunhão consciente do orador com seu Criador está presente ao longo de toda a oração que estamos analisando: Tu, (o Pai) e eu (o filho). Este ponto é fundamental para nossa disposição de usar esta oração, pois com ela nos conscientizamos da presença de Deus e Seu amor, e de que somos unos com Ele.

Diante dessa consciência evitaremos a mera repetição das palavras da oração, assim como superaremos o mero aspecto invocativo e daremos acolhida ao sentido espiritual que é afirmativo.

SANTIFICADO – Deus já é santo, e não precisamos, nem podemos ou devemos querer santificá-Lo, vale dizer, torná-Lo santo. Devemos é curvar-nos ante Sua santidade infinita e única. Reconhecê-la sem reservas.

TEU – o único nome a ser santificado.

NOME – na literatura bíblica o significado do nome de Deus refere-se muito mais à Sua natureza divina do que à palavra em si. A respeito da natureza de Deus é a própria Bíblia que nos esclarece: Deus é Vida, Verdade, Amor, Espírito, todo-poderoso, onipresente, imutável, supremo, infinito. Tenhamos isso em mente quando nos referimos a Deus, e então não desrespeitaremos o 3° Mandamento de Deus, ou seja, não tomaremos o Seu Nome em vão (como quando se ouve dizer: se Deus quiser nosso time vai ganhar). Quem respeita ama, e amar a Deus é adorá-Lo na Sua natureza infinita e única. Ele é o único que deve ser adorado, pois não há outro Deus vivo. “Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a Ele darás culto” (Mat. 4:10). Por isso dizemos do Pai-Mãe

Único adorável ( CeS, p. 16)
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“VENHA O TEU REINO”

Os Evangelhos expõem claramente que Jesus, no seu ministério cristão, ensinava que o reino de Deus não é uma localidade, é antes um estado de espírito interior invisível aos sentidos. “Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: ‘Ei-lo aqui!’ Ou ‘Lá está!’ Porque o reino de Deus está dentro de vós” (Lucas 17: 20, 21). O reino de Deus é, pois, uma consciência onde as verdades acerca de Deus e Sua criação são reconhecidas como supremas e únicas.
Em um reino humano, a figura da majestade representa um poder único, supremo, e sua palavra é lei.  No reino de Deus –em nossa consciência– também Ele é  Único, Supremo, Eterno, Sua palavra é lei, Seu poder é infinito, Sua sabedoria abarca tudo,  e aí tudo é perfeita harmonia.  Essa consciência é sumamente desejável pois traz à nossa existência humana evidências da ação da lei divina do Amor, da Vida e da Verdade, evidências do tipo: confiança, compreensão, força, vitalidade, sabedoria, saúde, pureza, e assim por diante. 

Quando dizemos “Venha o Teu reino” mostramos nossa disposição de deixar que as leis sustentadoras de Deus dominem em nós e nosso ser, leis de manutenção, renovação, regeneração, provisão que sempre produzem harmonia e que estão sempre em ação e disponíveis. Leis que Cristo Jesus sempre empregou em seu ministério. 

Pois essas qualidades boas presentes diante de Deus no Seu reino, estão presentes também aqui –e agora– diante de Deus onipresente.  Elas sempre estão onde Deus está.  Desse modo não precisamos invocar a Deus para trazê-las à nossa experiência atual.  Elas já estão aqui, e nunca deixaram ou deixarão de estar conosco.  Tudo o que precisamos fazer é abrir os olhos de nossa consciência e vê-las aqui em ação. 

Por isso podemos dizer conscientemente que 

O Teu reino já veio; Tu estás sempre presente (CeS, p. 16)
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“FAÇA-SE A TUA VONTADE ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU”


É uma lição de humildade deixar que a vontade de Deus seja feita, mas também um ato de obediência à autoridade no Seu reino. O Mestre foi o melhor exemplo de todos os tempos do que acontece a alguém quando permite que a vontade divina domine seus assuntos. “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia Nele, e o mais Ele fará”, recomenda o Salmista (ver Salmo 37:5), e “Faço sempre o que Lhe agrada” (ver João 8:29) era o lema de Jesus. Como Cristãos bem faríamos se seguíssemos essas regras ao pé-da-letra. Não raro, quando deixamos a voluntariosidade ou a força de vontade humana dominar nossos afazeres ou decisões, não encontramos as melhores soluções ou não trilhamos os caminhos livres de problemas. 

Deixar que a boa vontade do Pai-Mãe se manifeste em nossas vidas, é como deixar que o Seu reino se estabeleça em nós.  Na terra (nos assuntos humanos) a vontade de Deus é tão boa e eficaz para o bem como é no céu (nos assuntos divinos).  A disposição de assumir essa postura mental requer humildade de nossa parte; não uma humildade mesquinha diante de nossos semelhantes, mas a humildade de reconhecer-se filho ou filha do divino Pai-Mãe, e de aceitar o que Ele nos preparou e nos dispensou.  Pode-se imaginar escassez, fome, peste, doença, discriminação, desonestidade como vindas da fonte de todo bem? 

O Pai-Mãe Deus supre todas nossas necessidades, cercando-nos com Seu amor infinito, que inclui tudo e todos.  Também não se deve imaginar que esses males e limitações tenham existência consentida pela Mente divina.  A Lei divina, ou vontade divina, na verdade, desfaz e destrói  todo mal, afastando-o de nossa consciência e experiência. Também podemos reconhecer que a vontade do único Deus é a única vontade no universo. 

Poderíamos humildemente dizer:

“Faze-nos saber que--como no céu, assim também na terra--Deus é onipotente, supremo”  (CeS, p. 17)
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 “O PÃO NOSSO DE CADA DIA DÁ-NOS HOJE”


Aqui o Mestre ensina-nos a buscar e reconhecer o Pai-Mãe Deus como fonte de nosso suprimento—a única fonte de suprimento. É fácil perceber-se que “pão” é termo genérico para identificar sustento, suprimento, alimento, inspiração, idéias, decisões, saúde. O Deus Pai-Mãe é na verdade o supridor de todo o bem, a todos, em todo lugar, a todo o momento. Essa é a vontade do Pai, que todos sejam supridos. 

A frase acima ganha um novo significado quando a vemos sob a ótica afirmativa em vez da suplicativa.   Quando afirmamos com certeza que Deus nos supre do que necessitamos, esta convicção torna-se gratidão, e esta, por sua vez, pode vir antes da manifestação visível do suprimento.  O próprio Mestre deu provas dessa disposição, como lemos em duas passagens retratadas nas Sagradas Escrituras: antes de ressuscitar Lázaro (“Graças Te dou porque me ouviste”) e antes da multiplicação de pães e peixes diante de milhares de ouvintes (“Dando graças partiu os pães...”). 

E ao darmos graças pelo alimento dado por Deus, certamente não nos queixaremos de sua qualidade, nem nos preocuparemos se o mesmo possa ter efeitos colaterais  indesejáveis, quer pela qualidade quer pela quantidade . Também não deixaremos a inteligência de lado ao sentarmos à mesa. O que o Pai-Mãe provê é o melhor para nós, e não devemos duvidar disso. Sejamos absolutos nessa disposição. 

As obras do Mestre Cristão eram exemplos para seus seguidores fazerem também.  O primeiro passo nesse caminho de seguidores, não será o de dar graças antes de ver a “graça divina” manifestar-se?  Ele mesmo esclareceu-nos ao afirmar: “Buscai em primeiro lugar o Seu reino e Sua justiça, e todas essas cousas vos serão acrescentadas” (Mateus 5:32, 33).  Os famintos por pão e água (necessidades físicas) assim como os famintos por justiça e afeição (necessidades morais e espirituais) serão todos satisfeitos pela infinita bondade de Deus. O salmista expôs um grande fato ao afirmar: “O Senhor dá graça e glória; nenhum bem sonega aos que andam retamente” (Salmo 84:11).   

Por isso tenhamos certeza de que nosso Pai-Mãe

Dá-nos graça para hoje; alimenta as afeições famintas  (CeS, p.17)
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“E PERDOA-NOS AS NOSSAS DÍVIDAS, ASSIM COMO NÓS TEMOS PERDOADO AOS NOSSOS DEVEDORES”

Eis o grande capítulo do Cristianismo do Cristo: o perdão movido pelo amor ao próximo.
Quando se lê os Evangelhos com atenção enfocada neste ponto crucial, percebe-se que ele permeia todo o ministério de Cristo Jesus, tanto nas suas pregações (“amai os vossos inimigos...” [Mat. 5: 44]) como nos seus exemplos de vida, culminantes na exclamação enquanto preso e escarnecido: “Pai perdoa-lhes . . .” (Lucas. 23:34).  A inclinação de perdoar e o exercício da misericórdia devem ser uma constante em nossa vida e ter lugar destacado em nossa escala de valores.  Jesus mandou Pedro perdoar setenta vezes sete: a Pedro que sugerira perdoar sete vezes, pensando ser um grande feito.  

Há um aspecto mental a ser considerado nesse tópico. Se alguém nos deve algum favor ou mesmo valor pecuniário, para haver um equilíbrio temos que considerar que nós também “devemos” algo a essa pessoa. Caso essa dívida não seja de valores mensuráveis, ela é de valores morais, tais como a consideração, o respeito. Sei de experiência de pessoas que receberam o que lhes era devido, após considerarem essas qualidades mentais e morais em seu coração. 

Por que este tópico é tão importante no Cristianismo?  Porque ele toca no âmago da natureza de Deus que é Amor.  Poderia alguém imaginar um “amor” que não perdoasse?  Assim o Deus-Pai-Mãe-Amor sempre nos perdoa as faltas das quais nos arrependemos. O nosso amor, imitando o Divino, também perdoa (“Nós amamos porque Ele nos amou primeiro...” [I João 4:19] ). 

A consciência humana que abriga o amor e a misericórdia reflete nitidamente o Amor divino.  Assim como neste Amor não há nenhum mal e não há lugar para rancor, remorso, ressentimento, ódio ou medo, assim no amor refletido essas manifestações malignas também não têm lugar.  A necessidade dos homens é que aprendam a manter sua consciência pura, isenta de mal ou ódio ou ressentimento, que se relacionem com os demais com espírito desarmado. 

O perdão definitivo nada mais é que a evidência de uma consciência pura que reflete o Amor divino.  Jesus Cristo dava muita importância a que seus seguidores aprendessem a manter o pensamento puro, isento de rixas, ressentimentos e provocações: “Sede vós perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste” (Mat. 5:48).  

Quando perdoamos nossos semelhantes assim como Deus nos perdoa, podemos dizer que
 
E o Amor se reflete em amor  (CeS, p. 17)
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“E NÃO NOS DEIXES CAIR EM TENTAÇÃO, MAS LIVRA-NOS DO MAL”


Esta frase tem um aspecto curioso no idioma português. A tradução da Bíblia ao nosso idioma, é uma das poucas (se não a única) a empregar o termo “não nos deixes cair em tentação”. Na maioria das versões, (e assim provavelmente é o original) é empregado “não nos induzas à tentação”. Uma e outra expressão merece nossa contemplação. Também aqui a forma afirmativa de dizer a frase é mais importante que a discrepância apontada nas traduções. Afirmar que Deus não nos deixa cair em tentação, ou que Ele não nos induz à tentação é bem mais importante e correto do que pedir duvidosamente que Ele assim não faça. 

TENTAÇÃO – aqui é que está o ponto mais importante da frase.  O que podemos entender por tentação?  É’ algo que nos vem de fora do nosso pensamento, ou algo que brota de dentro dele?  Tentação está sempre ligada a algo mau ou incorreto que estamos prestes a fazer, ou dizer, ou pensar.  Nossa consciência nos avisa que o procedimento está errado e deverá ser evitado.  Mas nossa vontade de realizá-lo entra em choque com a advertência da razão.  Fazer ou não fazer?!  Eis a guerra mental diante de uma decisão: uma quer, e a outra não deixa!  Nossa decisão revelará nossa inclinação e predominância que damos ao assunto em nossa escala de valores morais e espirituais.  A indecisão, ou a dúvida, gera um conflito, e este, por sua vez, sempre gera desarmonia.  E quando esta predomina no pensamento, acaba por aparecer na vivência humana.  Assim, toda tentação é desarmoniosa e, por isso, deve ser evitada.  Assim sendo, a tentação não provém de Deus; pois Ele é o bem, a harmonia, e dEle não pode provir a desarmonia. 

Quando uma tentação perdura ou se repete, isto é sinal de fraqueza em nosso posicionamento mental quanto às verdades de Deus e Sua criação.  Se estamos firmes em nossa compreensão espiritual, não admitiremos agir em desacordo às leis divinas ou Mandamentos, e facilmente superaremos a tentação, qualquer que seja.  O grande exemplo de superação de tentação está descrito na Bíblia no evangelho de Mateus (ver cap. 4:1-11).  O relato é cheio de ensinamentos, e não deve ser tomado ao pé-da-letra.  O tentador insinuava-se ao pensamento do homem Jesus. “Se és filho de Deus”, foi a primeira dúvida plantada.  “Transforma essas pedras em pães”, foi a segunda.  O Mestre reconheceu que isto seria usar o poder espiritual em favor de uma vontade humana.  Ele rejeitou a proposta do tentador com uma acertiva da Verdade divina escrita no Antigo Testamento: “está escrito”!  Firme e direto! 

O tentador lhe propõe outra ação e argumenta com algo escrito no Antigo Testamento, o Salmo 91.  Se o tentador fosse pessoa ruim, não saberia buscar naquele Salmo algo tão confortante como: “Ele envia Seus anjos para que te guardem”.  O homem Jesus conhecia  aquele texto, o que nos faz pensar em tentador como pensamentos duvidosos que apoquentavam o pensar do Mestre, o mesmo que fazem com o pensar humano.  A firmeza do Mestre não vacila.  “Também está escrito: não tentarás o Senhor, teu Deus”.

Novamente o tentador insinua que Jesus com seus poderes extraordinários poderia obter riquezas e prestígio sem conta, como ninguém sobre a terra; bastaria aceitar isso como bom e que o mal é tão real como o bem.  A firmeza de Jesus dá o golpe fatal nas pretensões malignas: “Retira-te Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás”.    Seu “Pai que está nos céus” não deixou o filho ser levado pela torrente de insinuações, que sob a perspectiva meramente humana pareciam todas normais ou até legítimas.  Podemos nós hoje confiar nesse apoio divino para superarmos as tentações modernas travestidas de prazer, modernidade, riquezas lotéricas ou ilegais, tecnologia medicinal, conhecimento científico material?  Sim, não só podemos como devemos.  É’ nossa obrigação Cristã. 
Então afirmaremos convictamente

“E Deus não nos deixa cair em tentação, mas livra-nos do pecado, da doença e da morte” (CeS, p. 17)

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“POIS TEU É O REINO, O PODER E A GLÓRIA PARA SEMPRE”

A oração agora parece sair do campo do diálogo (Pai e filho) para uma afirmação categórica da superioridade espiritual do Deus vivo. A frase inicia com um advérbio que atesta ser verdade ou real o que foi dito antes. “Dizemos isto ou aquilo pois estamos baseados na realidade suprema”
Deus é digno de toda honra em Suas qualidades eternas e infinitas: Rei supremo no universo, reconhecido como Vida eterna, Verdade imutável, Amor todo-abrangente, Mente que tudo sabe, Espírito onipotente, Princípio divino imutável (“em quem não há mudança ou sombra de variação...” [ver Tiago 1:17]).  Para obtermos um entendimento correto do Deus vivo, temos que ter em mente a infinidade, eternidade, imutabilidade, bondade, supremacia sobre tudo o que os sentidos materiais nos apresentam e que o pensar materialista aceita como real.  Reino, poder e glória indicam supremacia.
Nosso conceito acerca de Deus tem que ser absoluto no tocante às Suas qualidades e criações.  A Divindade não compartilha suas qualidades e atributos com seu adversário, o mal, o mundo, a matéria, a desonestidade, a imoralidade, a tristeza, a morte, a doença, o pecado, a escassez―em resumo, o diabo e seu mundo―e tudo o mais que sejamos tentados a aceitar, e que certamente não provém de Deus, Pai-Mãe. 
As Escrituras dão a entender que Deus é Tudo-em-tudo. Segue-se daí que nada possui realidade, nem existência, exceto a Mente divina e Suas idéias” (Ciência e Saúde, p. 331). Nada fora de Deus e Seu universo tem realidade ou presença ou poder. 
“Pois Deus é infinito, todo poder, todo Vida, Verdade, Amor;  está acima de tudo, e é Tudo” (CeS, p. 17).
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FINAL

As idéias recém expostas são nada mais que uma tentativa de desenvolver compreensivamente cada frase da Oração do Senhor e deveriam servir de encorajamento a que cada pessoa se anime a pensar profunda e detidamente sobre o significado e conteúdo espiritual da oração. As experiências individuais diferenciadas, o grau de entendimento, bem como a singeleza de coração ao analisar o PAI NOSSO conduzem certamente a outros pontos-de-vista ou outros argumentos, igualmente consistentes e satisfatórios. O interesse em entender espiritualmente as palavras do Mestre Cristão é que leva o indivíduo a aprofundar-se no tema e aproveitar-se praticamente desse mergulho batismal. A autora do livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, afirma, com base em sua experiência de sanadora, que a Oração do Senhor “atende a todas as necessidades humanas” (p. 16). Mas isso não ocorre se superficialmente recitarmos (com ou sem retórica) as sagradas palavras da oração ensinada por Jesus Cristo e que é um marco em seu ministério de pregação e de cura. Necessário é inteirar-se do que significa a oração. Para isso não há fórmulas, não há exigência de gestos ou posições corporais. Pureza de coração e genuíno amor a Deus são os requisitos.
Mary Baker Eddy dá a receita para êxito no emprego da Oração do Senhor.  Na página 16 do livro mencionado acima, ela diz: “Só à medida que nos elevamos acima de toda sensitividade material e de todo o pecado, poderemos sentir a aspiração gerada no céu e a consciência espiritual que a Oração do Senhor indica – consciência que cura instantaneamente os doentes.” Um estudo pormenorizado e detido desse parágrafo, destacaria tópicos tais como: elevar-se, toda sensitividade material, todo o pecado, aspiração celestial, consciência espiritual, resultado instantâneo. 

Caro Leitor, disponha-se a seguir esse conselho, não tanto pelos “pães e peixes”, mas pela elevação espiritual gerada pelo entendimento profundo do PAI NOSSO – a oração de NOSSO QUERIDO PAI-MÃE.

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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

NATAL NO ANO


Houve uma época há alguns anos, em que eu era assaltado por uma certa depressão nos dias anteriores ao Natal.  Dizem que é um mal que aflige um número considerável de pessoas.  Mas isso não me consolava.  Quanto mais próximo do Natal, mais forte era a sensação de desgosto.

Como Cristão devoto e estudioso dos assuntos bíblicos, essa tristeza pré-natalina não era  coerente com a expectativa de alegria que a comemoração da data enseja.  Como Cristão sabia também onde buscar um antídoto para esse peso de consciência.  Como Cientista Cristão meu procedimento foi o de buscar um entendimento claro do que realmente era envolvido.  O Mestre Cristão, Jesus Cristo, nos assegurou que quem nele cresse, conheceria a verdade, e “...a verdade”, disse, “vos libertará”.  Então, a verdade era o antídoto que eu deveria buscar e empregar.

Uma análise compenetrada revelou-me que a razão de minha tristeza radicava no excessivo materialismo que eu via ao redor de mim, e que se acentuava com a aproximação da data.  “Como não percebem as pessoas”, perguntava-me, “que o Natal tem que ser celebrado pelo seu valor espiritual, intrínseco à natureza da vida e da mensagem do Cristo?  Que barbaridade!”  Continuando com minha auto-análise, percebi que sempre que me concentrava no “barbarismo” materialista demonstrado generalizadamente, minha tristeza aparecia;  e sempre que aplicava o pensamento aos valores espirituais que o “menino de Belém” veio trazer à humanidade, meu pensamento era alegre.

Quando o processo mental esclareceu minha situação, entendi que minha sensibilidade humana ao modo mundanístico de festejar o Natal, em vez de celebrá-lo condignamente, não deveria empanar o brilho de minha sensibilidade espiritual aos valores espirituais.  Cada indivíduo tem sua responsabilidade no modo de conduzir a vida. Foi essa a lição que Jesus passou a Pedro ao dizer-lhe enfaticamente, “que te importa a ti?  Segue-me tu” (João 21:22).  O que eu precisava realmente era cuidar em que minha valoração da data natalina não fosse materialística, mas sim fosse compatível ao que havia aprendido desde criança. O valor ou importância do dia de Natal, não está apenas na história de um menino, mas muito mais na vida e exemplo de Cristo Jesus, nas suas palavras e nos seus atos, na renovação mental e espiritual que trouxe aos homens e na promessa de libertação de todos os males da humanidade.

Homens e mulheres, velhos e crianças, negros e brancos ou amarelos, ricos e pobres, analfabetos e letrados, empregados e desempregados, de qualquer geografia ou origem, todos podem aprender a conhecer e aplicar as lições do Cristianismo trazido ao nosso mundo por aquele que reconheceu sua filiação divina, e, por extensão, a nossa.  Afinal, não foi ele quem nos ensinou a orar “Pai Nosso...” - Pai de todos?

Hoje me rejubilo com o Natal e o que ele significa, e isso não é só para um dia, mas para todos os dias do ano.  Diariamente estudo na Bíblia e na literatura da Ciência Cristã o Cristianismo prático que Jesus Cristo legou a todos nós; e quando ponho em prática esse estudo vejo cristalizada a atualidade das palavras do Mestre no evangelho de S. João (14:12): “...aquele que crê em mim, fará também as obras que eu faço.”  Ver a promessa de Jesus realizar-se hoje em dia, não é motivo de orgulho pessoal, mas de alegria íntima pela fidelidade das palavras de Jesus Cristo.  “Aquele que crê em mim” refere-se a todos os tempos e lugares; é, pois, normal que os cristãos de hoje se incluam entre os que crêem.  E aquele que crê com a fé que o Mestre demonstrou e exigiu de seus seguidores, “fará também as obras” que ele fez.  Isso não é exclusividade de qualquer denominação ou igreja.  A condição é para o indivíduo crer, e então realizar as obras (curas e etc).

Celebrar o Natal dessa maneira, trouxe alegria para os meus natais, sem que meus familiares ficassem privados de um presente.  Também meus dias do ano são cheios de felicidade.  Não é essa a salvação que o Cristianismo oferece a cada pessoa?


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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Fé e esperança

Esperança é boa mas não suficiente.

É um tanto comum entre as pessoas que alimentem alguma dúvida quanto ao que é esperança e o que é fé. Ambas são positivas e podem referir-se tanto a condições humanas como a questões religiosas. Este último aspecto me parece o mais importante porque tem relação com o bem-estar das pessoas.

Os Cristãos têm na palavra inspirada da Bíblia um guia para estabelecer sua crença ou fé religiosa. É curioso o desdobramento conceitual dessas duas palavras ao longo do período bíblico. Enquanto o Antigo Testamento praticamente não usa a palavra “fé”, no Novo ela ocorre quatro vezes mais do que “esperança”. No Antigo Testamento não se falava em fé, mas os patriarcas da primitiva história israelita foram encorajados e desafiados a confiar irrestritamente na orientação e poder de Deus. Diríamos que essa confiança irrestrita era fé? ou era esperança?

Os Filhos de Israel na sua peregrinação de 40 anos no deserto rumo à terra prometida, tinham a esperança de encontrar um território onde estabelecer sua nação. Muitas vicissitudes e provações tiveram que passar ao perseguirem a esperança de dias melhores do que a escravidão no Egito. Havia um forte sentimento de poderem chegar a essa terra desconhecida. Quase 400 anos antes seus ancestrais a haviam deixado para salvarem suas vidas da fome. Agora esse sentimento os motivava a seguirem em frente no seu retorno. Quando a esperança vacilava e eles ameaçavam voltar atrás, a fé inabalável de seu líder os manteve unidos em torno de seu ideal, de cujo atingimento nem todos tivessem certeza.

Durante as quatro décadas de avanços e retrocessos, de marchas e contramarchas, houve momentos críticos que exigiram de Moisés a demonstração de confiança irrestrita—fé inabalável—na orientação do poder e da presença de Deus, a quem o patriarca havia aprendido a ver como o “Eu sou” todo-poderoso. Desde a labuta com faraó e seus magos, a sensacional passagem pelo Mar Vermelho, a inusitada provisão de água, carne e pão, a necessária proteção em guerras, até o recebimento das táboas dos Dez Mandamentos, Moisés foi um servo fiel que soube cumprir sua missão. As obras extraordinárias das quais foi o principal protagonista—há quem as chame de milagres—provaram do que a fé em Deus é capaz.

Ao longo de toda a Bíblia pode-se encontrar relatos de acontecimentos maravilhosos que nos deixariam boquiabertos se não houvesse explicação para eles. Os jovens hebreus lançados na fornalha babilônica, Daniel na cova dos leões, os feitos de Elias e Eliseu, as curas efetuadas por Cristo Jesus e seus apóstolos, são apenas exemplos pinçados de um universo de instâncias reais. O autor da epístola aos Hebreus coloca um conceito exato, qual uma verdade matemática, sobre como devemos entender a fé. Lemos: “A fé é estar certo de que vamos receber as coisas que esperamos, e ter certeza de que existem as coisas que não vemos”1 (Hebreus 11:1), e na epístola de Tiago lemos que a “fé sem obras é morta” (Tiago 2:26).

O Mestre Cristo Jesus, em seus ensinamentos aos discípulos de todas as eras, deixou bem claro, em várias ocasiões, que a fé deve não ser acompanhada de dúvidas para trazer bons resultados. “Quando orarem e pedirem alguma coisa, creiam [sem duvidar] que receberam, e assim tudo será dado a vocês” (Marcos 11:24), ponderou. Quantas vezes disse aos que procuraram sua ajuda: “a tua fé te salvou”! Ao amigo e discípulo Pedro, quando estava a afundar no mar revolto, Jesus repreendeu antes de salva-lo: “Como sua fé é pequena! Por que você duvidou?” (Mat. 14:31). Um estudo minucioso dos evangelhos com atenção enfocada na questão do lugar da fé no ministério de Jesus, com certeza abrirá amplas avenidas para o entendimento da fé cristã como ela deve ser.

Mary Baker Eddy, uma discípula moderna do Cristianismo prático, demonstrou cabalmente o significado de fé absoluta—fé com obras e não fé cega. Muitas curas realizou após sua própria de lesões internas diagnosticadas como intratáveis em uma paciente terminal. A investigação dessa cura à luz das Escrituras levou à descoberta da Ciência Cristã. Quando a fé vem acompanhada de entendimento espiritual e de amor fraternal, ela tem desdobramentos irreprimíveis a favor de soluções para um sofredor. Em sua obra Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras,  Eddy abre o primeiro capítulo assim: “A oração que reforma o pecador e cura o enfermo é uma fé absoluta em que tudo é possível a Deus—uma compreensão espiritual acerca dEle, um amor abnegado” (p. 1). Ela ensinou a seus alunos as regras da cura do Cristianismo sob um enfoque totalmente científico, que ela descobriu ao estudar exaustivamente as Sagradas Escrituras. No livro biográfico intitulado: “Mary Baker Eddy: Uma vida dedicada à cura” * é possível ver como ela amparava e acompanhava seus discípulos ao iniciarem sua prática pública de cura. Para obter a cura da doença ou a solução de problemas não basta a esperança, que é boa mas por vezes vacilante. É preciso “”.

A palavra fé tem também um significado genérico, como quando alguém diz professar a fé cristã, ou outra denominação religiosa. Neste caso o significado é paralelo com “crença” no sentido de identificar uma igreja. Mas quando surge a pergunta: “Você crê em Deus?”, os conceitos genéricos são inadequados. Se a resposta for do tipo: “Eu acredito em Deus”, fica patenteada a mera crença de que Ele exista. Enquanto a resposta: “Tenho fé em Deus”, implica a expectativa de um resultado prático. Ter fé em que Deus nos ama, protege e cura, tem desdobramentos práticos na vida da pessoa. Quando temos certeza de um certo resultado na aplicação de um medicamento, é porque temos fé nesse remédio, não é mesmo? Qual a diferença entre fé no remédio e fé em Deus? Diga-o você.

Conta a Bíblia que o Mestre certa vez perguntou sobre a fé a um homem que levara seu filho para ser curado de epilepsia. A resposta do pai angustiado: “Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé” (Marcos 9:24), revelou uma fé vacilante—ou seria esperança—que era exatamente o oposto da fé constante que Jesus Cristo praticava. Nós Cristãos precisamos examinar persistentemente como anda nossa fé. Se notarmos alguma semelhança com a resposta daquele pai é porque está na hora de elevar nossa confiança em Deus. É comum o exame mencionado ocorrer em meio a um problema que teime em não ceder a nossas orações. Em verdade, é preciso saber que o erro ou o mal não tem inteligência para teimar em não ir embora. A firmeza ou a certeza—a fé—de que a Verdade expulsa o erro demonstrará a falta de inteligência do erro, e conseqüentemente a nulidade de suas pretensões. Em Ciência e Saúde a Sra. Eddy esclarece: “Quando chegarmos a ter mais fé na verdade do ser do que no erro, mais fé no Espírito do que na matéria, mais fé em viver do que em morrer, mas fé em Deus do que no homem, então nenhuma suposição material nos poderá impedir de curar os doentes e de destruir o erro” (p. 368).

Como vai a nossa fé cristã? Vamos carrega-la de um lado para outro impedindo que seja plantada ou estabilizada? Uma fé que não é plantada não frutifica. Tem que plantar. Não importa se nossa fé seja grande ou pequena, forte ou fraca, se for plantada no reino de Deus, dará frutos.

Amigo, por favor, plante sua fé!

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¹ “A Bíblia na Linguagem de Hoje”

2 Yvonne Cachê von Fettweis e Robert Townsend Warneck, Christian Science Publishing Society, 2003.

Confiar, sem des-confiar

Confiança quanto a Deus deve ser irrestrita

Há um versículo bíblico que recentemente me fez pensar mais detidamente. Salmo 37:5: “Ponha sua vida nas mãos de Deus, confia nele, e Ele o ajudará” (Bíblia na Linguagem de Hoje). Primeiramente, já é um desafio pôr minha “vida nas mãos de Deus”, principalmente se eu não souber quem Ele é. Minha vida, meus sucessos, minhas conquistas, meus relacionamentos, meus dissabores, meus desejos, como posso deixar tudo aos cuidados de quem eu não conheço? Em se falando de situação humana tal indagação seria justificada. Mas sob a ótica metafísica e da fé religiosa a injunção das Sagradas Escrituras é plenamente realizável e necessária, se quisermos chegar ao resultado do versículo do Salmo: “Ele o ajudará”.

É certo que o motivo de deixar tudo nas mãos de Deus, como recomenda o versículo citado, não deve ser o bem-estar humano. Há uma necessidade espiritual a ser atendida antes de se obter o resultado: dispor-se a se entregar aos cuidados de Deus. É uma decisão de foro íntimo. Assunto entre o meu Pai-Mãe e eu. Se eu deixar que palavras expressem o momento ou o recolhimento dessa decisão—se eu alardear para os quatro cantos do mundo que pretendo agir assim—provavelmente estarei enterrando essa força interior de origem divina numa montanha de mundanismo e materialismo, e o resultado não será o mesmo. Também não estarei confiando Nele, mas sim numa soma de circunstâncias desejadamente favoráveis, fato que impedirá que eu veja a ajuda divina se manifestar em minha vida e em meus afazeres.

 Aliás, as palavras não conseguem expressar toda a significância desse direcionamento mental de nossa vida. Experimenta falar com alguém sobre confiar em Deus; convença-o de tua disposição. Depois, quando estiveres sozinho, repita-o mentalmente para ti mesmo. Irás perceber que as palavras soam diferentemente, pois ou estás te dirigindo a ti mesmo ou a Deus. Não há outro interlocutor. A oração silenciosa faz esse mesmo efeito. É como um diálogo com o Pai-Mãe. A resposta divina virá nesse mesmo contexto, mas os resultados dessa comunhão espiritual serão visíveis a ti e aos outros. Foi isso que o Mestre cristão ensinou e que foi registrado no evangelho de Mateus: “Tu, quando orares,... orarás a teu Pai que está em secreto; e teu Pai que vê em secreto, te recompensará” (6:6). Tudo no foro íntimo da consciência do indivíduo.

O aspecto prático de tal postura mental tenho visto em minha experiência pessoal. Foi algo que aprendi com minha mãe, que era praticista da Ciência Cristã. Dizia ela: “Quando tens um projeto importante na tua vida, trata de mantê-lo sob o domínio da Mente divina. Se ficares contando a todo mundo o que desejas realizar, então terás o assunto sob domínio público”. Este domínio público é nada mais nada menos que a ingerência de pensamentos e interesses humanos em nossos assuntos, ingerência que às vezes vem acompanhada de invejas e ciúmes que só lançam pedras em nosso caminho. Uma viagem importante, a compra de uma casa ou um bem, uma mudança de endereço são exemplos de projetos particulares cujo desdobramento é tanto mais suave e desimpedido quanto menos for divulgado entre pessoas que não precisam saber deles. Gosto da expressão de Mary Baker Eddy em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras*  onde ela aconselha a não afogarmos “nossos desejos verdadeiros numa torrente de palavras” (p.13).

Desejaria voltar ao versículo do Salmo citado no início: “Confia nEle”.  A palavra confiança encontra toda uma família de palavras afins: certeza, fé, convicção. Há nelas alguma conotação material? Não! Elas pertencem ao reino mental, e bem faríamos se as cultivássemos com relação ao reino do Divino. Confiar em Deus tem tudo a ver com certeza absoluta, fé absoluta, convicção espiritual. Não vale o ditado popular de “confiar, desconfiando”. Quando confiamos em Deus não titubeamos (ante uma decisão), não vacilamos (ante provações ou provas acadêmicas), não duvidamos (ante adversidades). Qualquer titubeio ou vacilação ou dúvida passa primeiro pelo pensamento da pessoa; mas estando esse pensamento alicerçado na confiança em Deus essas ameaças não se concretizam em sua vida e seus afazeres e compromissos.

Na Bíblia encontramos muitas promessas divinas a respeito do bem-estar de Seus filhos, como no livro de Jeremias: “Porque te restaurarei a saúde e curarei as tuas chagas” (30:17). Acaso consideramos essa promessa como apenas consolo? Deus cumpre todas suas promessas. Podemos confiar nEle? Não só podemos como devemos! O versículo citado nos dá a certeza do apoio do Amor divino em nosso favor no caso de doenças ou moléstias. Entra aqui aquele foro íntimo do entendimento de que quem fez―e faz―a promessa é quem detém todo o poder, que é o bem, que conhece tudo, que ama a todos sem distinção ou discriminação. Pensar nos verbos do versículo no presente em vez de futuro demonstra-nos a atualidade e realidade eterna do bem prometido.

“Os maus pensamentos, a cobiça e os propósitos maliciosos não podem ir, como pólen errante, de uma para outra mente humana e ali achar alojamento,... se a virtude e a verdade formam forte defesa” diz Mary Baker Eddy, descobridora da Ciência Cristã, em seu livro-texto (CeS, pp. 235, 236). A “forte defesa” é a consciência estabelecida em Deus. Essa consciência é também a melhor defesa contra males físicos. Jesus Cristo alicerçou seu ministério numa fé absoluta no poder de Deus, na superioridade do Espírito sobre a matéria. A Bíblia contém inúmeras referências a essa idéia de confiança, certeza, convicção. Eddy baseou-se nessa verdade ao realizar sua obra de cura. Fruto de sua experiência ela escreveu em Ciência e Saúde: “Só mediante uma confiança radical na verdade, é que o poder curativo da verdade pode ser realizado” (p. 167).


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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O conceito científico de saúde


O sistema de cura espiritual foi apresentado ao mundo moderno há mais de um século. Sua fundadora, Mary Baker Eddy, expôs em sua obra Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras* esse sistema que trouxe à luz o método de Cristo para curar  de modo espiritual os males que afligem a humanidade. O livro-texto da Ciência Cristã traz muitas regras de cura para o estudioso aplicar e obter resultado. Uma dessas regras encontrei há algum tempo no capítulo A prática da Ciência Cristã: “Estabelece o conceito científico de saúde, e aliviarás o órgão oprimido. A inflamação, a decomposição ou o depósito cessarão, e o órgão afetado recuperará suas funções sadias” (p. 373).

Uma regra metafísica não se aprende decorando as palavras, nem se aplica repetindo-a várias e várias vezes. Uma regra metafísica deve ser compreendida para ser demonstrada, como um teorema de geometria. Uma aplicação correta da regra de cura apresenta sempre um resultado seguro e benéfico, embora este não deva ser a motivação do uso daquela. A regra contém sempre verdades metafísicas, as quais nos compete apreender e guardar na consciência. Essas verdades presentes conscientemente no pensamento produzem neste a eliminação de medos e crenças errôneas projetadas no estado material. Essa superação de pensamentos doentios se evidencia no funcionamento harmonioso do organismo.

A regra de cura citada anteriormente é bem simples: estabelecer o conceito científico de saúde. Como? Eu aprendi a responder essa indagação analisando palavra por palavra e obtendo o significado e substância de cada uma. Estabelecer, p. ex., me diz que o conceito deve ser estável, firmado numa só base, não oscilante entre duas bases opostas, o que só cria dúvidas. Algo estabelecido não deixa dúvidas. A Oração Diária dada pela Sra. Eddy no Manual da Igreja traz embutida a mesma idéia: “Estabeleça-se em mim o reino da Verdade, da Vida e do Amor divinos, eliminando de mim todo o pecado” (Manual, p. 41). Tal como aqui o reino infinito de Deus elimina todo o pecado, assim o conceito correto de saúde elimina toda crença de doença. Firmeza é a palavra chave.

O aspecto científico que o conceito de saúde deve ter foi um ponto importante de minha pesquisa. De imediato descartei a ciência física, posto que a mesma tende a aceitar as evidências físicas como realidade--evidências de doença, moléstias, fraqueza--em vez de curá-las, contrariando, assim, o resultado apontado na citação do livro Ciência e Saúde. Para algo ter caráter científico, tem que ter base em uma causa e ter efeitos dessa causa, tem que ser universal, permanente, valer para todos, e ter resultados certos quando a regra é aplicada corretamente. O conceito científico de saúde tem a causa baseada no bem infinito, Deus, o Princípio Vida-Verdade-Amor de tudo o que realmente existe; vale para todos em todos os tempos e lugares; tem resultado certo; pode ser aplicado para si e para outros. Age no pensamento como uma lei de regeneração, recuperação, fortalecimento, revigoramento, é vivificante e traz a paz. Toda pessoa pode usá-lo—paciente, praticista ou médico, leigo ou letrado, jovem ou idoso, homem ou mulher. O melhor sinônimo para conceito científico é conceito metafísico.

Estamos falando de saúde e como entendê-la corretamente. Ao pensamento humano a saúde é ação harmoniosa das as funções do organismo. No entanto, pensamento humano cerca a saúde física de muitos temores e dependura neles suas crenças e preocupações: idade, contágio, clima, hereditariedade, força ou fraqueza, e assim por diante. Para assegurá-la emprega meios e recursos materiais, sempre acossado pelo temor de algo pior possa acontecer e sem saber como libertar-se disso. A abordagem da regra de cura sob enfoque neste artigo é totalmente oposta. Um conceito metafísico ou forma de pensar metafísica isola o medo e as preocupações em torno do corpo. Busca entender a saúde como uma manifestação da natureza infinita da Vida, Deus. Nela sempre há harmonia, que é inatacável pelos males e crenças humanos. A saúde que expressa Vida é permanente, forte, independente de condições climáticas ou de contágio. Com este fato em mente, a doença sai fora de nosso circuito mental e pessoal. Temos outra visão de nossa vida e nossa natureza como filhos de Deus.

A descobridora da Ciência Cristã identifica essa visão espiritual que Cristo Jesus expressava, no livro Ciência e Saúde: “Jesus via na Ciência o homem perfeito... Nesse homem perfeito o Salvador via a própria semelhança de Deus, e esse modo correto de ver o homem curava aos doentes” (p. 476,7). O conceito científico ou metafísico de saúde é nada menos que essa visão espiritual que o Mestre exercia em seu ministério e que ensinou a seus seguidores. As curas que realizou provinham dessa visão ou modo de pensar baseado na perfeição do homem como imagem do Deus perfeito. A cura, ou restabelecimento da saúde, sempre acompanha o exercício do conceito metafísico, que está disponível a toda humanidade. Mas devemos ter o cuidado de não aplicá-lo visando ou desejando a cura física. A substância espiritual do conceito é mais importante do que a melhoria do corpo, por mais desejável que seja. Alguém poderia objetar: “Mas se eu for acometido de um mal, não posso usar o recurso espiritual para ficar livre?” Quando a intenção da cura vem antes do exercício do conceito científico da cura, isso caracteriza a interferência da vontade humana na ação do Espírito, como se Deus não tivesse a vontade de nos sustentar perfeitamente. “Eu quero ficar bom, por isso uso a regra” é uma expressão nitidamente equivocada do uso do recurso espiritual. Por outro lado, a certeza—a fé―do resultado benéfico está implícita no uso da regra. Eddy expõe um fato, fruto de sua experiência na prática de cura metafísica, que esclarece o que foi dito: “O corpo melhora sob o mesmo regime que espiritualiza o pensamento; e se a saúde não se manifesta sob esse regime, isso prova que omedo está governando o corpo” (Ciência e Saúde, 370).

Há alguns dias estava me ocupando com a frase do Ciência e Saúde indicada no início; estava matutando sobre seu significado para me apropriar do conteúdo. Certa noite, antes de ir dormir, fui acometido de fortes dores na espalda esquerda. Era difícil mover o braço sem sentir pontadas de dor. Não me assustei com essa agressão à minha integridade física; ao contrário, foi um incentivo a mais para compreender o sentido espiritual da frase em que vinha pensando. À medida que ia entendo melhor o significado do conceito científico de saúde, novas perspectivas da Verdade iam-se abrindo; senti uma grande alegria interior com o progresso espiritual. Não sentia mais dor; ela ficou esquecida até o dia seguinte, e nunca mais se manifestou.

Essa linha de entendimento, aqui aplicada à saúde, pode ser empregada para outras direções. Experimente, caro leitor, aplicar a regra de cura a outras situações. Exemplo: Estabelece o conceito científico de amizade, e aliviarás uma relação extremada. Ou então: Estabelece o conceito científico de sabedoria, e aliviarás o medo de provas ou vestibular. Faça mais exercícios com santidade, capacidade, ordem, força, eternidade. Aproprie-se do conceito que nada mais é que uma visão espiritual do caso. Quanto mais universalizada essa visão, mais cristão você será e melhor conduzirá seu próprio ministério de cura cristã e espiritual.

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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O ponto mais importante

Aprendendo a ver as coisas com outro foco

Em sua obra Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras,  Mary Baker Eddy, descobridora da Ciência Cristã, lança um repto aos pensadores desta época:  “O que deveríamos considerar como substância – aquilo que erra, muda e morre, o mutável e mortal,  ou o infalível, imutável e imortal? (p.278).

Pesquisando em dicionário o significado da palavra substância e seus correlatos, encontrei entre outros conceitos : “essência; o ponto mais importante”.  Isso me fez indagar: “O que é substancial ou essencial num objeto?  O ‘mutável e mortal’ ou o ‘imutável e imortal’?  Olhando para uma mesa diante de mim, perguntei-me novamente: “O que nela é substancial?  A forma; o material; a estética; as dimensões?”  Vi que nenhum desses aspectos sobrepujava os outros em importância.  Mas a mesa deveria ter um ponto substancial ou essencial, e este pareceu-me, de repente,  não estar na composição material do objeto.

Para que a mesa viesse a existir, o que deve ter precedido seu aparecimento físico?  Com toda a certeza foi a idéia concebida pelo marceneiro que construiu a mesa.  Em seu pensamento a imagem da mesa estava completa: forma, dimensões, material, cor, etc.  Com esta concepção em mente,  juntou os materiais necessários, bem como as ferramentas, e, com seu talento e conhecimento, trabalhou até que o objeto representasse sua concepção.  A partir de então, o que as pessoas veriam seria um objeto, que representava uma idéia.

Se agora viesse alguém que danificasse ou mesmo destruísse a mesa visível, o que teria acontecido  à idéia?  Nada, absolutamente!  O profissional reproduziria outro objeto igualzinho, ou tantos quantos desejasse.  Quantas idéias seriam necessárias para fazer milhares de mesas?  Nada mais que uma!  E enquanto o marceneiro não alterasse sua concepção, a reprodução de objetos far-se-ia sem alteração. 

Eis um aspecto importante da questão da mesa, concluí.  O objeto que vemos e usamos, perceptível aos sentidos físicos, tem algo importante na sua idéia original e que não é percebido pelos mesmos sentidos.  A mesa-objeto só veio a ter existência garantida pela existência da idéia que lhe deu origem, e nisso vi o ponto fundamental da questão.  Além disso, o objeto pode sofrer danos ou decomposição.  A idéia fica ilesa na consciência do marceneiro.

Voltando à pergunta citada no início deste artigo sobre o que deveria ser considerado como substância, vejamos algumas características da mesa-idéia e da mesa-objeto: uma é duradoura, infalível, indestrutível; o outro é falível, corruptível, temporal.  A idéia é original, o objeto é derivado da idéia e não pode existir sem ela.  Poderíamos fazer uma lista de argumentos, mas não é difícil perceber-se que a substância da mesa está na idéia original, ou melhor dito, é a idéia , pois ela é a parte mais importante!

A coisa material que vemos e percebemos, em verdade, é o objeto da idéia.  Sua concretização aos sentidos está ligada ao objetivo e utilidade idealizados e presentes na concepção da idéia.  O objeto não é a materialização da idéia, pois nesse caso ela deixaria de existir como tal.  Todas as funções que o objeto deve realizar foram antes concebidas pelo autor da idéia, e nela incluídas de modo harmonioso, perfeito, satisfatório, útil.  O objeto mostra o que o autor da idéia queria expressar.

O apóstolo Paulo deve ter tido esse entendimento, pois lemos numa de suas epístolas aos Coríntios: “Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as coisas que se vêem são temporais e as que se não vêem são eternas” (II Cor. 4:18).  Paulo tinha aprendido a atentar para os pontos mais importantes das coisas.

Naturalmente, esse raciocínio se aplica a qualquer objeto ou engenho material, desde os mais simples como uma mesa, até os mais complexos computadores ou aparatos espaciais.  Este enfoque faz-nos descobrir algo extraordinário e maravilhoso – na verdade, nós vivemos em um mundo de idéias!  Idéias que são boas, harmoniosas e perfeitas.  Nesse mundo de idéias gozamos da liberdade, utilidade e valor fornecidas por essas mesmas idéias.  É um mundo maravilhoso!

Este enfoque metafísico não é meramente filosófico ou teórico.  Em verdade, traz à experiência humana o predomínio claro do Espírito sobre a matéria.  Nosso Mestre Cristo Jesus deixou isso bem claro em seu ministério entre os homens.  Na Bíblia encontramos muitos relatos de suas demonstrações de domínio sobre as limitações materiais que o cercavam e confrontavam.  Imediatamente nos vem ao pensamento os incidentes da multiplicação dos pães e peixes, a transformação da água em vinho, o acalmar da tempestade.  Até as curas podem ser incluídas nesse conceito de que o homem representa uma idéia de Deus, perfeita, harmoniosa, imortal, funcional.

Todo aquele que lança mão dessa compreensão de substância pode ver evidências da ação desse predomínio espiritual sobre circunstâncias materiais.  Para mim isso ficou comprovado numa pequena experiência que passei quando ainda jovem.  Coube a mim abrir, certo dia a porta da loja da família.  Nesse dia, o forte cadeado que a trancava, não “quis” abrir e permaneceu fechado.  Após várias tentativas infrutíferas, pus-me a orar pois tinha necessidade de entrar na loja.  Minha oração baseou-se na substância espiritual, e também que o objeto havia sido concebido e feito para funcionar e não para ficar “emburrado”, alterando a funcionalidade de sua concepção.  Quando isso ficou bem claro no meu pensamento, o cadeado abriu normalmente.

A Sra. Eddy explica: “Substância significa mais do que matéria; é a glória e permanência do Espírito” (Escritos Miscelâneos, p.47).  Eis o ponto importante!


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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Matrimônio

Importantes deveres morais diante do matrimônio; ver 6. Mandamento.

Jesus Cristo sempre era provocado pelos fariseus que buscavam ocasião para condenar nosso Mestre. Em Mateus 19 lemos sobre a altercação provocada pela questão levada a Jesus a respeito  de casamento, divórcio, etc. Queriam ver se ele daria com a língua nos dentes sobre uma questão legal, já que em assuntos religiosos eles ficavam para trás, longe. De outra feita levaram-lhe uma mulher flagrada em adultério: “Tu pois o que dizes?” (João 8:5)

O mestre defendia a pureza e igualdade de direitos no matrimonio, sem perder de vista a necessária moralidade. “Quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra comete adultério” (19:9). (Já naquele tempo?) Adultério era coisa séria diante da lei israelita. (Não deveria ser hoje também para nós?) Nessa altura os próprios discípulos de Jesus entraram na discussão. “Se é assim, então o melhor é não casar”. Sentiram que estava duro o discurso do Mestre.

A resposta do Mestre trouxe, então, um “rolo” que eu também não entendi. Na tradução de João Ferreira de Almeida diz: “Há eunucos de  nascença; há outros a quem os homens fizeram tais; e há outros que a si mesmo se fizeram eunucos, por causa do reino dos céus” (v. 12). Muito estranhas essas palavras do Mestre Cristão. Busquei na versão moderna (NTLH―Bíblia na Linguagem de Hoje) o versículo referido e ali encontrei a expressão “os que não se casam” em vez da palavra eunucos que, aliás, não aparece nos outros evangelhos.  Consta nessa versão: “Pois há motivos diferentes que impedem alguns de casar: uns, porque nasceram assim; outros, porque os homens os fizeram ficar assim”;  até aqui a resposta aos fariseus por sua mentalidade mundana. A conclusão diz: “e outros não se casam  por causa do reino do céu”, que era o caso dele, Jesus.

Em outra ocasião Jesus declarou: “Na ressurreição não se casam nem se dão em casamento, mas serão como anjos nos céus” (Mateus 22:30). Aqui o Mestre colou o selo da espiritualidade na questão. Ele não era afeito a questões e debates pessoais sobre assuntos humanos; tinha muito trabalho a realizar curando as necessidades reais do povo. Está aí a lição a aprender desse episódio.

Quando somos involuntariamente sugados para um debate improdutivo a respeito de condições e comportamentos humanos, não devemos perder tempo tentando explicar sob a ótica metafísica assuntos regulados por leis humanas. Estas são suficientes para estabelecer a harmonia na sociedade.  É muito mais importante manter o pensamento alinhado com o Principio divino e manter vivo em nossa mente o pendor para coisas do Espírito.

Há uma questão nesse imbróglio social que o gênero humano poderia—e deveria—aprender a respeitar: a sagrada condição do matrimônio. A notável pensadora religiosa do Século XIX, Mary Baker Eddy, dedica um capítulo inteiro de sua obra Ciência e Saúde com Chave das Escrituras a analisar e comentar o matrimônio, e ali podem ser encontrados muitos conselhos úteis e admoestações importantes à sociedade atual.  Dou exemplos de algumas pérolas desse capítulo: “O matrimônio é o dispositivo legal e moral para a geração entre a espécie humana... A infidelidade ao pacto matrimonial é o flagelo social de todas as raças... O Mandamento: ‘Não adulterarás’, não é menos imperativo que este: ‘Não matarás’ ” (p. 56). Ambos os mandamentos do Decálogo de Moisés são, hoje em dia, largamente desrespeitados por uma sociedade onde atitudes grosseiras e infiéis são noticiadas diariamente.

A comunidade cristã tem dever e privilégio, baseados na fé, de alimentar a humanidade com exemplos enaltecedores e nobres de moralidade e espiritualidade. Temos que fazer nossa luz cristã brilhar para a humanidade. Projetar sobre o pensamento do gênero humano ideais mais salutares e benéficos.

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- Para entender a Bíblia

Frases bíblicas que requerem inspiração para serem compreendidas

Há nas Sagradas Escrituras afirmações de cunho espiritual às quais nem sempre nos atemos para uma reflexão a respeito. Disse uma conhecida líder religiosa contemporânea* que a “Ciência divina, ensinada na linguagem original da Bíblia, veio por inspiração e necessita de inspiração para ser compreendida”. Tinha razão! Há duas frases bíblicas muito usadas e conhecidas que a mim custaram anos de observação até entender seu significado espiritual.

Disse o sábio rei Salomão em um dos seus livros: “De tudo o que se tem ouvido a suma é: teme a Deus e guarda seus mandamentos; porque isso é o dever de todo homem” (Ecles.  12: 13). Esta frase lida assim como está escrita tem um significado direto sobre o que o homem deve fazer e que é o resumo da doutrina cristã. Mas pensaremos duas ou até dez vezes até assimilar o significado quando é omitida a expressão “o dever de” que não está no original. Por que faríamos isso? É um exercício metafísico.

Leia e repense a frase: “Teme a Deus e guarda seus mandamentos, porque isso é todo homem”. Gramaticalmente parece faltar algum artigo; mas metafisicamente ela está completa. “Porque isso é todo homem”, vale dizer ‘porque isso é o todo do homem’, esta é sua essência real contida no amor e na obediência ao Ser Supremo. O ser do homem inteiro está contido nessa idéia de união a Deus por meio do amor e obediência. Nada nos aproxima mais da Divindade do que essas atitudes. Podemos conscientemente dedicar nossa vida a tal ideal, e sentiremos a presença do Pai-Mãe em todos nossos afazeres, em todos nossos caminhos. A Bíblia na versão recente NTLH registra o versículo mencionado como: “De tudo o que foi dito a conclusão é esta: teme a Deus e obedeça seus mandamentos porque para isso que fomos criados”. Confirmando a ausência da expressão “o dever de”.

Outra frase que me fez e faz pensar de modo mais elevado foi proferida por Jesus Cristo. Aparece no evangelho de Lucas, quando o Mestre fazia sua pregação ao povo: “Ao que te bate numa face, volta-lhe também a outra” (6: 39). O ensinamento refere-se à longanimidade que deve ser demonstrada pelos cristãos. Literalmente não é uma asserção fácil de obedecer, mas obedecida mostra um sólido caráter Cristão da pessoa que aceita e pratica os ensinamentos de Cristo Jesus.

A nível do ser humano, a cena de bofetada e renúncia parece não condizer com a realidade. O Mestre costumava falar por simbolismo. Que outra face tem uma pessoa? A face batida é a material ou corpórea; a outra face, então, é a espiritual. Mostrar esta face significa demonstrar nosso lado espiritual do qual a longanimidade faz parte. Manter no pensamento a compreensão espiritualizada acerca do homem—todos os homens―como filho de Deus é a forma de mostrar a “outra face”. Moralmente somos esbofeteados a todo momento e de muitas maneiras, seja em palavras seja em imagens, na TV ou em filmes, em jornais ou livros. Então é importante sabermos manter nossa face espiritual acima e fora do alcance do mundo material.

A espiritualidade demonstrada por alguém não é uma atitude de fraqueza moral, mas de fortaleza espiritual. Assim como a luz pode ser forte como um farol, também a espiritualidade pode brilhar a ponto de ofuscar pseudo-forças ou intenções materialistas. Assim demonstraremos nosso cristianismo em atos e não meramente em palavras.

·         Mary Baker Eddy, em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras

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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Um Deus total


Total e único: conceitos próximos e afins

Os cristãos têm sua fé lastrada nos ensinamentos bíblicos sobre Deus, Cristo, criação. Nas Sagradas Escrituras aprendemos a conhecer a natureza do Deus vivo, único, todo-poderoso, sempre-presente, todo-amoroso, Pai bondoso, único Criador, eterno, supremo, infinito, todo-sábio, perfeito, para só citar algumas referências. Essas características espirituais são reveladas ao longo dos dois Testamentos bíblicos e não é difícil de localizá-las nos textos inspirados. Também encontramos na Bíblia nomes atribuídos à Divindade e que não são meras qualidades. Vida, Verdade, Amor, Espírito (com letras maiúsculas para significar sinônimos de Deus) constituem a própria natureza de Deus e devem ser entendidos com as mesmas qualidades acima enumeradas. Assim saberíamos, por exemplo, que o Espírito é supremo e bondoso, que o Amor é eterno e todo-sábio, que a Vida é infinita e suprema, que a Verdade é todo-poderosa e única; e cada pessoa pode mentalmente desenvolver a relação sinônimos divinos com as qualidades divinas como melhor lhe agradar, pois cada indivíduo tem percepção diferenciada da realidade, e há aspectos que lhe dizem mais do que outros.

Além desses atributos explícitos oferecidos pela Bíblia, há indicações que nos permitem inferir outros sinônimos. Para ser todo-sábio Deus deve ser Mente infinita; para ser imutável Ele deve ser um Princípio imutável, e para ser todo-misericordioso deve ser Alma que a todos inclui.

Essas qualidades ou atributos divinos que apontam para a totalidade da natureza divina, são na Bíblia complementados por conceitos que enfaticamente mostram a unicidade de Deus. Em I Crônicas lemos a oração de Davi: “Senhor, ninguém há semelhante a ti, e não há outro Deus além de ti”(17:20).  E no livro do profeta Isaías lê-se: “Olhai para mim e sede salvos, vós todos os termos da terra; porque Eu sou Deus, e não há outro” (45:22). Assim, Deus além de ser “todo” poder é também o “único” poder, além de “toda” presença, é a “única” presença. A Mente que tudo sabe indica para a “única” Mente que sabe. Onipotência, onipresença, onisciência, palavras que facilmente identificam a característica de Deus como tudo ou total, também O identificam como o único a apresentar essas características. Os termos “tudo e um”, ou “todo e único”, em relação a Deus, são sinônimos.

Esse entendimento nos leva a perceber o caráter absoluto da natureza divina. “Uma vez falou Deus, duas vezes ouvi isto: Que o poder pertence a Deus” (Salmo 62:11). Quando dizemos que Deus tem todo o poder, automaticamente afirmamos que não há outro poder; Ele é o único poder. Nada afora Deus tem poder. Deus e todos Seus atributos são os únicos detentores da força, do poder, da sabedoria. Qualquer coisa fora de Deus ou contrária a Ele, então, não tem poder. Se Deus, o bem, a Vida, é onipresente e única presença, então os contrários de Deus (o mal, a morte, o vício, a fraqueza, etc.) não podem ao mesmo tempo estar presentes, ou ter poder. A natureza de Deus é absoluta, e isso não admite que Seus opostos tenham, ao mesmo tempo, as mesmas qualidades. Ou Deus tem poder, ou o mal tem poder. Ou Deus está presente, ou o mal está presente. Nossa opção determina a harmonia de nossa existência. Como Cristãos, certamente optaremos  pela supremacia de Deus, o bem, o que natural e logicamente nos leva ao entendimento de que o mal, oposto a Deus, não tem poder nem presença. É difícil aceitar isso? É difícil compreender isso? A aceitação do fato vem naturalmente com a compreensão do mesmo.

Ter uma idéia clara da natureza absoluta do Bem, ajuda-nos a ter uma idéia clara da natureza hedionda do mal. Deus, o Bem, sendo forte, o mal é fraco; o Bem presente, mal ausente; o Bem inteligente, mal não-inteligente; o Bem real, mal irreal. A veracidade destes fatos, conquanto aceita por nossa consciência, é contraposta pelo testemunho dos sentidos materiais.  Então, o que é que vamos aceitar como verdadeiro? É a própria Bíblia que nos orienta para ficarmos do lado de Deus, o Bem, por que, assim, encontraremos nossa salvação.

Durante muito tempo matutei sobre esses conceitos de “todo” e “único” referentes à divindade. Sempre busquei e busco um entendimento dos conceitos ofertados pelas Sagradas Escrituras. E vou compartilhar com meus leitores um raciocínio que me ilustrou e fez entender a correlação dos dois conceitos indicados acima.

Imaginem diante de vocês duas folhas de papel azul. Uma delas tem rabiscos e manchas de diversas cores. Pergunto: qual delas é toda azul? Vocês me respondem que é aquela que não tem manchas. Eu certamente concordo com vocês. Ela é toda azul, por que? Porque não tem outra cor; azul é a única cor. “Toda” e “única”: só é toda quando única, só é única quando toda.  Do mesmo modo, Deus só é Todo-poder quando é o único poder; toda-presença e única presença; toda realidade e única realidade.

NO Arauto da Ciência Cristã, exemplar Novembro 1993, está relatada a experiência  de um cidadão australiano quando deixou de fumar. Sua libertação foi rápida e natural enquanto orava o Pai Nosso pausadamente, refletindo cada frase e cada palavra, e tendo chegado à frase “Teu é o reino, o poder e a glória para sempre”. Naquele momento vislumbrou que todo o poder é de Deus, e de ninguém mais, nem mesmo do hábito de fumar. Esta visão da verdade, desse fato, foi o ponto de inflexão de sua experiência. Um só poder, o de Deus, o bem, e não de um vício que parecia escravizá-lo. Vêem, quando lhe ficou claro, quando teve a idéia clara sobre quem detém o poder, o falso poder do vício deixou de atormentá-lo. Isso é uma experiência de salvação, e experiências desse tipo estão à disposição de todos, quer o problema se chame doença, suprimento, ódio, violência, relações partidas.

Queridos leitores. Descubram para si a importância e o valor de saber que mantemos uma relação íntima com esse Deus infinito e absoluto conforme estive expondo acima, tomando por base o relato da criação exposto nos versículos 26 e 27 do primeiro capítulo do Gênesis: “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a semelhança... Criou Deus, pois, o homem à Sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Não se surpreendam se, de repente, sentirem um forte influxo de paz indescritível, como se estivessem diretamente ligados à poderosa presença de Deus. Esse momento sagrado pode traduzir-se em cura de algum mal físico ou solução de algum problema humano.

A respeito de resolver problemas humanos, quero compartilhar com vocês uma frase de Mary Baker Eddy, fundadora da Ciência Cristã, em sua obra Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras (um verdadeiro compêndio sobre espiritualidade, Cristianismo, saúde e filosofia): “É nossa ignorância acerca de Deus, o Princípio divino, que produz aparente desarmonia, e compreende-Lo corretamente restabelece a harmonia” (p. 390).


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Eu prefiro a paz!

É importante a contribuição individual para a paz no mundo

As guerras e os rumores de guerras sempre são inquietantes, tanto para os que estão no palco de operações quanto para os que à distância vêem e ouvem sobre as barbáries em andamento.

Mas o séquito de notícias que acompanham os tristes acontecimentos inclui também um chamamento de ação às pessoas de bem.  Mas o que pode fazer alguém que esteja longe da guerra para cooperar para a paz no mundo?  Não só pode como deve fazer o que estiver ao seu alcance―e a oração é esse algo que sempre pode ser feito, embora não seja exclusivo.

Os cépticos duvidarão que uma simples oração de um humilde cidadão ou cidadã possa resultar em algo palpável no tocante à paz global.  Os cépticos duvidam de tudo que não compreendem. Mas há muitas maneiras de demonstrar que há resultados práticos quando alguém age por motivos corretos. Todo indivíduo faz parte da humanidade e, sempre que alguém é envolvido na paz, a humanidade é ajudada.

Um conflito entre pessoas começa por uma delas.  Um conflito entre nações também começa por um indivíduo que, por sua posição ou poder, logra envolver toda uma nação. A paz entre pessoas igualmente começa pela ação de uma delas. A paz entre nações está ligada a indivíduos que, conjunta ou isoladamente, atuem nesse sentido. O Mestre Cristão no Sermão do Monte identificou a importância de pugnarmos pela paz.  Disse ele (Mateus 5:9): “Bem-aventurados os pacificadores ...” Quem são eles? Como se chamam? Alberto, João, José, Maria, etc,? Se qualquer nome pode aí ser incluído, então com certeza também o nosso. Isto mostra que não devemos furtar-nos de preencher nosso papel.

A nossa contribuição está na atmosfera de paz que geramos ao redor de nós, em nossa experiência humana, em nossa convivência com outros seres humanos. Uma existência pacífica―a nossa―é uma responsabilidade que não podemos delegar a outrem. Uma existência pacífica e pacificadora provém de uma consciência pacífica e pacificadora. Na consciência de cada indivíduo está a raiz, a origem, de palavras e atitudes que conduzem à tranqüilidade e paz ao seu redor. Se uma pessoa mantém pensamentos beligerantes quanto a outras pessoas―do tipo, rancor, crítica, ódio, ressentimento, inveja, ciúmes―ela não está produzindo uma atmosfera pacífica ao seu redor. Enquanto que palavras e atitudes de calma, paciência, compreensão, amor, fraternidade, respeito, p. ex., são pacificadoras. Quem ocupa seu pensamento com tais qualidades morais vive em paz e se torna como um grão de fermento em meio a uma massa mental diferente, se não hostil. A massa para o pão, se altera quimicamente em presença do fermento. O ambiente mental humano, em presença do fermento da espiritualidade, também se modifica.

 Pureza e singeleza de coração são as armas do Espírito para eliminar conflitos no indivíduo. Elas não são uma característica meramente humana; refletem os atributos de um ser superior a quem nos acostumamos chamar de Deus-Pai. Há um só Deus, Pai e Mãe de todos os homens a quem, corretamente denominados, chamaríamos de irmãos. Isto nos põe na condição de filhos de Deus, o que corresponde à segunda parte do versículo de Mateus mencionado acima: “... porque serão chamados filhos de Deus.”  Pacificadores! Filhos de Deus! Bem-aventurados! Podemos querer mais?

Isto está ao nosso alcance a cada dia, quando despertamos, quando estamos no lar, no trabalho, na escola, na rua, na igreja. Se saímos por aí xingando todo mundo de loucos, irresponsáveis, ladrões, bandidos, corruptos, burros, certamente não estaremos levando paz ao mundo; a resposta mais provável é um conflito. Mas quando saímos ao mundo e vemos nos outros um filho de Deus, como nós, estaremos levando nossa contribuição à paz mundial que, na verdade, é um grande somatório de pazes individuais.

Mary Baker Eddy, uma importante pensadora religiosa do Séc. XIX, expõe a profundidade e os reflexos na humanidade do fato da unicidade de Deus (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras,* p.340 ): “Um só Deus infinito, o bem eterno,  unifica homens e nações; constitui a fraternidade dos homens; põe fim às guerras; cumpre o preceito das Escrituras: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’; aniquila a idolatria pagã e a cristã - tudo o que está errado nos códigos sociais, civis, criminais, políticos e religiosos; estabelece a igualdade dos sexos; anula a maldição sobre o homem”.


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