“O passado é história.
O futuro é mistério.
O agora é premio, por isso o chamamos presente”.
A questão do
tempo acompanha a humanidade desde sempre. Diariamente nos vemos premidos pela
contagem das horas, ou por serem escassas ou por demorarem a passar. Conforme
as circunstâncias em que nos encontremos, o tempo parece jogar contra nós,
outras vezes jogamos com o tempo para encontrar soluções difíceis. Não raro a
gente se pergunta em que tempo se vive. Vivemos no presente, ou no passado, ou
no futuro? Existo agora! Vivo agora! Ontem vivi, amanhã viverei! Até com este
jogo de palavras podemos ver que existimos no presente. O passado revela o que fomos
humanamente: as atitudes que tomamos, os passos que demos, as decisões tomadas,
as experiências vividas. O futuro está por revelar quem seremos: as atitudes
que tomaremos, os passos que daremos, as decisões a serem tomadas, as
experiências que nos aguardam.
O fato de que
vivemos no presente nos desafia a dedicar nossos melhores esforços ao que
fazemos agora. Não devemos ficar a lamentar o bem que deixamos de fazer ontem;
se hoje fazemos o que é correto e justo, não nos lamentaremos amanhã. Atos de
solidariedade, amor, desprendimento, iniciativas de defesa ambiental ou
direitos humanos, trabalho voluntário com jovens ou idosos, são coisas de que
nunca nos arrependeremos; elas, por sua vez, enriquecem espiritualmente nossa
experiência terrestre, atual e futuramente. E há tanta coisa boa que podemos
fazer agora!
Os Cristãos
têm um incentivo especial para captar uma outra perspectiva do conceito do
tempo presente, pois o Mestre do Cristianismo prático e demonstrável trouxe à
luz com muito vigor o que é uma vivência guiada constantemente pelo conceito de
que a Vida é agora, isenta de tempo. Sua declaração aos fariseus de que “antes que Abraão existisse, EU SOU” (ver
João 8: 58) deixou-os de cabelo em pé, pois o patriarca havia existido quase
dois mil anos antes. “Ainda não tens
cinqüenta anos, e viste Abraão?” Os contemporâneos de Jesus não podiam
entendê-lo, a pesar da veracidade metafísica da afirmação. Eles, como nós até
hoje, avaliavam o tempo pelos anos solares. Jesus, por outro lado, tinha uma
visão (que podíamos dizer) “eterna” da Vida. A diferença conceitual tornou-se
um mal-entendido que levou os líderes religiosos da época a considerar Jesus
com blasfemo por ter-se feito igual a Deus. Que pena para eles não perceberem a
veracidade das afirmações de Cristo Jesus!
O Mestre não
inventou essa história de afirmar “Eu sou”. Um capítulo importante da história
do povo israelense foi o êxodo do cativeiro egípcio. Pois esse capítulo começou
com a revelação divina a Moisés numa sarça ardente ao ser encarregado de levar
o povo para a terra deles. “EU SOU me enviou
a vós outros...” foi o recado que levou aos filhos de Israel (Êxodo 3: 14).
Naquele momento Moisés percebeu a natureza eterna do Deus vivo que os
ancestrais haviam adorado. Não mais um Deus do passado ou do futuro, mas do
“Agora”. “Eu sou”, nada mais nem menos! Essa idéia ele devia levar ao povo, e
ele o fez fielmente, demonstrando o poder que acompanhava o pensamento
enaltecido: abrir o mar, fender a rocha para jorrar água, curar a irmã leprosa.
Ele sabia que o Deus todo-poderoso estava sempre--a todo o momento--com ele, e
isso ele vivenciou ao longo de sua carreira de Líder do povo hebreu.
Cristo Jesus
trouxe para seu ministério essa idéia de atualidade da Divindade e suas
manifestações. No episódio da ressurreição de seu amigo Lázaro (ver João 11), Jesus
teve um diálogo com Marta, a irmã de Lázaro que veio ao encontro do Mestre
quando este se aproximava da casa. Jesus estava tentando passar a mensagem de
que viera para ressuscitar Lázaro. “Eu
sei”, disse Marta, “que ele há de
ressurgir ... no último dia”, vale dizer, um dia, sabe lá quando, tudo
incerto. Jesus não era de aceitar postergações. Sabia o que o poder da Vida
podia realizar, e isso era atual. “Eu sou
a ressurreição”—atual, no tempo presente. É como se dissesse que o “EU SOU [Deus] é a ressurreição”, a Vida
atual, agora, sem demoras, não no futuro incerto.
O apóstolo
Paulo captou essa atualidade do poder divino e escreveu aos Coríntios: “Eis, agora, o dia sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação” (2 Cor.
6:2). Podemos grifar a palavra agora para realçar o tema em discussão e que era
o que Paulo tinha em mente. Mary Baker Eddy escreveu no livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras*,
referindo-se ao trecho mencionado: “
‘Eis, agora, o dia da salvação’—querendo
dizer, não que agora os homens têm de preparar-se para a salvação, ou a
segurança, num mundo futuro, mas que agora é o tempo de experimentarem
essa salvação em espírito e em vida” (p. 39).
O bem, agora;
depois também. Se pensarmos que o agora é eterno, sem dimensão temporal,
podemos concluir que o agora é a manifestação da eternidade. O “agora” que
existiu há dois mil anos também era eterno. O confronto tempo x eternidade
passa-se em nossa consciência. Na verdade, o tempo não faz parte da eternidade.
Normalmente julga-se eternidade o que irá existir sempre, algo a se passar no
futuro incerto. Enquanto o tempo parece um conceito mais real por que pode ser
medido de minuto a minuto, hora a hora, dia a dia, ou ser contado em tantos anos,
séculos ou milênios. Quando Jesus falou da vida eterna, ele usou o verbo no
tempo presente. “A vida eterna é esta...” (João 17:3) disse, deixando
claro que não se referia à vida após a morte.
Para
ajudar-nos a compreender esse conceito metafísico podemos recorrer à definição
de Dia, que aparece no Glossário de Ciência
e Saúde: “DIA. A irradiação da Vida;
luz, a idéia espiritual da Verdade e do Amor. ‘Houve tarde e manhã, o primeiro
dia.’ (Gênesis 1:5.) Os objetos do
tempo e dos sentidos desaparecem na iluminação da compreensão espiritual, e a Mente
mede o tempo de acordo com o bem que se desdobra. Esse desdobramento é o dia de
Deus...” (p. 584). Se em nosso dia-a-dia nos esforçamos por favorecer o
“desdobramento do bem”, com toda certeza estaremos ocupando nosso tempo da
melhor forma possível e produzindo eficientemente resultados harmoniosos.
Viveremos felizes com o que fazemos, e não nos sentiremos acossados pelas horas
ou afazeres. “Não tenho tempo!” É uma afirmação comum quando a gente não se
dispõe a fazer uma certa tarefa (denotando falta de amor), ou quando nossa
agenda está sobrecarregada. No entanto, sob a luz da eternidade, de fato
ninguém tem tempo. Ou, dito de outro modo, ninguém é subjugado pelo tempo;
todos somos isentos do passar do tempo.
Há alguns
anos passei por uma experiência que me deixou muito grato, por causa do
desdobramento geral do caso. Eu trabalhava numa firma de projetos no sul do
Brasil e, como coordenador de um projeto, precisei ir ao Rio de Janeiro para a entrega
de uma fase do trabalho. Na véspera do dia da viagem, ainda faltavam alguns
detalhes de finalização do relatório, os quais seriam terminados até a manhã
seguinte para que eu buscasse todo o material e fosse ao aeroporto. De manhã,
ao chegar no escritório qual não foi minha surpresa ao ver que o trabalho ainda
não estava concluído. Esperei pacientemente pela datilografia, cópias e
montagem final. Tudo me foi entregue quando faltavam menos de 60 minutos para
partida do vôo, mas eu ainda tinha que passar em casa e apanhar meus pertences,
que não estavam arrumados pois julgara, antes de sair, que sobraria tempo para
isso. A essa altura eu já estava orando, pois o nervosismo queria tomar conta
de mim. “Como é que vai ficar, se eu não pegar o avião para chegar a tempo na
hora marcada?” perguntava. Eu já tinha percebido que isso não iria ajudar em
nada. Minha oração voltou-se para Deus, a Mente divina, para encontrar a paz e
ter a tranqüilidade para fazer o ainda precisava ser feito. O tempo parecia
curto demais para chegar a tempo. A inspiração que me veio foi que eu não
precisava de tempo, pois tinha a eternidade ao meu dispor. A princípio o
argumento pareceu contraditório, mas depois me ficou claro que na eternidade
operava a Mente divina, cujo controle era total e sempre satisfatório. Confiei inteiramente
em Deus, e deixei de lado a preocupação com o desfecho.
O táxi
encontrou caminho livre até o aeroporto, o check-in foi imediato e lá estava eu
pronto para o embarque. Mas as bênçãos não pararam por aí. Todos meus
compromissos em vários setores do órgão público se desenrolaram de modo tão
maravilhoso que não tive nenhuma perda de tempo. E assim, no mesmo dia eu já
tomava o avião de retorno contrariando a expectativa. Para mim foi uma
experiência gratificante pelo resultado e marcante pelo aprendizado. Eu não digo
mais que não tenho tempo quando a agenda aperta; digo-o, antes, com a convicção
de ter a eternidade ao meu lado.
.o0o.
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