sábado, 7 de junho de 2014

Recomeçar

O indivíduo precisa juntar todos seus recursos morais e espirituais para encetar um novo começo.

A pomba rola havia escolhido o galho de uma palmeira para estabelecer seu ninho e procriar sua família. Mas o galho encurvado não parecia a mim uma boa escolha. A folha ficava bem em frente à minha janela do apartamento. Quando ela já estava com 2 ovinhos no ninho e prudentemente os chocava, veio uma chuva acompanhada de vento muito forte que empurrava as folhas da palmeira como se quisesse arrancá-las. Foi no começo da noite, e a pombinha não teve outra alternativa senão buscar abrigo seguro.

Na manhã seguinte vi a infeliz (sob minha ótica) dona do ninho examinar o lugar onde o mesmo estivera antes de começar o vento. Fiquei observando a reação do animalzinho. Ela voou, e não tardou a voltar com um raminho no bico disposta a reconstruir seu “lar”. Examinou detidamente o local anterior, tentou ajeitar o raminho, mas não gostou. Então pulou para outro ramo e lá lançou seu ninho. Trabalhou o dia todo. À noitinha já estava quase pronto. Essa espécie de ave se contenta com meia dúzia de gravetinhos. No dia seguinte estava sentada no novo ninho demonstrando plena confiança de recompor seu lar.

Repensando o acontecido veio-me o pensamento de que é da natureza dos seres vivos sentir-se encorajados a recomeçar a reconstrução de um lar desfeito ou de uma casa destruída por elementos da natureza. Em meu Estado no Sul do Brasil houve inumeráveis exemplos desse ânimo construtivo após os vendavais que se abateram em algumas partes do Estado, durante a primavera recente. Noticiários televisivos não se cansavam de mostrar cenas de destruição, de enchentes, de desmoronamentos, de árvores tombadas, casas destelhadas, e assim por diante. Também eram noticiados eventos de solidariedade na ajuda de vizinhos entre si e de agricultores arregaçando as mangas para replantar ou repor as plantas perdidas.

E ainda há outros tipos de vendavais ou elementos que varrem a experiência humana. As crises econômicas, a desagregação social, o antagonismo étnico, os desencontros religiosos, as ameaças climáticas globais, o avanço do consumo da droga, instabilidade econômica e de emprego, dificuldade de adquirir uma casa, e tantos outros exemplos que se poderiam citar. Como reagem as pessoas às ameaças como as citadas? Também aqui o ânimo daquela avezinha serve de exemplo. É conhecido o dizer de um sábio: “Se perdeste dinheiro, não perdeste nada; se a honra, perdeste muito; se a coragem, perdeste tudo.” De fato, é preciso muita coragem para reiniciar o que havíamos construído.

“Pode ser muito difícil”, diria alguém. Pode. Isso quer dizer que não vale a pena encarar o desafio? posto o desânimo é o maior inimigo do homem nesse momento importante em sua vida. Se não tiver fortaleza própria, pode recorrer a recursos fora do seu e amigos,  entidades assistenciais, igreja, e assim por diante. Para sair de uma pior, terá de usar muita sabedoria, coragem moral, e outras virtudes que possam instrumentalizar sua ação.

Aliás, usar a sabedoria é o que desde o inicio deveria ter sido feito. Minha amiga pombinha não foi esperta ao escolher um lugar tão impróprio para um ninho. Não é isso o que às vezes vemos acontecer com os seres humanos? Constroem suas casas em locais impróprios e sujeitos aos elementos da natureza. Na Bíblia, no Sermão do Monte,  o Mestre Jesus nos recomenda a não construirmos sobre a areia; isto vale para o fundamento dos afetos também. Não raro vê-se relações humanas edificadas sobre terreno instável e que não resistem às lufadas dos ventos de discórdia. Até a realização profissional, se for edificada sobre fundamentos inadequados, não se confirmará.

Em todas suas ações, o homem deseja uma justa recompensa aos seus melhores esforços. O mais sólido alicerce para uma realização efetiva é composto de sabedoria, humildade, respeito, confiança numa inteligência superior, entre outros elementos. Onde encontramos tais compostos? Onde é seu reservatório? Se olharmos para dentro de nosso eu humano, veremos uma provisão muito minguada, se não inexistente. Temos que olhar para fora e acima de nosso ego. Teremos, então,  oportunidade de ver a fonte das qualidades básicas para uma feliz vivência humana. Nossos olhos não podem divisar a fonte de onde emanam todas as qualidades que precisamos, mas nosso pensamento alcança as alturas onde tais qualidades se encontram, e as traz para nossa vivência. O elo para esta conquista é a oração.

A fonte suprema das qualidades que precisamos para edificar a obra de nossa vida é Deus, a suprema inteligência que criou e governa o universo, inclusive o homem. As Sagradas Escrituras recomendam sabiamente: “Entrega teu caminho ao Senhor; confia nEle...” (Salmo 37:5). Não faça planos baseado apenas nas aptidões humanas! Edifique sua vida sobre fundamentos sólidos–as qualidades divinas. Não construa sobre a areia instável do saber humano (ver Mat. 7). Cave—aprofunde sua busca até encontrar solidez da rocha sobre a qual construir. Assim você conseguirá conquistar a almejada estabilidade—um viver feliz como resultado de edificar com sabedoria e inteligência de origem divina!

Uma notável pensadora do séc. XIX, Mary Baker Eddy*, fundadora do jornal The Christian Science Monitor , afirmou que: “O progresso nasce da experiência. É a maturação do homem mortal, pela qual este abandona aquilo que é mortal em troca aquilo que é imortal” (CeS**, p.296). O que o homem vivencia é o que seu pensamento evidencia. Por isso a troca dos elementos que não produzem harmonia nem progresso é vital para o gozo de felicidade, palavra que aqui resume a experiência humana harmoniosa, estável, dotada de saúde e paz―experiências de vidas re-erguidas pela reconstrução sobre o fundamento sólido da rocha eterna do Cristo.

.o0o.

*Descobridora e Fundadora da Christian Science, nome que ela deu a sua descoberta, traduzida ao português como Ciência Cristã.

**Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras.

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