Sentimento
e comoção de pessoas enlutadas podem ser vencidos
Que
a tristeza não tenha fim, conforme é decantado na MPB, é o ponto de vista da
maioria das pessoas de algum modo envolvidas em casos de luto familiar. Eu
preferiria apor um ponto de interrogação na letra da música (“Tristeza não tem
fim...”), pois aceitar que o sentimento de tristeza não tenha fim acarreta
automaticamente o conceito correlato de que a felicidade tenha fim. Por índole
prefiro pensar como permanentes as qualidades boas de origem espiritual. A alegria
derivada da Alma, Deus, fortemente ligada à felicidade, é uma qualidade divina
expressada pelo homem, na sua identidade de filho de Deus.
A
Bíblia tem mensagens de consolo para os entristecidos. O profeta Isaías exortava seus abatidos contemporâneos com a
noção de que consolo do Senhor não era distante nem desconhecido: “Como alguém a quem sua mãe consola, assim Eu
vos consolarei e em Jerusalém vós sereis consolados” (Isa 66:13). Consolo e
conforto é o que uma pessoa de luto precisa, e saber que podemos contar com o
consolo de Deus-Pai-Mãe é busca-lo na fonte certa e perene. Quando chegarmos a
sentir e perceber que Deus está perto e chegado a nós, já poderemos sentir
alguma alegria de origem espiritual.
A
tristeza da partida de ente querido, a pesar de justificada humanamente, requer
certo cuidado para não ocultar um sentimento de pena de si mesmo, comiseração.
Já presenciei casos de extrema tristeza em que a pessoa em prantos dizia: “... e
agora quem vai cuidar de mim”. Essa senhora estava com pena de si mesma pois
sua vida poderia ficar pior a partir de então, no pensar dela, e por isso
chorava desconsoladamente. As pessoas em situação como esta não o fazem de
propósito, mas na mistura de sentimentos, muitas vezes, não sabem o que dizer.
Essa
questão de contrição e tristeza de alguém é algo que pode significar um
crescimento espiritual e psicológico, quando a pessoa reúne suas forças e
convicções para enfrentar corajosamente a situação deprimente; e conforme os
recursos invocados pode superar a tristeza. O pensamento de separação é o mais
forte no sentimento de
pesar. Então, se a pessoa conseguir sublimar seus pensamentos para a ideia de
que a morte não provocou separação espiritual, que ambos os seres continuam se
amando (agora com amor mais sublime) ela pode superar a dor da separação.
No
livro Ciência e Saúde com a Chave das
Escrituras, a autora, Mary Baker Eddy, coloca um exemplo bastante curioso
relacionado ao tema ora apresentado. Diz ela: “Uma mensagem errada, que por engano anuncia morte de um amigo, causa o
mesmo pesar que a morte do amigo causaria. Pensas que tua angustia é causada
por essa perda. Outra mensagem, que corrige o engano, cura teu pesar, e ficas
sabendo que a tristeza fora apenas o resultado de tua crença” (p. 386).
O
caso hipotético relatado mostra que a razão do sofrimento e comoção está
enraizada na consciência das pessoas. Tão logo a raiz do sofrimento seja
transplantada para um terreno mais espiritual, a tristeza perde força no
coração e na mente das pessoas em sofrimento. Em permanecendo acesa a ideia de
união de coração e mente, a tristeza pode ser vencida. Quer dizer que ela vai
esquecer a pessoa que partiu? Não! Quer dizer que a colocou num patamar onde a
tristeza é secundária e não pode assumir o controle emocional das pessoas. Contra
as emoções edificantes da alegria, do entusiasmo, do ânimo e da felicidade a
tristeza não tem vez. O amor que existiu antes continua depois e é responsável
pela expressão de eternalidade no universo. Nessa atmosfera não há
separação nem dor e aí podemos nos recolher. E poderemos com autoridade dizer
com Eddy: “A tristeza não tem domínio sobre a alegria” (CeS, p. 304)
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