Confiança quanto a Deus deve
ser irrestrita
Há um
versículo bíblico que recentemente me fez pensar mais detidamente. Salmo 37:5:
“Ponha sua vida nas mãos de Deus, confia
nele, e Ele o ajudará” (Bíblia na Linguagem de Hoje). Primeiramente, já é
um desafio pôr minha “vida nas mãos de
Deus”, principalmente se eu não souber quem Ele é. Minha vida, meus
sucessos, minhas conquistas, meus relacionamentos, meus dissabores, meus
desejos, como posso deixar tudo aos cuidados de quem eu não conheço? Em se
falando de situação humana tal indagação seria justificada. Mas sob a ótica
metafísica e da fé religiosa a injunção das Sagradas Escrituras é plenamente
realizável e necessária, se quisermos chegar ao resultado do versículo do
Salmo: “Ele o ajudará”.
É certo que o
motivo de deixar tudo nas mãos de Deus, como recomenda o versículo citado, não
deve ser o bem-estar humano. Há uma necessidade espiritual a ser atendida antes
de se obter o resultado: dispor-se a se entregar aos cuidados de Deus. É uma
decisão de foro íntimo. Assunto entre o meu Pai-Mãe e eu. Se eu deixar que
palavras expressem o momento ou o recolhimento dessa decisão—se eu alardear
para os quatro cantos do mundo que pretendo agir assim—provavelmente estarei
enterrando essa força interior de origem divina numa montanha de mundanismo e
materialismo, e o resultado não será o mesmo. Também não estarei confiando Nele,
mas sim numa soma de circunstâncias desejadamente favoráveis, fato que impedirá
que eu veja a ajuda divina se manifestar em minha vida e em meus afazeres.
Aliás, as palavras não conseguem expressar
toda a significância desse direcionamento mental de nossa vida. Experimenta
falar com alguém sobre confiar em Deus; convença-o de tua disposição. Depois,
quando estiveres sozinho, repita-o mentalmente para ti mesmo. Irás perceber que
as palavras soam diferentemente, pois ou estás te dirigindo a ti mesmo ou a
Deus. Não há outro interlocutor. A oração silenciosa faz esse mesmo efeito. É
como um diálogo com o Pai-Mãe. A resposta divina virá nesse mesmo contexto, mas
os resultados dessa comunhão espiritual serão visíveis a ti e aos outros. Foi
isso que o Mestre cristão ensinou e que foi registrado no evangelho de Mateus:
“Tu, quando orares,... orarás a teu Pai
que está em secreto; e teu Pai que vê em secreto, te recompensará” (6:6).
Tudo no foro íntimo da consciência do indivíduo.
O aspecto
prático de tal postura mental tenho visto em minha experiência pessoal. Foi
algo que aprendi com minha mãe, que era praticista da Ciência Cristã. Dizia
ela: “Quando tens um projeto importante na tua vida, trata de mantê-lo sob o
domínio da Mente divina. Se ficares contando a todo mundo o que desejas
realizar, então terás o assunto sob domínio público”. Este domínio público é
nada mais nada menos que a ingerência de pensamentos e interesses humanos em
nossos assuntos, ingerência que às vezes vem acompanhada de invejas e ciúmes
que só lançam pedras em nosso caminho. Uma viagem importante, a compra de uma
casa ou um bem, uma mudança de endereço são exemplos de projetos particulares
cujo desdobramento é tanto mais suave e desimpedido quanto menos for divulgado
entre pessoas que não precisam saber deles. Gosto da expressão de Mary Baker Eddy
em Ciência e Saúde com a Chave das
Escrituras* onde ela aconselha a não
afogarmos “nossos desejos verdadeiros
numa torrente de palavras” (p.13).
Desejaria
voltar ao versículo do Salmo citado no início: “Confia nEle”. A palavra
confiança encontra toda uma família de palavras afins: certeza, fé, convicção.
Há nelas alguma conotação material? Não! Elas pertencem ao reino mental, e bem
faríamos se as cultivássemos com relação ao reino do Divino. Confiar em Deus
tem tudo a ver com certeza absoluta, fé absoluta, convicção espiritual. Não
vale o ditado popular de “confiar, desconfiando”. Quando confiamos em Deus não
titubeamos (ante uma decisão), não vacilamos (ante provações ou provas
acadêmicas), não duvidamos (ante adversidades). Qualquer titubeio ou vacilação
ou dúvida passa primeiro pelo pensamento da pessoa; mas estando esse pensamento
alicerçado na confiança em Deus essas ameaças não se concretizam em sua vida e seus
afazeres e compromissos.
Na Bíblia
encontramos muitas promessas divinas a respeito do bem-estar de Seus filhos,
como no livro de Jeremias: “Porque te
restaurarei a saúde e curarei as tuas chagas” (30:17). Acaso consideramos
essa promessa como apenas consolo? Deus cumpre todas suas promessas. Podemos
confiar nEle? Não só podemos como devemos! O versículo citado nos dá a certeza
do apoio do Amor divino em nosso favor no caso de doenças ou moléstias. Entra
aqui aquele foro íntimo do entendimento de que quem fez―e faz―a promessa é quem
detém todo o poder, que é o bem, que conhece tudo, que ama a todos sem
distinção ou discriminação. Pensar nos verbos do versículo no presente em vez
de futuro demonstra-nos a atualidade e realidade eterna do bem prometido.
“Os maus pensamentos, a cobiça e os
propósitos maliciosos não podem ir, como pólen errante, de uma para outra mente
humana e ali achar alojamento,... se a virtude e a verdade formam forte defesa”
diz Mary Baker Eddy, descobridora da Ciência Cristã, em seu livro-texto (CeS, pp. 235, 236). A “forte defesa” é a consciência
estabelecida em Deus. Essa consciência é também a melhor defesa contra males
físicos. Jesus Cristo alicerçou seu ministério numa fé absoluta no poder de
Deus, na superioridade do Espírito sobre a matéria. A Bíblia contém inúmeras
referências a essa idéia de confiança, certeza, convicção. Eddy baseou-se nessa
verdade ao realizar sua obra de cura. Fruto de sua experiência ela escreveu em Ciência e Saúde: “Só mediante uma
confiança radical na verdade, é que o poder curativo da verdade pode ser
realizado” (p. 167).
.o0o.
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