Esperança é boa mas não
suficiente.
É um tanto comum entre as
pessoas que alimentem alguma dúvida quanto ao que é esperança e o que é fé.
Ambas são positivas e podem referir-se tanto a condições humanas como a
questões religiosas. Este último aspecto me parece o mais importante porque tem
relação com o bem-estar das pessoas.
Os Cristãos
têm na palavra inspirada da Bíblia um guia para estabelecer sua crença ou fé
religiosa. É curioso o desdobramento conceitual dessas duas palavras ao longo
do período bíblico. Enquanto o Antigo Testamento praticamente não usa a palavra
“fé”, no Novo ela ocorre quatro vezes mais do que “esperança”. No Antigo
Testamento não se falava em fé, mas os patriarcas da primitiva história
israelita foram encorajados e desafiados a confiar irrestritamente na
orientação e poder de Deus. Diríamos que essa confiança irrestrita era fé? ou
era esperança?
Os Filhos de
Israel na sua peregrinação de 40 anos no deserto rumo à terra prometida, tinham
a esperança de encontrar um território onde estabelecer sua nação. Muitas
vicissitudes e provações tiveram que passar ao perseguirem a esperança de dias
melhores do que a escravidão no Egito. Havia um forte sentimento de poderem
chegar a essa terra desconhecida. Quase 400 anos antes seus ancestrais a haviam
deixado para salvarem suas vidas da fome. Agora esse sentimento os motivava a
seguirem em frente no seu retorno. Quando a esperança vacilava e eles ameaçavam
voltar atrás, a fé inabalável de seu líder os manteve unidos em torno de seu
ideal, de cujo atingimento nem todos tivessem certeza.
Durante as
quatro décadas de avanços e retrocessos, de marchas e contramarchas, houve
momentos críticos que exigiram de Moisés a demonstração de confiança
irrestrita—fé inabalável—na orientação do poder e da presença de Deus, a quem o
patriarca havia aprendido a ver como o “Eu
sou” todo-poderoso. Desde a labuta com faraó e seus magos, a sensacional
passagem pelo Mar Vermelho, a inusitada provisão de água, carne e pão, a
necessária proteção em guerras, até o recebimento das táboas dos Dez
Mandamentos, Moisés foi um servo fiel que soube cumprir sua missão. As obras
extraordinárias das quais foi o principal protagonista—há quem as chame de
milagres—provaram do que a fé em Deus é capaz.
Ao longo de
toda a Bíblia pode-se encontrar relatos de acontecimentos maravilhosos que nos
deixariam boquiabertos se não houvesse explicação para eles. Os jovens hebreus
lançados na fornalha babilônica, Daniel na cova dos leões, os feitos de Elias e
Eliseu, as curas efetuadas por Cristo Jesus e seus apóstolos, são apenas
exemplos pinçados de um universo de instâncias reais. O autor da epístola aos
Hebreus coloca um conceito exato, qual uma verdade matemática, sobre como
devemos entender a fé. Lemos: “A fé é
estar certo de que vamos receber as coisas que esperamos, e ter certeza de que
existem as coisas que não vemos”1 (Hebreus 11:1), e na epístola
de Tiago lemos que a “fé sem obras é
morta” (Tiago 2:26).
O Mestre Cristo Jesus, em
seus ensinamentos aos discípulos de todas as eras, deixou bem claro, em várias
ocasiões, que a fé deve não ser acompanhada de dúvidas para trazer bons
resultados. “Quando orarem e pedirem
alguma coisa, creiam [sem duvidar] que receberam, e assim tudo será dado a
vocês” (Marcos 11:24), ponderou. Quantas vezes disse aos que procuraram sua
ajuda: “a tua fé te salvou”! Ao amigo
e discípulo Pedro, quando estava a afundar no mar revolto, Jesus repreendeu
antes de salva-lo: “Como sua fé é
pequena! Por que você duvidou?” (Mat. 14:31). Um estudo minucioso dos
evangelhos com atenção enfocada na questão do lugar da fé no ministério de
Jesus, com certeza abrirá amplas avenidas para o entendimento da fé cristã como
ela deve ser.
Mary Baker
Eddy, uma discípula moderna do Cristianismo prático, demonstrou cabalmente o
significado de fé absoluta—fé com obras e não fé cega. Muitas curas realizou
após sua própria de lesões internas diagnosticadas como intratáveis em uma
paciente terminal. A investigação dessa cura à luz das Escrituras levou à
descoberta da Ciência Cristã.
Quando a fé vem acompanhada de entendimento espiritual e de amor fraternal, ela
tem desdobramentos irreprimíveis a favor de soluções para um sofredor. Em sua
obra Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, Eddy abre o primeiro capítulo assim: “A oração que reforma o pecador e cura o
enfermo é uma fé absoluta em que tudo é possível a Deus—uma compreensão
espiritual acerca dEle, um amor abnegado” (p. 1). Ela ensinou a seus alunos
as regras da cura do Cristianismo sob um enfoque totalmente científico, que ela
descobriu ao estudar exaustivamente as Sagradas Escrituras. No livro biográfico
intitulado: “Mary Baker Eddy: Uma vida dedicada à cura” * é possível
ver como ela amparava e acompanhava seus discípulos ao iniciarem sua prática
pública de cura. Para obter a cura da doença ou a solução de problemas não
basta a esperança, que é boa mas por vezes vacilante. É preciso “fé”.
A palavra fé
tem também um significado genérico, como quando alguém diz professar a fé
cristã, ou outra denominação religiosa. Neste caso o significado é paralelo com
“crença” no sentido de identificar uma igreja. Mas quando surge a pergunta:
“Você crê em Deus?”, os conceitos genéricos são inadequados. Se a resposta for
do tipo: “Eu acredito em Deus”, fica patenteada a mera crença de que Ele
exista. Enquanto a resposta: “Tenho fé em Deus”, implica a expectativa de um
resultado prático. Ter fé em que Deus nos ama, protege e cura, tem
desdobramentos práticos na vida da pessoa. Quando temos certeza de um certo
resultado na aplicação de um medicamento, é porque temos fé nesse remédio, não
é mesmo? Qual a diferença entre fé no remédio e fé em Deus? Diga-o você.
Conta a
Bíblia que o Mestre certa vez perguntou sobre a fé a um homem que levara seu
filho para ser curado de epilepsia. A resposta do pai angustiado: “Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé”
(Marcos 9:24), revelou uma fé vacilante—ou seria esperança—que era exatamente o
oposto da fé constante que Jesus Cristo praticava. Nós Cristãos precisamos
examinar persistentemente como anda nossa fé. Se notarmos alguma semelhança com
a resposta daquele pai é porque está na hora de elevar nossa confiança em Deus.
É comum o exame mencionado ocorrer em meio a um problema que teime em não ceder
a nossas orações. Em verdade, é preciso saber que o erro ou o mal não tem
inteligência para teimar em não ir embora. A firmeza ou a certeza—a fé—de que a
Verdade expulsa o erro demonstrará a falta de inteligência do erro, e
conseqüentemente a nulidade de suas pretensões. Em Ciência e Saúde a
Sra. Eddy esclarece: “Quando chegarmos a
ter mais fé na verdade do ser do que no erro, mais fé no Espírito do que na
matéria, mais fé em viver do que em morrer, mas fé em Deus do que no homem,
então nenhuma suposição material nos poderá impedir de curar os doentes e de
destruir o erro” (p. 368).
Como vai a
nossa fé cristã? Vamos carrega-la de um lado para outro impedindo que seja
plantada ou estabilizada? Uma fé que não é plantada não frutifica. Tem que
plantar. Não importa se nossa fé seja grande ou pequena, forte ou fraca, se for
plantada no reino de Deus, dará frutos.
Amigo, por
favor, plante sua fé!
.o0o.
¹
“A Bíblia na Linguagem de Hoje”
2 Yvonne
Cachê von Fettweis e Robert Townsend Warneck, Christian Science
Publishing Society, 2003.
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