Não é pecado tratarmos Deus com
intimidade: Papai do céu
Os
Cristãos que estudam a Bíblia encontram no livro sagrado muitas referências a
Deus. O nome do todo-poderoso é muitas vezes referido como o Senhor, para obedecer o Mandamento: “Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em
vão” (Êxodo 20:7). A leitura dos textos
bíblicos que incluem essa designação para Deus, como que deixa transparecer uma
certa conotação de distância entre o locutor e a divindade. O Senhor lá em
cima, e eu aqui em baixo; o Senhor no Seu reino divino e nós aqui na terra
instável.
O
Mestre Cristo Jesus, ao inaugurar a Nova Aliança—o Novo Testamento—trouxe à baila, ou melhor, reforçou o conceito de
Deus e homem unidos. Sua vida e sua pregação nos servem de exemplo e orientação.
Ele destacou o conceito de Deus como Pai, conceito esse mostrado algumas poucas
vezes no Antigo Testamento (Ver Salmo 2: 7: “Tu és meu filho, eu hoje te gerei”). Sempre que o texto sagrado
expõe um diálogo de Jesus Cristo com Deus, o tratamento é de Tu, Pai, eu, filho.
Nos momentos mais sagrados e até no momento extremo antes da crucificação, Jesus
sempre se dirigiu a Deus como Pai, um ser bem perto a ele: “Eu e o Pai somos um” (João 10:30), “Pai,... passa de mim esse cálice” (Mateus
26:39).
Quando deu aos seus
seguidores aquela conhecida oração que denominamos Pai-Nosso, estava dando-lhes
a lição que deveriam aprender e usar, qual seja, a de vermos a Deus como nosso
Pai. “Vós orareis assim” (Mat. 6: 9-15).
Ele até empregou a palavra “Aba,
pai” que, traduzido, corresponde ao tratamento Papai,
um Ente muito chegado a nós. Aliás a primeira frase da oração poderia ser
pensada assim: “Nosso
Papai, do céu...” Não estaremos cometendo
nenhum sacrilégio se dissermos a Oração do Senhor com esse predicado: Papai. Se
além de falarmos também sentirmos essa proximidade―essa união―a Deus com íntima
quietude, então a nossa oração terá para nós um resultado bom e abençoado. Por
certo é uma oração que atende a todas
as necessidades humanas.
Em sua obra Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, Mary Baker Eddy
expande ainda mais o conceito da união do homem com Deus, ao referir-se a Ele
como Mente. Diz ela:
“Deus é a Mente progenitora, e o homem é o
descendente espiritual de Deus”
(p.
336),
e depois acentua a
idéia:
“A
Mente, o Pai, não é o Pai da matéria” (p. 257).
Este esclarecimento nos
orienta a não tomarmos nossa condição humana como sendo o Filho do Espírito.
A
leitura da Bíblia feita com afinco e atenção pode trazer para nós muito consolo
e satisfação quando traduzimos o texto para nossa situação e a nossa
experiência, substituindo-se os nossos problemas humanos pela inspiração que
ocupa o lugar daqueles. No meu estudo da Bíblia sempre faço essa transposição
de texto para minha condição, substituindo a palavra bíblica referente a Deus
por PAI, e dando ao contexto a conotação
de diálogo: TU e eu. Outra modificação textual é a colocação dos verbos no
presente, pois o tempo futuro é incerto e o presente é agora e é certo: AGORA é
o tempo aceitável.
Dou como exemplo o conhecido e muito recitado Salmo 23. “O Senhor é meu Pastor, nada me faltará...”
Repetido ipsis litteris tem-se impressão de alguém, uma terceira pessoa, nos
falando de sua experiência. Na verdade era David falando de sua vivência e
inspiração. É comum ouvir-se a expressão: “Faço
minhas as palavras do orador...” De igual modo, quando estudo a Bíblia faço
minhas as palavras do texto e o resultado é uma “conversa” com o Pai, de significativo
valor espiritual e muita profundidade metafísica. Este exercício me serviu,
muitas vezes, de apoio espiritual durante momentos críticos em meio a algum
problema.
Dou
a seguir a tradução do Salmo 23 como gosto de pensar a respeito:
“Pai, Tu és meu pastor;
nada me falta.
Tu me fazes repousar em
pastos verdejantes. Tu me levas para junto de águas de descanso; Tu me
refrigeras a alma. Guias-me pelas veredas da justiça por amor de Teu nome.
Ainda que eu ande pelo
vale da sombra da morte, não temo mal nenhum, porque Tu estás comigo; o Teu
cajado e o Teu bordão me consolam.
Tu me preparas uma mesa
na presença dos meus adversários, unges-me a cabeça com óleo; o meu cálice transborda.
Tua bondade e misericórdia
certamente me seguem todos os dias de minha vida; e habito feliz sempre na Tua
casa eterna.”
Há
mais um modo de traduzir o texto do Salmo 23 dentro do mesmo critério e que
também pode espargir muita luz. Tome-se o texto sob a ótica de que Deus esteja
falando conosco como Pai carinhoso. Para mim esta atitude me fez pensar em Deus
como um Pai que já me concedeu Suas promessas e que as mantêm vigentes. Sinto
as palavras como ditas com muita doçura.
“Filho, Eu sou
teu pastor e Pai; nada te deixo faltar.
Eu te faço repousar em pastos verdejantes. Levo-te para junto
de águas de descanso; Eu te refrigero a alma. Guio-te pelas veredas da justiça
porque isso me agrada.
Ainda que pareças andar pelo vale da sombra da morte, não
precisas temer mal nenhum, porque Eu estou contigo; Meu cajado e Meu bordão te
consolam.
Eu te preparo uma mesa na presença dos teus “adversários” e
te unjo a cabeça com óleo; teu cálice transborda.
Minha bondade e misericórdia certamente te seguem todos os
dias de tua vida, e habitas sempre na Minha casa.”
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