domingo, 14 de agosto de 2016

Enfim, uma ideia sobre o homem

Uma ideia sobre a qual é bom pensar

Há algum tempo ouvi, durante uma cerimônia de sepultamento, o Pastor  dizer que o “homem começa como idéia de Deus”.

Como gosto desse tema, pus-me a aprofundar o exame dessas palavras, para entender melhor seu significado que eu sabia ter elevado valor espiritual. “O homem uma idéia de Deus!” Que entendimento lógico poder-se-ia desdobrar a partir dessa premissa? Como Cristãos podemos buscar nas Sagradas Escrituras os subsídios metafísicos balizadores de um raciocínio lógico, de base cristã.

Para que haja uma idéia, tem de haver primeiro uma mente, e neste caso em foco a Mente é divina (por isso grafei com letra maiúscula). Idéias são o produto da mente, e se a Mente é a divina, suas idéias o que são? Esse é um conceito interessante, falando-se de um atributo de Deus, que goza juntamente com outros de infinidade, todo-poder, eternidade, onisciência, atributos próprios da natureza divina. A Mente de Deus é onisciente, por isso sabe tudo, nada escapa ao seu entendimento, nada escapa de sua memória. Ela pode ter infinitos pensamentos, não há limites para ela. Como Deus é bom, Sua Mente é boa e Suas idéias também são boas. É inconcebível que uma Mente boa possa ter pensamentos maus. É inaceitável que uma Mente sã possa ter pensamentos doentios. Impossível que uma Mente amorosa tenha pensamentos malvados. Mente e idéia gozam de afinidades. A Mente, a causa, gera ideias semelhantes, os efeitos. Assim, para entender a idéia, deve-se começar por entender a Mente que a concebeu.

É bom saber que a Mente divina, como também a humana, não tem forma qual um objeto material. Sua forma é antes um modo de agir. Os pensamentos dessa mente têm a forma da ação dessa mente, a direção de seus interesses, a consecução de seus ideais. O homem como idéia de Deus, é um ser sem forma. Não podemos olhar para um corpo físico e dizer que seja a idéia de Deus. Uma idéia de Deus não tem forma delimitada. Esta forma visível, quando muito, representa a idéia e demonstra as qualidades e funções idealizadas para aquele ser.

Na ideia concebida na Mente divina, estão presentes todas as qualidades pensadas pelo Pai-Mãe divino para o seu filho, ou Sua filha. Cada idéia tem suas qualidades, o que torna o homem uma individualidade. O conjunto infinito de individualidades constitui a identidade de todas elas. Muitas individualidades, mas uma só identidade: a de filhos de Deus.

Essa característica de isenção de forma sugere-me que nem a mente humana nem a Mente divina podem estar contidas em algum espaço limitado. Em relação à Mente divina é fácil compreender tal disposição, pois ela é infinita; mas em relação à mente humana esse fato só é compreendido a partir da conclusão de que o homem idéia-de-Deus não tem forma física. Então, sua mente não pode estar confinada em uma forma óssea. Vale dizer, a mente não está na matéria. A mente pensa, mas não dentro do cérebro.

Essa questão de que uma forma não possa conter a mente, não é difícil de compreender, desde que entendamos que a Mente é Espírito e que este é infinito. Diria alguém que o maior possa estar no menor, ou que o infinito entre no finito? O Espírito não está na matéria. A Mente não entra na finidade do físico. A atividade da Mente independe do cérebro. As qualidades espirituais manifestam a Mente que é Espírito, em quem o homem-idéia existe como individualidade espiritual, que é a realidade de nossa existência.

A colocação de que o homem é uma idéia de Deus, deixa claro imediatamente o fato de que o homem é uma criação da Mente. Essa criação é descrita no livro de Gênesis como ocorrendo em tantas etapas ou dias, que são revelações das idéias que a Mente concebeu, todas reconhecidas como boas:

Viu Deus que isso era bom(Genesis 1).

A Mente estava satisfeita com sua obra ideal, ou seja, com suas idéias. O mesmo acontece com os humanos. Se uma cozinheira vai fazer um bolo, um marceneiro uma mesa, tem que primeiro idealizar sua obra, e quando estiver satisfeito com sua idealização, age para que o objeto apareça, e se pareça com a idéia mantida na mente. Assim, a forma visível representa a idéia e expõe suas funções e qualidades, as quais já estavam originalmente presentes na idéia. Se a idéia concebida não contiver as qualidades, estas não podem ser incluídas no objeto.  Proponho aqui um dilema ao querido leitor; o que é mais importante: a idéia ou o objeto?

Outro fato importante a respeito do conceito de Deus como Mente, é que há um só Deus e por isso uma só Mente. Não muitos deuses nem muitas mentes. Havendo só uma Mente, as idéias por ela concebidas—os filhos e as filhas de Deus—gozam de qualidades semelhantes por serem oriundas da mesma e única fonte.  Quando o Criador disse: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” expressou Seu desejo de que Sua criação partilhasse dos atributos divinos. Qual homem assume esse papel de semelhante a Deus: o corporal ou o ideal (idéia)?

“Criou Deus, pois, o homem à Sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou... Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom” (Gen. 1: 27, 31).

Bom é para a humanidade que Deus tenha criado homens e mulheres à semelhança dEle. Isso iguala os sexos desde sua origem, e acaba com a descabida dissensão que a humanidade há tempos estipula. Sendo o homem e a mulher oriundos da mesma fonte, gozam das mesmas qualidades intrínsecas ou espirituais. Visualmente são diferentes. Sim, pois cada idéia tem sua individualidade garantida na Mente criadora. Nenhuma razão, pois, para o gênero humano tentar desfazer essa igualdade original. No dizer popular: “Somos vinho da mesma pipa”. Somos filhos do mesmo Pai-Mãe.

Dou razão ao Pastor: o homem é uma idéia de Deus! Essa verdade me diz que, por ser idéia, o homem não é corporal. Para ser a imagem e semelhança de Deus, Espírito, o homem não pode ser material. Por refletir a Vida, Deus, o homem-idéia é imortal. O verdadeiro ser do homem é espiritual. Para vê-lo temos que elevar nosso olhar, como Jesus quando ressuscitou Lázaro, vale dizer, desviar o olhar da materialidade para a espiritualidade. O saber humano que não segue essa regra, pois ainda está apegado ao reino material onde tudo o que vê é aceito como real. Por isso a razão, baseada na compreensão espiritual, estabelece uma diferenciação mental entre o físico e o espiritual. O raciocínio que toma como premissa a realidade do Espírito infinito, da Mente divina, do Amor eterno, reconhece e aceita o homem ideal, espiritual e perfeito como verdadeiro. Essa era com certeza a posição mental do Mestre Cristão quando disse:

“Sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celestial” (Mateus 5: 48).

É possível essa coincidência segundo a materialidade? Nunca. Ela só é possível segundo a espiritualidade. Essa lógica metafísica me convence. E com isso vou  vivendo a plenitude do bem e da graça divina, emulando as obras e o preceito de Cristo Jesus:

“Aquele que crê em mim, fará também as obras que eu faço” (João 14:12).

Lendo o livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de autoria de Mary Baker Eddy, grande mestra de metafísica dos tempos modernos, encontrei a seguinte resposta à pergunta “O que é o homem?”:

“O homem não é matéria; não é constituído de cérebro, sangue, ossos nem de outros elementos materiais. As Escrituras nos informam que o homem é feito à imagem e semelhança de Deus. A matéria não é essa semelhança... O homem é idéia, a imagem, do Amor; ele não é físico. Ele é a ideia de Deus, ideia composta que inclui todas as idéias corretas” (p. 475).


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