terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

“Tristeza não tem domínio...”

Sentimento e comoção de pessoas enlutadas podem ser vencidos

Que a tristeza não tenha fim, conforme é decantado na MPB, é o ponto de vista da maioria das pessoas de algum modo envolvidas em casos de luto familiar. Eu preferiria apor um ponto de interrogação na letra da música (“Tristeza não tem fim...”), pois aceitar que o sentimento de tristeza não tenha fim acarreta automaticamente o conceito correlato de que a felicidade tenha fim. Por índole prefiro pensar como permanentes as qualidades boas de origem espiritual. A alegria derivada da Alma, Deus, fortemente ligada à felicidade, é uma qualidade divina expressada pelo homem, na sua identidade de filho de Deus.
  
A Bíblia tem mensagens de consolo para os entristecidos. O profeta Isaías  exortava seus abatidos contemporâneos com a noção de que consolo do Senhor não era distante nem desconhecido: “Como alguém a quem sua mãe consola, assim Eu vos consolarei e em Jerusalém vós sereis consolados” (Isa 66:13). Consolo e conforto é o que uma pessoa de luto precisa, e saber que podemos contar com o consolo de Deus-Pai-Mãe é busca-lo na fonte certa e perene. Quando chegarmos a sentir e perceber que Deus está perto e chegado a nós, já poderemos sentir alguma alegria de origem espiritual.

A tristeza da partida de ente querido, a pesar de justificada humanamente, requer certo cuidado para não ocultar um sentimento de pena de si mesmo, comiseração. Já presenciei casos de extrema tristeza em que a pessoa em prantos dizia: “... e agora quem vai cuidar de mim”. Essa senhora estava com pena de si mesma pois sua vida poderia ficar pior a partir de então, no pensar dela, e por isso chorava desconsoladamente. As pessoas em situação como esta não o fazem de propósito, mas na mistura de sentimentos, muitas vezes, não sabem o que dizer.

Essa questão de contrição e tristeza de alguém é algo que pode significar um crescimento espiritual e psicológico, quando a pessoa reúne suas forças e convicções para enfrentar corajosamente a situação deprimente; e conforme os recursos invocados pode superar a tristeza. O pensamento de separação é o mais forte no sentimento de pesar. Então, se a pessoa conseguir sublimar seus pensamentos para a ideia de que a morte não provocou separação espiritual, que ambos os seres continuam se amando (agora com amor mais sublime) ela pode superar a dor da separação.

No livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, a autora, Mary Baker Eddy, coloca um exemplo bastante curioso relacionado ao tema ora apresentado. Diz ela: “Uma mensagem errada, que por engano anuncia morte de um amigo, causa o mesmo pesar que a morte do amigo causaria. Pensas que tua angustia é causada por essa perda. Outra mensagem, que corrige o engano, cura teu pesar, e ficas sabendo que a tristeza fora apenas o resultado de tua crença” (p. 386).

O caso hipotético relatado mostra que a razão do sofrimento e comoção está enraizada na consciência das pessoas. Tão logo a raiz do sofrimento seja transplantada para um terreno mais espiritual, a tristeza perde força no coração e na mente das pessoas em sofrimento. Em permanecendo acesa a ideia de união de coração e mente, a tristeza pode ser vencida. Quer dizer que ela vai esquecer a pessoa que partiu? Não! Quer dizer que a colocou num patamar onde a tristeza é secundária e não pode assumir o controle emocional das pessoas. Contra as emoções edificantes da alegria, do entusiasmo, do ânimo e da felicidade a tristeza não tem vez. O amor que existiu antes continua depois e é responsável pela expressão de eternalidade no universo. Nessa atmosfera não há separação nem dor e aí podemos nos recolher. E poderemos com autoridade dizer com Eddy: “A tristeza não tem domínio sobre a alegria” (CeS, p. 304)


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