Quando um mergulho restaura uma vida
As Sagradas Escrituras estão repletas de
narrativas de elevado valor moral e espiritual, as quais, devidamente
compreendidas e interpretadas, adquirem atualidade. O valor eterno da mensagem bíblica é assim
demonstrado, dando-nos renovado interesse nesse Livro dos Livros.
No segundo livro dos Reis encontra-se a
história do comandante do exército sírio, Naamã, que foi a Samaria por conselho
de uma menina israelita que servia em sua casa a procura de liberdade do seu
temido mal: a lepra.
Conta a narrativa que o profeta Elizeu, o
"homem de Deus", mandou dizer a Naamã:
"Vai, lava-te
sete vezes no Jordão, e a tua carne será restaurada, e ficarás limpo."
A
primeira reação do oficial foi de desprezo às palavras do profeta; mas,
aconselhado por seus servos a obedece-las:
"...desceu, mergulhou no Jordão sete
vezes, consoante a palavra do homem de Deus; e sua carne se tornou como a carne
de uma criança, e ficou limpo"
(II reis 5: 1-19).
Nesse relato encontramos duas lições
importantes e aplicáveis a todos os problemas humanos. A primeira lição depreende-se do relato
bíblico. Naamã precisava desfazer-se da
arrogância e da soberba, e tornar-se suficientemente humilde para crer nas
palavras de Elizeu e obedece-las. Uma
vez cumprido o mandato, ele ficou livre para sempre do mal que era tido
incurável.
O profeta sabia, por meio da sua
inspiração celestial, que essa virtude de ser humilde era o que o visitante
deveria conhecer e começar a exercitar.
Com a humildade ele venceu o mal.
Será que Naamã, ao voltar a seu lar, não valorizou melhor a pequena
serva israelita que, de sua humilde condição social, lhe indicou o caminho para
a cura?
Cristo Jesus dava grande importância a
essa qualidade moral. Por várias vezes
teve que recomendá-la a seus discípulos, até que aprendessem. O Mestre associava a humildade à pureza
espiritual, como deixou claro ao evocar a infância como estado mental desejável
para entrar no reino dos céus; ou quando repreendeu a disputa deles sobre quem
seria o maior entre eles, e ainda quando lhes lavou os pés antes da ceia pascal
num gesto decisivo e prático do que lhes havia ensinado.
A segunda lição tem um cunho metafísico e
é compreendida com auxílio da Ciência Cristã.
Mary Baker Eddy, a Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã, dá no seu
livro Ciência e Saúde com a Chave das
Escrituras a seguinte interpretação
espiritual de rio:
"Canal do pensamento. Quando manso e não obstruído, simboliza o
curso da Verdade; mas lamacento, espumante e impetuoso, é o símbolo do erro"
(p.
593).
Aqui chegamos ao ponto fundamental da
questão e ao ensinamento aplicável contemporaneamente. A ordem foi para Naamã mergulhar sete vezes -
vale dizer, persistir na ação - no canal do pensamento do "curso da
verdade", para ficar
purificado. Ele precisava lavar-se ou
livrar-se do pensar mundano - que era o que lhe causava o problema.
Tal como Naamã, também nós precisamos
fazer algo ao nos confrontarmos com um problema. Se algum mal chegou a se manifestar em nossa
experiência é porque estávamos com o pensamento mergulhado no rio
"espumante e impetuoso" da materialidade, o reino dos problemas. Para nos livrarmos da desarmonia temos que
sair daquele "rio" e mergulhar com toda humildade no "curso da
verdade", da compreensão espiritual oposta à materialidade. Essa é a linha de trabalho cristão para
destruir qualquer das formas do mal, e é o que se observa em todas as
experiências de cura espiritual e cristã efetuadas pelo poder de Deus.
A oração que nos permite
"mergulhar" no curso da Verdade e do Amor é a que reconhece a
supremacia do Espírito, bem como a presença e poder absolutos de Deus. Essa consciente comunhão com Deus, o bem
supremo, se manifesta sensivelmente na experiência humana através da cura, ou
da solução de outro problema. A
irrealidade do mal fica claramente exemplificada no gesto de lavar com água,
resultando a eliminação tanto da doença (ou suas evidências) quanto da impureza
física externa. Cristo Jesus fez
idêntica demonstração com o cego que foi mandado lavar-se no tanque de
Siloé. Diz a Bíblia que "ele foi,
lavou-se e voltou vendo" (João 9:7). É lógico que o poder curativo não estava na
água do Jordão para Naamã como não estava na fonte para o cego. O poder que deu esses resultados semelhantes
em épocas e situações tão distintas, é o mesmo poder infinito e irresistível
que atua hoje: o poder de Deus.
Tive muitas experiências mediante a
aplicação da Christian Science, mas uma delas ilustra melhor o que foi dito. Estava preparando a sala para Escola
Dominical de um grupo de cientistas cristãos (que na época ocupava espaço na
casa de meus pais para seus serviços religiosos), quando caí de uma pequena
escada e torci levemente o pé direito.
Afirmei imediatamente a Verdade que uma ideia nunca cai, e muito menos
uma idéia de Deus. A dor diminuiu e pude
terminar meu trabalho. À noite, no
entanto, a dor voltou e com mais intensidade, a ponto de quase não poder caminhar. Fiquei preocupado com o dia seguinte pois
deveria participar de um desfile na Escola Militar que frequentava.
Senti-me um tanto inseguro quanto ao
compromisso; então, para tranquilizar-me, tomei um exemplar de um Arauto da Ciência Cristã e nele
encontrei um artigo que fazia referência à perfeição do homem espiritual,
criado segundo a imagem, semelhança e reflexo de Deus. Explicava, ainda, que o homem, como reflexo
de Deus, não leva consigo um único elemento de erro. Senti como se esta mensagem divina fora
escrita para mim, e ela comigo permaneceu até me abençoar.
Na manhã seguinte, quando saí de casa
ainda sentia fortes dores e dificuldade de caminhar. No trajeto até o quartel, meus pensamentos
eram todos voltados para a mensagem que
lera e seu conteúdo espiritual. Ocorre
que me esqueci do problema e não senti mais dor, antes mesmo de chegar ao local
do desfile, do qual participei durante mais de uma hora sem qualquer vestígio
de dor.
Essa experiência é um tanto paralela à de
Naamã, pois tive de mostrar suficiente humildade de aceitar aquela mensagem
inspiradora e mergulhar nas águas purificadoras do "rio" de
pensamentos da Verdade, para achar o alívio que necessitava. Quando assim procedi, manifestou-se a
sempre-presença da lei divina de harmonia e perfeição. Em Ciência
e Saúde a Sra. Eddy esclarece o processo mental envolvido, ao afirmar:
"Mantém o pensamento firme no
que é duradouro, no que é bom e no que é verdadeiro e os terás na tua experiência, na
proporção em que ocuparem teus pensamentos" (p. 261).
Por intermédio da Ciência do Cristianismo podemos
aprender o valor real que as narrativas bíblicas têm para todas as épocas. E, uma vez compreendidas e assimiladas, essas
narrativas tornam-se como lições, cujos ensinamentos devemos aplicar no viver
diário para deles tirar o máximo proveito.
.-.
(Publicado nO Arauto da Ciência Cristã,
de janeiro 1993 )
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