quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Confiar, sem des-confiar

Confiança quanto a Deus deve ser irrestrita

Há um versículo bíblico que recentemente me fez pensar mais detidamente. Salmo 37:5: “Ponha sua vida nas mãos de Deus, confia nele, e Ele o ajudará” (Bíblia na Linguagem de Hoje). Primeiramente, já é um desafio pôr minha “vida nas mãos de Deus”, principalmente se eu não souber quem Ele é. Minha vida, meus sucessos, minhas conquistas, meus relacionamentos, meus dissabores, meus desejos, como posso deixar tudo aos cuidados de quem eu não conheço? Em se falando de situação humana tal indagação seria justificada. Mas sob a ótica metafísica e da fé religiosa a injunção das Sagradas Escrituras é plenamente realizável e necessária, se quisermos chegar ao resultado do versículo do Salmo: “Ele o ajudará”.

É certo que o motivo de deixar tudo nas mãos de Deus, como recomenda o versículo citado, não deve ser o bem-estar humano. Há uma necessidade espiritual a ser atendida antes de se obter o resultado: dispor-se a se entregar aos cuidados de Deus. É uma decisão de foro íntimo. Assunto entre o meu Pai-Mãe e eu. Se eu deixar que palavras expressem o momento ou o recolhimento dessa decisão—se eu alardear para os quatro cantos do mundo que pretendo agir assim—provavelmente estarei enterrando essa força interior de origem divina numa montanha de mundanismo e materialismo, e o resultado não será o mesmo. Também não estarei confiando Nele, mas sim numa soma de circunstâncias desejadamente favoráveis, fato que impedirá que eu veja a ajuda divina se manifestar em minha vida e em meus afazeres.

 Aliás, as palavras não conseguem expressar toda a significância desse direcionamento mental de nossa vida. Experimenta falar com alguém sobre confiar em Deus; convença-o de tua disposição. Depois, quando estiveres sozinho, repita-o mentalmente para ti mesmo. Irás perceber que as palavras soam diferentemente, pois ou estás te dirigindo a ti mesmo ou a Deus. Não há outro interlocutor. A oração silenciosa faz esse mesmo efeito. É como um diálogo com o Pai-Mãe. A resposta divina virá nesse mesmo contexto, mas os resultados dessa comunhão espiritual serão visíveis a ti e aos outros. Foi isso que o Mestre cristão ensinou e que foi registrado no evangelho de Mateus: “Tu, quando orares,... orarás a teu Pai que está em secreto; e teu Pai que vê em secreto, te recompensará” (6:6). Tudo no foro íntimo da consciência do indivíduo.

O aspecto prático de tal postura mental tenho visto em minha experiência pessoal. Foi algo que aprendi com minha mãe, que era praticista da Ciência Cristã. Dizia ela: “Quando tens um projeto importante na tua vida, trata de mantê-lo sob o domínio da Mente divina. Se ficares contando a todo mundo o que desejas realizar, então terás o assunto sob domínio público”. Este domínio público é nada mais nada menos que a ingerência de pensamentos e interesses humanos em nossos assuntos, ingerência que às vezes vem acompanhada de invejas e ciúmes que só lançam pedras em nosso caminho. Uma viagem importante, a compra de uma casa ou um bem, uma mudança de endereço são exemplos de projetos particulares cujo desdobramento é tanto mais suave e desimpedido quanto menos for divulgado entre pessoas que não precisam saber deles. Gosto da expressão de Mary Baker Eddy em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras*  onde ela aconselha a não afogarmos “nossos desejos verdadeiros numa torrente de palavras” (p.13).

Desejaria voltar ao versículo do Salmo citado no início: “Confia nEle”.  A palavra confiança encontra toda uma família de palavras afins: certeza, fé, convicção. Há nelas alguma conotação material? Não! Elas pertencem ao reino mental, e bem faríamos se as cultivássemos com relação ao reino do Divino. Confiar em Deus tem tudo a ver com certeza absoluta, fé absoluta, convicção espiritual. Não vale o ditado popular de “confiar, desconfiando”. Quando confiamos em Deus não titubeamos (ante uma decisão), não vacilamos (ante provações ou provas acadêmicas), não duvidamos (ante adversidades). Qualquer titubeio ou vacilação ou dúvida passa primeiro pelo pensamento da pessoa; mas estando esse pensamento alicerçado na confiança em Deus essas ameaças não se concretizam em sua vida e seus afazeres e compromissos.

Na Bíblia encontramos muitas promessas divinas a respeito do bem-estar de Seus filhos, como no livro de Jeremias: “Porque te restaurarei a saúde e curarei as tuas chagas” (30:17). Acaso consideramos essa promessa como apenas consolo? Deus cumpre todas suas promessas. Podemos confiar nEle? Não só podemos como devemos! O versículo citado nos dá a certeza do apoio do Amor divino em nosso favor no caso de doenças ou moléstias. Entra aqui aquele foro íntimo do entendimento de que quem fez―e faz―a promessa é quem detém todo o poder, que é o bem, que conhece tudo, que ama a todos sem distinção ou discriminação. Pensar nos verbos do versículo no presente em vez de futuro demonstra-nos a atualidade e realidade eterna do bem prometido.

“Os maus pensamentos, a cobiça e os propósitos maliciosos não podem ir, como pólen errante, de uma para outra mente humana e ali achar alojamento,... se a virtude e a verdade formam forte defesa” diz Mary Baker Eddy, descobridora da Ciência Cristã, em seu livro-texto (CeS, pp. 235, 236). A “forte defesa” é a consciência estabelecida em Deus. Essa consciência é também a melhor defesa contra males físicos. Jesus Cristo alicerçou seu ministério numa fé absoluta no poder de Deus, na superioridade do Espírito sobre a matéria. A Bíblia contém inúmeras referências a essa idéia de confiança, certeza, convicção. Eddy baseou-se nessa verdade ao realizar sua obra de cura. Fruto de sua experiência ela escreveu em Ciência e Saúde: “Só mediante uma confiança radical na verdade, é que o poder curativo da verdade pode ser realizado” (p. 167).


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