sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Qual a importância de compreender Deus?

Cabe ao homem tentar compreender Deus?

Há algum tempo participei de uma reunião com representantes de entidades sócio-assistenciais, onde compareci como representante de uma ONG ambiental. O debate sobre os problemas sociais em nossa comunidade, principalmente com a juventude e sua relação ao consumo de drogas, incluía uma busca frenética de soluções que, ao final, pareciam longínquas ou inatingíveis, ou muito distantes do horizonte visualizado pelos debatedores. O trabalho voluntário nessas organizações é digno de reconhecimento, quando se vê o desprendimento dos participantes na labuta por atendimento aos menos favorecidos. O grande problema comum nessas entidades é a escassez de recursos, sejam públicos sejam privados. Disse alguém: “a vontade de ajudar é sempre maior que o dinheiro disponível”.

Em meio à troca de idéias ocorreu-me uma frase que li em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras*: “É nossa ignorância a respeito de Deus, ...o que produz aparente desarmonia, e compreendê-Lo corretamente, restaura a harmonia” (p. 390). Pensei comigo se a regra seria aplicável aos problemas sociais coletivos. Pensando mais um pouco conclui que sim, posto que os problemas coletivos nada mais são que a somatória de muitos problemas individuais aos quais a regra é plenamente aplicável.

Por que é importante compreender Deus corretamente?  Porque a partir dessa compreensão poderemos compreender o que o homem realmente é. Aqui a designação Deus representa um conjunto de características espirituais infinitas e ilimitadas no tempo e no espaço, as quais estão em toda parte há muitos milênios, mais precisamente desde a eternidade. Essas características não são perceptíveis aos sentidos físicos, mas são cognoscíveis pelos sentidos espirituais. Este entendimento a respeito de Deus é o que devemos aplicar ao entendimento correto do homem. Por isso a visão do que o homem realmente é não pode estar baseada no testemunho dos sentidos físicos, ou o que vemos, ouvimos e sentimos. A raiz dos problemas humanos está precisamente nesse modo enganado do homem ver a si mesmo. O ser do homem real (designação genérica para homens e mulheres) é muito mais do que vemos e ouvimos. Como obra prima da criação o homem expressa―traz à luz―a perfeição da criação divina, aquela fonte infinita de luz, de inteligência, de amor e vida que é Tudo-em-tudo.

 Enquanto o homem se vê como um mortal limitado, cheio de problemas e limitações de toda ordem, é isso exatamente que ele tem em sua consciência; e tudo o que o homem, de modo geral, mantém no pensamento isso se concretiza na sua vida. Assim ele sofre de doenças, penúrias financeiras, relacionamentos alquebrados, submissão aos limitantes parâmetros de tempo, idade, hereditariedade. Por que? Porque ele primariamente mantém no pensamento essas situações negativas. As formas visíveis são apenas manifestações de formas de pensar. Ele vivencia seus pensamentos. Exemplo dessa afirmação é o que se observa em uma pessoa hipnotizada. No transe hipnótico, a pessoa sente o que o hipnotizador ordena; pode não haver nenhuma evidência física de frio, por ex, mas o hipnotizado sente frio, bate queixo, aconchega seu agasalho. É real o que a pessoa sente? Para os observadores não, mas para ela sim. A pessoa sente o que o pensamento dela acredita seja real.

Para safar-se de seus problemas o homem precisa aprender a olhar para cima; vale dizer para fora do mundo terrenal, material, onde circula o homem adâmico. O que a pessoa hipnotizada precisaria fazer para sair de sua sensação de frio? Acordar, ou seja mudar seu pensamento, sair do transe e tomar posse de seu pensamento. A Bíblia tem um versículo que vale a pena lembrar aqui: “Olhai para MIM e sede salvos” (Isa 45: 22)  Este MIM é Deus, o Espírito, aconselhando, instruindo, Seus filhos a desviarem seu olhar da  fisicalidade para a espiritualidade, para lá encontrarem a solução de seus problemas. Essa visualização do espiritual equivale ao despertar do pensamento, ou mudar a base de seu pensamento; ação que deve ser constante, mantida num nível permanente e não intermitente, pois isso deixaria o pensamento girando em altos e baixos sem fixidez.

Para compreender a Deus, o cristão tem nas Sagradas Escrituras a melhor fonte de informação e instrução. Um estudo esclarecido e detido do conteúdo desse compêndio revela que Deus não é um ser antropomorfo e limitado; mas é ilimitado, infinito, eterno, todo-poderoso, onipresente, onisciente, bom, perfeito, puro, amoroso, Vida, Verdade, Amor, Espírito, imutável, misericordioso, fiel, e assim por diante. Este conjunto de características é o que devemos ter em mente quando falamos de Deus, como também devemos saber que elas não estão distantes em um céu azul na imensidão do espaço sideral. Esse ser coletivo é o conceito por trás do texto bíblico eloísta a respeito do Gênesis. Ele é plural; por isso o texto de alguns versículos coloca Deus dizendo “façamos”: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança...” (Gen. 1: 26).

O homem é imagem e semelhança de um conjunto de características espirituais; não esqueçamos disso. Assim, é correto falarmos a nosso respeito no plural; nosso “eu” verdadeiro não é singular, é plural. Ver o homem sob este enfoque arrebata nosso (meu) pensamento a uma plataforma mais elevada e junto com ele nossa (minha) vivência humana. Nesse plano mais elevado e espiritual, vemos evidências da presença das boas qualidades pelas quais almejamos humanamente: suprimento, saúde, força, sabedoria, memória, plenitude de realizações. É a felicidade de viver sem problemas. Mas cuidado: essa vivência sadia―não confundir com boa vida nos padrões humanos―não deve ser nosso objetivo na aplicação da espiritualidade. Pois, senão, estaríamos submetendo o emprego de valores espirituais para atendimento de nossa vontade humana. Deus atende as necessidades, não as vontades, do homem. Estaríamos sobrepondo os valores materiais e humanos aos espirituais. Nossa meta é expressar as qualidades divinas e infinitas sem outra intenção do que a de obedecer ao nosso Criador. A solução dos problemas humanos ocorre natural e espontaneamente quando nossa consciência fica repleta dos valores espirituais. Quando o pensamento está elevado, ele não contempla outra coisa a não ser a manifestação do bem em todas as suas formas.

A aplicação da espiritualidade e a aplicação da materialidade diferem desde o princípio. São movimentos em direções opostas, sendo que na vida humana essa diferenciação acaba por anular reciprocamente os efeitos. Para a consciência de pendor material (ou “pendor da carne” para usar termo bíblico) é difícil contemplar os valores espirituais e sua manifestação na vida do homem. Já a consciência de inclinação espiritual (ou o “pendor do espírito”) não vê nem experimenta o caos da materialidade. A humanidade tem cometido um erro basilar ao longo dos tempos: ela deseja a vivência sem problemas (o que não é incorreto) sem recorrer às leis espirituais (o que é incorreto). Vale dizer: ela quer as benesses da espiritualidade dentro da materialidade, como se ambas cooperassem ou agissem em conjunto. A harmonia permanente é o efeito das leis espirituais que não são submissas às pseudo leis materiais; esse termo—harmonia―inclui todas as formas que já nos acostumamos a designar como boas: saúde, alegria, felicidade, suprimento, amor, etc, etc.

Uma declaração de Mary Baker Eddy* em Ciência e Saúde resume o exposto: “Admitindo [no pensamento] somente aquelas conclusões cujos resultados desejas  ver concretizados no corpo, tu te governas harmoniosamente” (p. 392).

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* Mary Baker Eddy, 1875; obra disponível na  Biblioteca Municipal.

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